Encontrei no Portal da AFP - Agence France-Presse, uma explicação bem didática sobre os nomes que os metereologistas dão para os furacões. Resumidamente as tempestades eram batizadas com os nomes dos santos dos dias em que tocavam o solo. Mais tarde, militares americanos começaram a batizar os furacões com nomes de suas amigas ou mulheres e a moda foi oficializada em 1953. Em 1979 os metereologistas introduziram nomes masculinos. O processo é simples: existem seis listas com 21 nomes, de A a W, para a bacia do Atlântico e seis com 23 nomes, de A a Z, para a do Pacífico Norte-oriental (a costa americana), e o uso é rotativo, isto é, os nomes utilizados em 2005 voltarão a ser usados em 2011. No caso do Atlântico, se a quantidade de furacões em um ano superar os 21, a identificação continua adiante utilizando as letras do alfabeto grego: Alfa, Beta, Gama, Delta etc. Dessa forma, nomes como Tony e Helene, furacões formados em 2006, poderão voltar à cena em 2012.
Feita esta elucubração, pensava sobre o nome da Operação da Polícia Federal que desbaratou ou está tentando desbaratar a quadrilha formada para executar um esquema de venda de sentenças para beneficiar a máfia de jogos: Hurricane, furacão em inglês.
O Brasil é um país que consegue criar situações tão inusitadas que custa muito a um observador de fora conseguir entender. Se os desafios à lógica estivessem exclusivamente circunscritos ao terreno formal das relações de trabalho, poder, políticas, partidárias, dentre outras, talvez ainda fosse razoável imaginar que aqueles que vivem em outros países compreenderiam, por exemplo, o fato de que o “P” da CPMF deixasse de ser Provisória e passasse a ser Permanente. Com algum esforço também poderiam entender o fato de que os membros do partido que sempre representou a bandeira da ética, tivessem criado sua própria quadrilha e pilhado os cofres públicos com tamanha devassidão corrupta e, ainda assim, seu líder maior fora reeleito nos braços do povo para mais quatro anos de mandato. Mesmo que difícil, com um pouco mais de esforço, podem ao menos imaginar quais as razões que fizeram com que o orçamento dos Jogos Pan-americanos tivesse estourado em mais de 700%. Seria difícil tentar explicar para um alemão que somente a reforma do Maracanã tenha custado o mesmo que a construção inteira de um daqueles estádios ultra modernos da Copa do Mundo do ano passado. Certas coisas parecem tão inusitadas que são muito difíceis de serem explicadas.
Dessa forma, se eu tivesse que explicar a um metereologista de qualquer outro país como é que conseguimos criar uma nova categoria de batismo para furacões, creio eu que meu intento seria em vão. Ora, todos sabem agora que nossos furacões, aqueles “empresários” do jogo, juízes, policiais e demais membros do Estado brasileiro envolvidos com a praga da corrupção, já têm seus novos nomes. João, José, Oscar, Evandro, Ernesto, Jaime... Todos eles têm sobrenome e endereço fixo e muitos pareciam profissionais ilibados: Juízes, desembargadores, policiais, enfim, uma miríade de funções criadas para defender as liberdades civis, o Estado democrático de direito, a Justiça e os Cidadãos.
Sempre fui fascinado pelos furacões. Via neles um misto de força e poder indestrutíveis e, ao mesmo tempo, um fenômeno belo, único e absolutamente sublime. O olho de um furacão é uma imagem extraordinária e ao vê-lo “olhando” para mim, invariavelmente sinto algum tipo de emoção inexplicável. É evidente que um morador de uma ilha do caribe que tivera sua casa devastada por um choque de ar há mais de 200 km por hora se sentiria injuriado com esta minha frase, mas vá lá, não há como negar que, de longe, existe um efeito estético deslumbrante nessas tempestades. Ano passado, uma foto de Sandy, um furacão formado no Atlântico, me deixou extasiado. Ela era absolutamente linda, poderosa, impassível e única. Apaixonei-me por aquela imagem e a guardei no meu laptop para que sua visão fosse para mim uma brisa de beleza e um sopro de inspiração (sem trocadilhos).
Pois bem, certos brasileiros estragam tudo o que é bonito e, mais uma vez, quando penso nos furacões, na Sandy e em seus efeitos, não consigo mais visualizar seu olho negro e imponente em meio às nuvens nervosas que giram à sua volta. Observar Furacão no Brasil agora ficou fácil: basta ligar a TV e ler os jornais. A diferença é que, ainda que continuem destruindo o que pode existir à sua volta, estes nos escondem seus olhos.
sexta-feira, abril 20, 2007
quarta-feira, abril 18, 2007
Eu Pago o Pato
Compreendo que alguns alunos se sintam ansiosos para ter os resultados das avaliações, porém peço um pouco mais de paciência, pois somente terminarei de corrigir tudo no próximo final de semana. O problema é que gosto muito de ler o que vocês escrevem e, neste sentido, observar como anda a capacidade de articulação e construção de raciocínios por meio da escrita. Isso é muito importante. Não desejo que sejam literatos, porém devemos manter um certo nível de exigência e um padrão da escrita formal que gostaria de perseguir junto de vocês.
Sempre quando penso nisso, me lembro das histórias de Rui Barbosa. Para quem não se lembra, Rui Barbosa foi um dos mais ilustres personagens de nossa história, naquele tempo em que a inteligência ainda era valorizada e bonito era ser intelectual, formador de opiniões e um excelente orador. Rui Barbosa era tudo isso e muito mais: um excelente jurista, grande jornalista, defensor da liberdade de imprensa e das liberdades civis. Presidente da Academia Brasileira de Letras, candidato à presidência da República em duas ocasiões e Juiz da Corte Internacional de Haia. Apesar de não ser um conhecedor profundo de suas obras, aprecio muito sua forma de articular seus pensamentos e sua visão moderna sobre o mundo.
Em 1865 escreveu: "A primeira verdade dos governos livres é que a responsabilidade deve estender-se igualmente por todos os graus da hierarquia governamental. Todo aquele que, revestido de autoridade, exerce mediata ou imediatamente qualquer função pública, desde o agente de polícia até os mais altos funcionários do estado, não pode evitar a responsabilidade de seus atos perante os tribunais ou perante a nação." Bem atual, não é mesmo?
Contudo, gosto especialmente desta frase, cuja data desconheço:
"O poder não é um antro; é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação, têm por suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país."
Faz falta neste momento de nossa história uma figura como Rui Barbosa. Os brasileiros parecem resignados com um destino medíocre de assistencialismo, com negociações espúrias, corrupção, cinismo generalizado e com essa mania de querer sempre menos, mesmo quando podem ter mais.
Conhecido por sua intelectualidade e profundo conhecedor da Língua Portuguesa, reza a lenda que em um fim de tarde, ao chegar a sua casa, Rui Barbosa ouviu um barulho estranho vindo de seu quintal.Chegando lá, constatou que havia um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo, surpreendendo-o tentando pular o muro com seus amados patos. Batendo nas costas do tal invasor, disse-lhe:
“Ô bucéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmíferes e sim pelo ato vil e sorrateiro de galgares as profanas de minha residência. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha
alta prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de sua sinagoga que reduzir-te-á à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.”
E o ladrão, confuso, disse:
- Ô moço, afinal, eu levo ou deixo os patos?
O problema desta história é que não se sabe qual a resposta de Rui Barbosa para o meliante.
Não sei vocês, mas eu não roubo e por isso tenho a sensação de que pago o pato.
Sempre quando penso nisso, me lembro das histórias de Rui Barbosa. Para quem não se lembra, Rui Barbosa foi um dos mais ilustres personagens de nossa história, naquele tempo em que a inteligência ainda era valorizada e bonito era ser intelectual, formador de opiniões e um excelente orador. Rui Barbosa era tudo isso e muito mais: um excelente jurista, grande jornalista, defensor da liberdade de imprensa e das liberdades civis. Presidente da Academia Brasileira de Letras, candidato à presidência da República em duas ocasiões e Juiz da Corte Internacional de Haia. Apesar de não ser um conhecedor profundo de suas obras, aprecio muito sua forma de articular seus pensamentos e sua visão moderna sobre o mundo.
Em 1865 escreveu: "A primeira verdade dos governos livres é que a responsabilidade deve estender-se igualmente por todos os graus da hierarquia governamental. Todo aquele que, revestido de autoridade, exerce mediata ou imediatamente qualquer função pública, desde o agente de polícia até os mais altos funcionários do estado, não pode evitar a responsabilidade de seus atos perante os tribunais ou perante a nação." Bem atual, não é mesmo?
Contudo, gosto especialmente desta frase, cuja data desconheço:
"O poder não é um antro; é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação, têm por suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país."
Faz falta neste momento de nossa história uma figura como Rui Barbosa. Os brasileiros parecem resignados com um destino medíocre de assistencialismo, com negociações espúrias, corrupção, cinismo generalizado e com essa mania de querer sempre menos, mesmo quando podem ter mais.
Conhecido por sua intelectualidade e profundo conhecedor da Língua Portuguesa, reza a lenda que em um fim de tarde, ao chegar a sua casa, Rui Barbosa ouviu um barulho estranho vindo de seu quintal.Chegando lá, constatou que havia um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo, surpreendendo-o tentando pular o muro com seus amados patos. Batendo nas costas do tal invasor, disse-lhe:
“Ô bucéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmíferes e sim pelo ato vil e sorrateiro de galgares as profanas de minha residência. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha
alta prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de sua sinagoga que reduzir-te-á à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.”
E o ladrão, confuso, disse:
- Ô moço, afinal, eu levo ou deixo os patos?
O problema desta história é que não se sabe qual a resposta de Rui Barbosa para o meliante.
Não sei vocês, mas eu não roubo e por isso tenho a sensação de que pago o pato.
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