sexta-feira, setembro 14, 2007

Essa é Ótima!

Resolvi escrever algumas mensagens para os senadores a respeito do caso Renan e então acessei as páginas pessoais de figuras como Almeida Lima (PMDB-SE), Tião Viana (PT-AC) e do próprio Renan (PMDB-AL), dentre outros.
Sensacional é a capa do site do presidente do senado. Reproduzo o texto, com alguns comentários em negrito e itálico.

"Depois de inocentado no plenário do Senado Federal, o senador Renan Calheiros passou a receber milhares (milhares??? hmmmm...) de mensagens de parabenizações (parabenizações???), vindas de diversas partes do País (essa parte é de verdade. Tem fax e carta da OAB de Arapiraca, do Jogelson de Palmeira dos Índios, tem mensagem de Arraias, Santana do Ipanema, dentre outras metrópoles!). São mensagens de cidadãos, instituições públicas e privadas, organizações da sociedade civil e outros.
O volume de mensagens de felicitações é tão grande que a caixa de e-mail do senador não teve capacidade de receber todas (essa parte foi a que eu mais gostei... puxa, fico imaginando a quantidade de elogios e congratulações que o senador deve ter recebido de todo o Brasil. É um herói!!!). Vamos disponibilizar, diáriamente, algumas mensagens (porque só algumas? Publiquem todas!), como uma forma de agradecimento, pelo apoio e força de todas as pessoas que defendem a justiça. (é verdade. Essas pessoas querem apenas justiça e por isso escrevem frases como "Agora lute contra os caluniadores da imprensa e faça uma limpeza nesse órgão da pátria que está todo infectado" ou então "Mas (sic) uma vez a mídia, perdeu, e por falar nisso, eu quero CPI da VEJA")
Para ler a notícia toda, acesse o link: http://www.senado.gov.br/web/senador/RenanCalheiros/default.asp

Boa diversão!

PS.: Se quiserem se divertir ainda mais, acessem a página do senador Almeida Lima (citei uma frase dele no post abaixo) e leiam a riqueza de argumentos em favor do voto fechado no Congresso ou mesmo seu artigo incrivelmente intitulado "Sede de Justiça"!!! O endereço é: www.almeidalima.com.br

quarta-feira, setembro 12, 2007

Renan Absolvido

Por 40 a 35 votos, com 6 abstenções, o Senador da República pelo estado de Alagoas, Renan Calheiros, foi absolvido no processo de cassação.
O presidente do Senado tinha as contas de uma filha nascida de uma relação extra-conjugal pagas secretamente por uma empreiteira com interesses no governo. O senador falsificou notas fiscais para tentar provar sua inocência, beneficiou empresas, utilizou "laranjas" para comprar estações de rádio e seu gado é o mais valorizado do Brasil. Apesar de tudo, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, disse que "foi feita justiça" na votação e concluiu dizendo que "Acima de tudo, foi uma vitória do Senado Federal, que passou por maus momentos durante 120 dias. Saímos fortalecidos".
A frase acima representa a descomunal distância existente entre parte do Congresso Nacional e o povo. Resta-nos desejar profundamente que o eleitor deixe de eleger desvairados e dementes ensandecidos para cargos tão importantes, como as cadeiras do Senado Federal.
Não, senhor Almeida Lima, o Senado não venceu.

Carta às senadoras e aos senadores da República

Fonte: Portal da revista Veja
Autor: Reinaldo Azevedo

"Excelências,

É certo que o país é maior e mais importante do que a votação de logo mais; seria injusto com o Brasil e com os brasileiros que se tomasse o resultado ou como uma sentença de condenação ou como o augúrio de um novo tempo, em que, então, todas as iniqüidades estarão vencidas, com a constituição de uma República só de justos. A história não se faz assim.

Se o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) preservar o seu mandato, a história não chega a termo, num fim trágico; se for cassado, não teremos vencido todas as nossas mazelas. Mas cumpre que Vossas Excelências tenham muito claro: sua resposta ao relatório dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) dirá em que país pretendem viver e em que país pretendem que vivamos nós, os brasileiros corriqueiros; aqueles que não representam, mas que são representados; aqueles que lutam cotidianamente para ter uma vida digna, decente, honesta, esforçando-se para passar aos filhos esses mesmos valores. Somos um povo honrado, senhores senadores. O voto de cada um dos senhores dirá quão veloz a Casa espera que o país se encontre não com o seu destino — que isso costuma ser retórica vazia —, mas com suas reais possibilidades.

Não, vocês não são homens e mulheres perfeitos — e nenhum de nós é. Não, vocês não são homens e mulheres sem pecados — e nenhum de nós é. Sim, vocês são demasiadamente humanos — e todos nós somos. Por isso mesmo, porque somos todos falíveis, precisamos de instituições fortes, respeitadas, alçadas acima das nossas vontades mesquinhas, para nos pôr freios, para nos advertir dos limites, para nos indicar os caminhos. O senador ou senadora da República não estará julgando transgressões ou vícios privados; não estará arbitrando sobre as escolhas morais de cada um; não estará legislando sobre as falhas de todos nós. Atenção, Excelências: os Senhores e as Senhoras estarão dizendo qual é a tolerância para transgredir os limites das instituições.

Sim, este texto assume um tom mais grave do que o habitual. Porque há a hora, Senhoras e Senhores, em que precisamos ser graves. Esse texto apela a uma certa retórica passadista. Porque há a hora, Senhoras e Senhores, em que precisamos apostar no futuro lembrando que temos um passado — a Casa em que vocês estão tem história. Este texto não busca fazer com que vocês se indignem com crimes; antes os quer amantes exaltados da instituição e procuradores do decoro. O decoro que faz homens e mulheres, mesmo imperfeitos, dignos desta Casa — mormente se pretendem presidi-la.

O líder tem o dever do exemplo; o líder é o farol e é o guia; o líder é o que avança com coragem contra as dificuldades. E, pois, não lidera quem já não pode ser exemplar; não lidera quem faz de meias-verdades mistificações inteiras; não lidera quem se escuda em privilégios que foram conferidos pelo voto para negar a essência da representação.

Todas as possibilidades de defesa, sabem bem Vossas Excelências, foram dadas ao senador Renan Calheiros. De todas as formas possíveis em que leis, códigos, regimentos, tradições puderam ser usados em seu benefício, eles o foram. Na presidência do Senado, cargo que fez questão de manter, mobilizou a estrutura da Casa em seu benefício.

Infelizmente, o senador Renan Calheiros confundiu obstinação com moral reta; desqualificação adjetiva de provas com inocência; a denúncia de complôs fantasiosos com a expressão pura da verdade.

Nessa trajetória, não ia apenas degradando o mandato que lhe conferiu o povo de Alagoas. Não! Era a própria presidência do Senado — e, portanto, a instituição — que se ia, pouco a pouco, aviltando, pequena, acrisolada na mediocridade defensiva, tolhida por uma impressionante avalanche de meias-explicações e personagens obscuras sempre se esgueirando nas sombras de uma legalidade precária, duvidosa. Renan arrastava consigo a história do Poder Legislativo.

Parafraseando Karl Marx a comentar as desventuras de Luís Bonaparte, o senador Renan Calheiros tornou-se vítima de sua própria concepção de mundo: o bufão sério não tomou a história do Senado como uma comédia, mas a sua própria comédia como se fosse a história do Senado. Preservem-se, Senhoras e Senhores, desse fatalismo místico com que ele pretende revestir a sua resistência. Renan está certo de que há certas forças às quais um senador da República jamais resiste: o poder, o prestígio, as glórias de ser amigo do rei. Cumpre que Vossas Excelências, hoje, lhe digam o contrário. E isso significará ao conjunto dos brasileiros um sinal de esperança; uma aposta num futuro mais digno; um gesto presente demonstrando que, nessa Casa, nem tudo é permitido.

O resultado da votação de hoje dirá a disposição que os membros dessa Casa têm de estabelecer um diálogo franco, aberto, honesto, com a sociedade — ou, pelo avesso, o seu estado de alienação, de alheamento, de verdadeiro divórcio entre as expectativas de um povo honrado e seus representantes. Olhem à sua volta. Por que tantas medidas de segurança? Por que tantas proibições, tantas interdições, tanto esforço para tolher a comunicação? A consciência de cada senador não reside no silêncio dos cemitérios, mas na história viva do povo que ele representa. Ao se proibirem celulares e computadores, não se quer fazer de Vossas Excelências bons juízes; antes, faz-se um esforço para impedir que o Brasil entre nessa Casa.

Dêem uma chance ao Brasil e dêem uma chance ao próprio homem Renan Calheiros dizendo: “Vossa Excelência, como senador da República, errou. E aqui julgamos o senador, não o homem”.

Finalmente, lembro que Renan, numa frase infeliz, disse ter sido vítima dos excessos da democracia. Foi um mau professor. Mas eu lhes ofereço um bom: Tocqueville, em A Democracia na América, afirmou que os males da liberdade se corrigem com ainda mais liberdade.

Aprendamos, então, a ser livres."