Fonte: Folha Online
Texto: GABRIELA GUERREIRO
"O ministro da Defesa, Waldir Pires, minimizou nesta quarta-feira a crise no controle do tráfego aéreo do país. Ele atribuiu os problemas recentes no setor às falhas nos equipamentos e aos recursos humanos, numa referência indireta aos controladores de tráfego aéreo. O ministro considerou a crise como normal.
"Em países em desenvolvimento, essa é a rotina", afirmou, ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir o caos aéreo.
Pires disse que o governo vai solucionar crise e que está aprimorando os diagnósticos para impedir novos atrasos nos vôos. "Os fatores são definidos ao meu juízo em procedimento de gestão que determinaram ocorrências. Não há por que deixarem de serem reordenadas e postas a serviço do povo brasileiro."
O ministro saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há duas semanas desautorizou o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, a dar ordem de prisão para os controladores amotinados no Cindacta-1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília.
"Quando o presidente assume uma posição, ele assume como titular da soberania popular. Quando ele assume o comando supremo das Forças Armadas, ele tem o mandato oriundo de cada cidadão do Brasil. É a mais alta voz do Brasil, assume legitimamente."
Pires também disse que Lula agiu de forma correta ao designar o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) para negociar com os controladores e colocar fim ao motim ocorrido no fim de março --o mais grave do setor e que por, aproximadamente cinco horas, praticamente paralisou as decolagens no país. "Quando o presidente atribui diretamente a outros ordens de presença nas instituições, ele faz isso com legitimidade."
Participam também da audiência pública na Câmara dos deputados os presidentes da Infraero (estatal que administra os aeroportos), José Carlos Pereira, da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, além de Pires e Saito.
Crise
O pior episódio da crise ocorreu no dia 30 de março, quando controladores de tráfego aéreo paralisaram as atividades por cerca de cinco horas. O movimento começou no Cindacta-1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília, e se espalhou para outras regiões do país.
Na ocasião, o governo federal chegou a firmar um acordo com os amotinados, mas recuou. Eles, agora, são investigados por suspeita de insubordinação.
Desde o final do ano passado, passageiros enfrentam constantes atrasos e cancelamentos de vôos. Inicialmente, os problemas foram causados pela operação-padrão dos controladores, que restabeleceram à força parâmetros internacionais de segurança. O Cindacta-1 sofria com a falta de controladores, pois alguns tinham sido afastados pelas investigações sobre a queda do Boeing da Gol, ocorrida em setembro.
Depois, falhas em equipamentos passaram a contribuir para aumentar a espera nos aeroportos. Desde março, o aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo), um dos maiores do país, pára sempre que chove forte, pois a pista auxiliar está fechada para reformas e a principal tem graves problemas de escoamento."
quarta-feira, abril 11, 2007
O super-Lula da pesquisa: o que isso quer dizer?
O texto abaixo é do Blog de Reinaldo Azevedo. Pessoalmente adoro quando os jornalistas são assim: diretos e críticos. No caso do Reinaldo Azevedo, já escrevi isso em outra ocasião, existe um padrão muito alto na qualidade e no estilo com que se comunica com seus leitores. Ele, antes de tudo, é um polêmico. Leiam o texto:
"Segue síntese do Estadão On Line sobre os números da pesquisa CNT-Sensus. Volto em seguida:
Lula
O índice de aprovação do presidente foi o melhor desde fevereiro de 2005 (66,1%) e ficou em 63,7% contra 59,3%, em agosto de 2006, data da última pesquisa. A desaprovação ao desempenho de Lula também caiu, para 28,2%, ante 32,5% em agosto de 2006, também a menor desde fevereiro de 2005.
Governo Lula
O levantamento apontou ainda um aumento na avaliação do governo, que foi para 49,58%, a terceira melhor da série. Em agosto de 2006, a aprovação estava em 43,6%. O porcentual dos que desaprovam a gestão de Lula caiu para 14,6%, o menor índice desde fevereiro de 2005. Para 54,8% dos entrevistados, o segundo mandato do presidente vai ser melhor do que o primeiro. Para 19,6%, será pior e 18,7% acreditam que será igual.A avaliação regular do governo também caiu, de 39,5% para 34,3%.
Apoio partidário e ministérios
A exigência dos partidos políticos de participar dos ministérios em troca de apoio ao governo no Congresso conta com a aprovação de 37,5% dos entrevistados, contra 40,8% que discordam.
Violência
Para 90,9% dos entrevistados, a violência no Brasil aumentou nos últimos anos. Apenas 5,2% discordaram. Os que consideram a cidade onde vivem violenta ou muito violenta chegam a 34,8%. Já 38,3% acham sua cidade pouco ou nada violenta.
Sobre as causas da violência, 24,1% apontaram a pobreza e a miséria. Praticamente empatados, a Justiça e o tráfico de drogas aparecem, com 19,1% e 19%, respectivamente. As leis brandas têm 15%; a corrupção policial, 11% e a falta de policiamento, 7,6%.
A pesquisa mostra ainda que para 29,9% da população cabe ao governo federal agir em relação à violência urbana, enquanto que 16,7% consideram essa responsabilidade do governo estadual e 12,6% da administração municipal.
Pena de morte e idade penal
Houve crescimento dos que são a favor da pena de morte: 49%, ante 46,7% em maio de 2003. Os contrários somaram 46%, ante 49,7% em maio de 2003. Já sobre a redução da idade penal para 16 anos, 81,5% foram favoráveis, contra 88,1% em dezembro de 2003. Os contrários à redução subiram de 9,3% para 14,3%.
Emprego e renda
Emprego e renda estão entre as prioridades que devem ser enfrentadas no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo 26,3% dos entrevistados. Saúde Pública aparece em segundo lugar, com 25,7%; seguida de Segurança Pública, 18,2%; Educação, 16,7%; Previdência Social, 5,5%; Defesa Nacional, 2,9% e Inflação, 1,7%.
Programas sociais
Os programas sociais do governo são conhecidos por 56,8% dos entrevistados. Desse total, 15,3% são beneficiários dessas iniciativas e 40,7% dizem não conhecer pessoas que sejam beneficiadas pelo programa.
Para 66% dos entrevistados, os programas são positivos, ajudam à população e levam ao desenvolvimento. Já 27,0% classificam os projetos sociais como negativos por não resolverem os problemas nem gerarem desenvolvimento.
PAC
Apesar de ser o carro-chefe do segundo mandato do governo Lula, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda é bastante desconhecido. O levantamento mostra que 59% dos entrevistados nunca ouviram falar do PAC, enquanto apenas 32,2% acompanham ou ouviram falar sobre o assunto.
Apenas 18,6% dos entrevistados acreditam que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Já entre os que têm informações sobre o PAC, esse índice sobe para 57,9% contra 24,7% que não acreditam que o programa vai acelerar o crescimento.
Selic
A redução da taxa básica de juros nos últimos seis meses aumentaram a disposição de 22% dos entrevistados para fazer compras a prazo. Mas, para 65,4%, a redução da Selic não aumentou a disposição para fazer novos financiamentos.
Entre os que disseram que houve aumento na disposição de compras a prazo, 48,4% efetivamente aumentaram suas compras, enquanto 46,8% não aumentaram.
A pesquisa mostra ainda que, do universo dos entrevistados dispostos a fazer compras a prazo, a preferência é por aquisições de eletrodomésticos, com 28% do total. A casa própria foi o segundo item mais citado, com 23,9%. Material de construção e carro aparecem na seqüência com 15% e 11,1%, respectivamente.
Crise aérea
O governo federal foi apontado como o principal responsável pela crise aérea no País. Pesquisa CNT-Sensus mostra essa constatação para 21,2% dos entrevistados. Tomando por base apenas os entrevistados que tiveram contato com o assunto (acompanham ou ouviram falar), esse número sobe para 25,8%.
Voltei (ele, Reinaldo Azevedo)
Para muitos dos que não gostam do governo Lula, os números talvez sejam um tanto desanimadores. Mas eles são absolutamente explicáveis. Mais do que isso: são razoáveis. Eu não esperava nada muito diferente disso. É isto, leitor amigo: conforme-se em ser minoria no Brasil por um bom tempo. O sonho da massa revoltada contra o poder despótico é uma ilusão ou uma tara de esquerda. A maioria da população, em situação de normalidade democrática, é assim mesmo: apática, abúlica e gosta de quem está no comando. Irrupções revolucionárias, só para citar o ponto extremo do desagrado da massa com os governantes, são sempre coisa de minorias e jamais são bem-sucedidas se uma fatia do próprio poder dominante não resolve trair as suas origens. Os historiadores, inclusive os marxistas, sabem disso. Mas criam o mito da resistência popular. Pura balela.
Lula foi reeleito há pouco mais de cinco meses e começou o segundo mandato há pouco mais de três: chegou lá com dois terços do eleitorado e, com pequena variação, ainda os conserva. A rigor, não há razão para ter perdido o apoio daqueles que o reelegeram. Aquele país ainda é o mesmo, com uma ou outra notícia “positiva” a mais, como o PIB recontado e o dólar no buraco, o que enche, acreditem, uma parte importante dos brasileiros de orgulho.
A craca assistencialista grudou na política brasileira, e não será fácil tirá-la, mormente porque as oposições são muito tímidas no país — e tendem a se intimidar ainda mais diante de pesquisas como essa. Querem números exemplares do que estamos vivendo? Dizem conhecer os tais “programas sociais” 56,8% dos entrevistados. Mas 66% os aprovam. Aprovam o quê? A propaganda. Com isso, não quero dizer que os programas não existam. Existem, é claro. Mas são uma abstração para uma boa parcela dos entrevistados — e, pois, dos brasileiros.
Acompanhem: quantos beneficiários, leitor, você conhece do Bolsa Família? A exemplo deste escriba, a resposta é quase certa: nenhum — fazemos parte daqueles 40,7%. Pior: integramos o grupo dos 27% que consideram que eles não respondem ao desafio do desenvolvimento. Estamos na contramão da “doxa”. E agora? Vejam só: Lula inventou o tal PAC para a parcela mais informada da população, que resiste a seus encantos. Nada menos de 59% dos entrevistados — e é provável que todos eles estejam entre os dois terços que o apóiam — nem sabem que diabo é isso. Só 18,6% acham que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Vejam só: se Lula nunca mais tocar nesse assunto, vai decepcionar pouca gente.
E a crise aérea? Como é possível que ela não afete a imagem de Lula? É possível. Ele governa ou para o país que anda de carroça (metáfora) ou para o que compra avião — jamais para o que apenas anda de avião. E não vai abandonar essa clivagem. No médio e no longo prazos, essa administração medíocre do país vai fazer diferença, cobrar a sua fatura? Vai. As políticas públicas têm um tempo de maturação que não é o mesmo do julgamento da opinião pública. Imaginem se FHC tivesse feito tudo o que PT queria nos seus dois primeiros mandatos... Imaginem um país com a economia ainda mais fechada, atolado no endividamento das estatais. Que governo o PT estaria fazendo agora?
Não duvidem: os que não compactuam com o lulo-petismo terão de comer poeira por um bom tempo. É da natureza do jogo. Mais ainda: têm de se organizar para não continuar a comê-la, coisa de que não estou bem certo de que saibam fazer. Penso, por exemplo, nas 3,4 milhões de pessoas jurídicas que integram o MSP — Movimento dos Sem-Político (na verdade, considerando familiares e tal, talvez o dobro disso). Quem fala por eles? Quem vocaliza suas angústias? As oposições, no Brasil, cometem a delicadeza de jogar fora o público que têm ambicionando aquele que jamais terão, porque seduzidos pelo petismo e suas “conquistas”.
Lula navega numa onda extremamente favorável, que só existe porque governos anteriores se negaram a seguir a receita do petismo — que, uma vez no poder, demonstrou não ter receita nenhuma, a não ser, de um lado, acomodar interesses, e, de outro, manter azeitada uma máquina assistencialista inédita. Até que seus erros de agora não comecem a cobrar a sua fatura, vai tocando a vida sem muitos percalços. Mas atenção: mesmo esses erros só passarão a ter importância se transformados em luta política, coisa que as oposições não conseguiram fazer até agora."
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Portal da Revista Veja
Publicado em 10 de abril de 2007
"Segue síntese do Estadão On Line sobre os números da pesquisa CNT-Sensus. Volto em seguida:
Lula
O índice de aprovação do presidente foi o melhor desde fevereiro de 2005 (66,1%) e ficou em 63,7% contra 59,3%, em agosto de 2006, data da última pesquisa. A desaprovação ao desempenho de Lula também caiu, para 28,2%, ante 32,5% em agosto de 2006, também a menor desde fevereiro de 2005.
Governo Lula
O levantamento apontou ainda um aumento na avaliação do governo, que foi para 49,58%, a terceira melhor da série. Em agosto de 2006, a aprovação estava em 43,6%. O porcentual dos que desaprovam a gestão de Lula caiu para 14,6%, o menor índice desde fevereiro de 2005. Para 54,8% dos entrevistados, o segundo mandato do presidente vai ser melhor do que o primeiro. Para 19,6%, será pior e 18,7% acreditam que será igual.A avaliação regular do governo também caiu, de 39,5% para 34,3%.
Apoio partidário e ministérios
A exigência dos partidos políticos de participar dos ministérios em troca de apoio ao governo no Congresso conta com a aprovação de 37,5% dos entrevistados, contra 40,8% que discordam.
Violência
Para 90,9% dos entrevistados, a violência no Brasil aumentou nos últimos anos. Apenas 5,2% discordaram. Os que consideram a cidade onde vivem violenta ou muito violenta chegam a 34,8%. Já 38,3% acham sua cidade pouco ou nada violenta.
Sobre as causas da violência, 24,1% apontaram a pobreza e a miséria. Praticamente empatados, a Justiça e o tráfico de drogas aparecem, com 19,1% e 19%, respectivamente. As leis brandas têm 15%; a corrupção policial, 11% e a falta de policiamento, 7,6%.
A pesquisa mostra ainda que para 29,9% da população cabe ao governo federal agir em relação à violência urbana, enquanto que 16,7% consideram essa responsabilidade do governo estadual e 12,6% da administração municipal.
Pena de morte e idade penal
Houve crescimento dos que são a favor da pena de morte: 49%, ante 46,7% em maio de 2003. Os contrários somaram 46%, ante 49,7% em maio de 2003. Já sobre a redução da idade penal para 16 anos, 81,5% foram favoráveis, contra 88,1% em dezembro de 2003. Os contrários à redução subiram de 9,3% para 14,3%.
Emprego e renda
Emprego e renda estão entre as prioridades que devem ser enfrentadas no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo 26,3% dos entrevistados. Saúde Pública aparece em segundo lugar, com 25,7%; seguida de Segurança Pública, 18,2%; Educação, 16,7%; Previdência Social, 5,5%; Defesa Nacional, 2,9% e Inflação, 1,7%.
Programas sociais
Os programas sociais do governo são conhecidos por 56,8% dos entrevistados. Desse total, 15,3% são beneficiários dessas iniciativas e 40,7% dizem não conhecer pessoas que sejam beneficiadas pelo programa.
Para 66% dos entrevistados, os programas são positivos, ajudam à população e levam ao desenvolvimento. Já 27,0% classificam os projetos sociais como negativos por não resolverem os problemas nem gerarem desenvolvimento.
PAC
Apesar de ser o carro-chefe do segundo mandato do governo Lula, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ainda é bastante desconhecido. O levantamento mostra que 59% dos entrevistados nunca ouviram falar do PAC, enquanto apenas 32,2% acompanham ou ouviram falar sobre o assunto.
Apenas 18,6% dos entrevistados acreditam que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Já entre os que têm informações sobre o PAC, esse índice sobe para 57,9% contra 24,7% que não acreditam que o programa vai acelerar o crescimento.
Selic
A redução da taxa básica de juros nos últimos seis meses aumentaram a disposição de 22% dos entrevistados para fazer compras a prazo. Mas, para 65,4%, a redução da Selic não aumentou a disposição para fazer novos financiamentos.
Entre os que disseram que houve aumento na disposição de compras a prazo, 48,4% efetivamente aumentaram suas compras, enquanto 46,8% não aumentaram.
A pesquisa mostra ainda que, do universo dos entrevistados dispostos a fazer compras a prazo, a preferência é por aquisições de eletrodomésticos, com 28% do total. A casa própria foi o segundo item mais citado, com 23,9%. Material de construção e carro aparecem na seqüência com 15% e 11,1%, respectivamente.
Crise aérea
O governo federal foi apontado como o principal responsável pela crise aérea no País. Pesquisa CNT-Sensus mostra essa constatação para 21,2% dos entrevistados. Tomando por base apenas os entrevistados que tiveram contato com o assunto (acompanham ou ouviram falar), esse número sobe para 25,8%.
Voltei (ele, Reinaldo Azevedo)
Para muitos dos que não gostam do governo Lula, os números talvez sejam um tanto desanimadores. Mas eles são absolutamente explicáveis. Mais do que isso: são razoáveis. Eu não esperava nada muito diferente disso. É isto, leitor amigo: conforme-se em ser minoria no Brasil por um bom tempo. O sonho da massa revoltada contra o poder despótico é uma ilusão ou uma tara de esquerda. A maioria da população, em situação de normalidade democrática, é assim mesmo: apática, abúlica e gosta de quem está no comando. Irrupções revolucionárias, só para citar o ponto extremo do desagrado da massa com os governantes, são sempre coisa de minorias e jamais são bem-sucedidas se uma fatia do próprio poder dominante não resolve trair as suas origens. Os historiadores, inclusive os marxistas, sabem disso. Mas criam o mito da resistência popular. Pura balela.
Lula foi reeleito há pouco mais de cinco meses e começou o segundo mandato há pouco mais de três: chegou lá com dois terços do eleitorado e, com pequena variação, ainda os conserva. A rigor, não há razão para ter perdido o apoio daqueles que o reelegeram. Aquele país ainda é o mesmo, com uma ou outra notícia “positiva” a mais, como o PIB recontado e o dólar no buraco, o que enche, acreditem, uma parte importante dos brasileiros de orgulho.
A craca assistencialista grudou na política brasileira, e não será fácil tirá-la, mormente porque as oposições são muito tímidas no país — e tendem a se intimidar ainda mais diante de pesquisas como essa. Querem números exemplares do que estamos vivendo? Dizem conhecer os tais “programas sociais” 56,8% dos entrevistados. Mas 66% os aprovam. Aprovam o quê? A propaganda. Com isso, não quero dizer que os programas não existam. Existem, é claro. Mas são uma abstração para uma boa parcela dos entrevistados — e, pois, dos brasileiros.
Acompanhem: quantos beneficiários, leitor, você conhece do Bolsa Família? A exemplo deste escriba, a resposta é quase certa: nenhum — fazemos parte daqueles 40,7%. Pior: integramos o grupo dos 27% que consideram que eles não respondem ao desafio do desenvolvimento. Estamos na contramão da “doxa”. E agora? Vejam só: Lula inventou o tal PAC para a parcela mais informada da população, que resiste a seus encantos. Nada menos de 59% dos entrevistados — e é provável que todos eles estejam entre os dois terços que o apóiam — nem sabem que diabo é isso. Só 18,6% acham que o programa vai ajudar o Brasil a crescer. Vejam só: se Lula nunca mais tocar nesse assunto, vai decepcionar pouca gente.
E a crise aérea? Como é possível que ela não afete a imagem de Lula? É possível. Ele governa ou para o país que anda de carroça (metáfora) ou para o que compra avião — jamais para o que apenas anda de avião. E não vai abandonar essa clivagem. No médio e no longo prazos, essa administração medíocre do país vai fazer diferença, cobrar a sua fatura? Vai. As políticas públicas têm um tempo de maturação que não é o mesmo do julgamento da opinião pública. Imaginem se FHC tivesse feito tudo o que PT queria nos seus dois primeiros mandatos... Imaginem um país com a economia ainda mais fechada, atolado no endividamento das estatais. Que governo o PT estaria fazendo agora?
Não duvidem: os que não compactuam com o lulo-petismo terão de comer poeira por um bom tempo. É da natureza do jogo. Mais ainda: têm de se organizar para não continuar a comê-la, coisa de que não estou bem certo de que saibam fazer. Penso, por exemplo, nas 3,4 milhões de pessoas jurídicas que integram o MSP — Movimento dos Sem-Político (na verdade, considerando familiares e tal, talvez o dobro disso). Quem fala por eles? Quem vocaliza suas angústias? As oposições, no Brasil, cometem a delicadeza de jogar fora o público que têm ambicionando aquele que jamais terão, porque seduzidos pelo petismo e suas “conquistas”.
Lula navega numa onda extremamente favorável, que só existe porque governos anteriores se negaram a seguir a receita do petismo — que, uma vez no poder, demonstrou não ter receita nenhuma, a não ser, de um lado, acomodar interesses, e, de outro, manter azeitada uma máquina assistencialista inédita. Até que seus erros de agora não comecem a cobrar a sua fatura, vai tocando a vida sem muitos percalços. Mas atenção: mesmo esses erros só passarão a ter importância se transformados em luta política, coisa que as oposições não conseguiram fazer até agora."
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Portal da Revista Veja
Publicado em 10 de abril de 2007
terça-feira, abril 10, 2007
Nosso Novo Lema
Já escrevi aqui e discuti em sala de aula que certos termos e expressões, carregados de significados ideológicos, políticos, científicos e filosóficos são utilizados pelos leigos como se fossem verdades absolutas e, uma vez desprovidas de seu sentido preciso, são vocalizados com galhardia e coragem pelos mais incautos cidadãos.
Por exemplo: alguém aqui sabe exatamente o que é ser de esquerda e de direita? Alguém pode me dizer o que significa a chegada do “risco-brasil” no nível 100?
Onde está a certeza de que a desmilitarização dos controladores de vôo irá gerar o fim do Apagão Aéreo?
Afinal, qual foi a matemática utilizada pelo Romário para dizer que ele finalmente marcará seu gol número 1.000? Será que ele não estaria no 1007? 980? E aquela pelada no final de semana que foi registrada pela filha da cunhada da vizinha do campinho de Macaé, na década de 80? Valeu? Se o Pelé somou o gol que fez, vestindo um terno, no evento que marcou a demolição do estádio de Wenbley e acrescentou à sua lista os gols que fez contra a seleção do exército, o Romário poderia somar os gols que marcou nos churrasquinhos de fim de semana na casa dos amigos e na chácara do Chico Buarque!
O fato é que cada um toma para si certas palavras e cria seus conceitos e verdades sobre elas de acordo com a conveniência do momento, assim como fazem com cálculos e estatísticas de desemprego e do crescimento do PIB. Se está ruim, ora, vamos mudar o cálculo e dar aquele jeitinho de fazer a estatística jogar a nosso favor. Este processo, em alguns casos é pura cara de pau, porém em outros, significa que ainda existem certos conjuntos de conhecimentos sobre os quais a maioria das pessoas não domina.
Eu, por exemplo, desconheço os efeitos do movimento caótico, o caos, sobre a mecânica quântica. Tampouco compreendo as relações binárias e não sei reconhecer se são reflexivas, assimétricas ou qualquer outra coisa que o valha. Da mesma forma, até hoje jamais consegui fazer um pudim de leite condensado igual ao da minha avó e tenho certeza de que não conseguiria fazer um gol vestindo terno com gravata apertada no pescoço. Dessa forma, devemos tomar cuidado com certas “verdades” que escutamos e também verbalizamos.
Desconfiar sempre. Este é o lema!
Se o fulano se diz “de esquerda” e por isso se considera um sujeito “do bem”, “do povo” etc, basta uma pergunta simples para complicar a vida do rapaz: Mas você é marxista leninista, trotskista ou bolchevista? Heim? Pronto, está feito o estrago.
Para a massa da classe média, o assunto do momento é o Apagão Aéreo. Por alguma razão, alguns formadores de opinião, membros do governo federal, da imprensa, dentre outros, venderam/aceitaram tranqüilamente a tese de que a solução para o problema está na desmilitarização dos controladores de vôo. Pouca gente utilizou o nosso lema e, sem desconfiar, passaram a repetir diuturnamente e propagar a “solução”. Alguma pessoa que resolvesse questionar criticamente a idéia faria algumas daquelas perguntas impertinentes, como por exemplo: mas esta solução é juridicamente legal? Ora, se para ingressar em uma determinada carreira é necessário passar por um concurso público, como seria feita a migração de servidores militares para o serviço público civil sem a realização de uma prova para tal? Outra questão capciosa: se o espaço aéreo brasileiro é protegido pela Aeronáutica e os radares operados são os mesmos que os controladores utilizam atualmente para gerenciar o tráfego aéreo, com quem ficaria o sistema? Com os controladores civis alocados em outros ambientes ou com os militares? Afinal, quem vai mandar nos radares? E se forem os civis, com quais equipamentos os militares protegerão nosso espaço aéreo?
Na verdade, este processo não irá acabar com a crise no setor, irá apenas possibilitar maior poder de barganha salarial à categoria dos controladores de vôo. Se na condição de militares eles são capazes de parar o país, imaginem quando a transição de sargentos para companheiros estiver 100% realizada e os novos servidores estiverem devidamente sob a custódia e o amparo de alguma Central Sindical.
Pois bem, certas “verdades” não devem ser repetidas sem antes utilizarmos o nosso lema: desconfiem, meninos e meninas... desconfiem...
Por exemplo: alguém aqui sabe exatamente o que é ser de esquerda e de direita? Alguém pode me dizer o que significa a chegada do “risco-brasil” no nível 100?
Onde está a certeza de que a desmilitarização dos controladores de vôo irá gerar o fim do Apagão Aéreo?
Afinal, qual foi a matemática utilizada pelo Romário para dizer que ele finalmente marcará seu gol número 1.000? Será que ele não estaria no 1007? 980? E aquela pelada no final de semana que foi registrada pela filha da cunhada da vizinha do campinho de Macaé, na década de 80? Valeu? Se o Pelé somou o gol que fez, vestindo um terno, no evento que marcou a demolição do estádio de Wenbley e acrescentou à sua lista os gols que fez contra a seleção do exército, o Romário poderia somar os gols que marcou nos churrasquinhos de fim de semana na casa dos amigos e na chácara do Chico Buarque!
O fato é que cada um toma para si certas palavras e cria seus conceitos e verdades sobre elas de acordo com a conveniência do momento, assim como fazem com cálculos e estatísticas de desemprego e do crescimento do PIB. Se está ruim, ora, vamos mudar o cálculo e dar aquele jeitinho de fazer a estatística jogar a nosso favor. Este processo, em alguns casos é pura cara de pau, porém em outros, significa que ainda existem certos conjuntos de conhecimentos sobre os quais a maioria das pessoas não domina.
Eu, por exemplo, desconheço os efeitos do movimento caótico, o caos, sobre a mecânica quântica. Tampouco compreendo as relações binárias e não sei reconhecer se são reflexivas, assimétricas ou qualquer outra coisa que o valha. Da mesma forma, até hoje jamais consegui fazer um pudim de leite condensado igual ao da minha avó e tenho certeza de que não conseguiria fazer um gol vestindo terno com gravata apertada no pescoço. Dessa forma, devemos tomar cuidado com certas “verdades” que escutamos e também verbalizamos.
Desconfiar sempre. Este é o lema!
Se o fulano se diz “de esquerda” e por isso se considera um sujeito “do bem”, “do povo” etc, basta uma pergunta simples para complicar a vida do rapaz: Mas você é marxista leninista, trotskista ou bolchevista? Heim? Pronto, está feito o estrago.
Para a massa da classe média, o assunto do momento é o Apagão Aéreo. Por alguma razão, alguns formadores de opinião, membros do governo federal, da imprensa, dentre outros, venderam/aceitaram tranqüilamente a tese de que a solução para o problema está na desmilitarização dos controladores de vôo. Pouca gente utilizou o nosso lema e, sem desconfiar, passaram a repetir diuturnamente e propagar a “solução”. Alguma pessoa que resolvesse questionar criticamente a idéia faria algumas daquelas perguntas impertinentes, como por exemplo: mas esta solução é juridicamente legal? Ora, se para ingressar em uma determinada carreira é necessário passar por um concurso público, como seria feita a migração de servidores militares para o serviço público civil sem a realização de uma prova para tal? Outra questão capciosa: se o espaço aéreo brasileiro é protegido pela Aeronáutica e os radares operados são os mesmos que os controladores utilizam atualmente para gerenciar o tráfego aéreo, com quem ficaria o sistema? Com os controladores civis alocados em outros ambientes ou com os militares? Afinal, quem vai mandar nos radares? E se forem os civis, com quais equipamentos os militares protegerão nosso espaço aéreo?
Na verdade, este processo não irá acabar com a crise no setor, irá apenas possibilitar maior poder de barganha salarial à categoria dos controladores de vôo. Se na condição de militares eles são capazes de parar o país, imaginem quando a transição de sargentos para companheiros estiver 100% realizada e os novos servidores estiverem devidamente sob a custódia e o amparo de alguma Central Sindical.
Pois bem, certas “verdades” não devem ser repetidas sem antes utilizarmos o nosso lema: desconfiem, meninos e meninas... desconfiem...
Avaliação de Antropologia
Aos alunos de Antropologia, disse que iria explicar o esquema da Avaliação I no moodle, mas não consegui publicar lá. Sorte que temos sempre o plano B. Então vamos lá.
Peço aos alunos dos demais cursos que não fiquem com inveja dos pupilos do primeiro semestre, mas ocorre que a avaliação da disciplina de Antropologia e Cultura possui outros elementos fundamentais que são distintos das demais matérias, a saber, a necessidade de despertar o poder crítico e ampliar a capacidade dos estudantes em criar textos adequados e marcados pelo distanciamento do senso comum.
Assim, a avaliação I contará com duas questões, sendo uma de ordem mais aberta, baseada na obra de Darcy Ribeiro, e outra mais teórica, baseada nos fundamentos da Antropologia. Quero treiná-los a responder questões bem distintas em uma mesma avaliação, seja no estilo, finalidade e/ou objetivos. Os valores de ambas questões serão diferentes e o maior peso será para a questão 1.
Apenas para recordar: é permitido consultar os materiais utilizados so longo do bimestre, incluindo os livros, textos e anotações em sala de aula. Entretanto, NÃO será permitida a troca de quaiquer tipos de materiais durante o período da avaliação, incluindo textos, canetas, papéis e quaisquer outros objetos.
Até quinta!
Peço aos alunos dos demais cursos que não fiquem com inveja dos pupilos do primeiro semestre, mas ocorre que a avaliação da disciplina de Antropologia e Cultura possui outros elementos fundamentais que são distintos das demais matérias, a saber, a necessidade de despertar o poder crítico e ampliar a capacidade dos estudantes em criar textos adequados e marcados pelo distanciamento do senso comum.
Assim, a avaliação I contará com duas questões, sendo uma de ordem mais aberta, baseada na obra de Darcy Ribeiro, e outra mais teórica, baseada nos fundamentos da Antropologia. Quero treiná-los a responder questões bem distintas em uma mesma avaliação, seja no estilo, finalidade e/ou objetivos. Os valores de ambas questões serão diferentes e o maior peso será para a questão 1.
Apenas para recordar: é permitido consultar os materiais utilizados so longo do bimestre, incluindo os livros, textos e anotações em sala de aula. Entretanto, NÃO será permitida a troca de quaiquer tipos de materiais durante o período da avaliação, incluindo textos, canetas, papéis e quaisquer outros objetos.
Até quinta!
Agora é Oficial: Deputados não Trabalham na Segunda
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
Texto: Denise Madueño e Eugênia Lopes
Câmara desiste de sessões de votação nas segundas-feiras
BRASÍLIA - A experiência da Câmara de tentar aumentar os dias de votação na semana acabou. Em reunião dos líderes partidários e do presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi decidido, por unanimidade, que não haverá mais sessões de votação às segundas-feiras.
As sessões das segundas-feiras, na avaliação que vinham fazendo os líderes, não estavam se mostrando eficientes nem produtivas. Quando assumiu o cargo de presidente, Chinaglia instituiu votações às segundas-feiras, mas o quórum, nesses dias, estava menor a cada semana. No início, havia a desculpa do chamado apagão aéreo, mas, na segunda passada, se repetiu o quórum baixo.
Para compensar o fim das sessões de votação às segundas-feiras, os líderes se dispuseram a fazer sessões deliberativas às terças-feiras pela manhã e não apenas à tarde. Na reunião, foi mantida a prioridade de votação da proposta de reajuste salarial dos deputados assim que forem votadas as medidas provisórias (MPs) que trancam a pauta do plenário. A previsão é de que a liberação da pauta se dê na próxima semana.
Chinaglia afirmou, segundo relatos de líderes, que o consenso é pelo aumento que reponha a inflação dos últimos quatro anos medida pelo IPCA, o que significa uma elevação dos atuais R$ 12.847 para cerca de R$ 16.200.
Os líderes e Chinaglia incluíram na lista de prioridades a votação da proposta de emenda constitucional (PEC) que propõe o fim do nepotismo nos três Poderes. O deputado Manato (PDT-ES) apresentou uma versão mais liberal, com mais benefícios para os parlamentares do que a proposta já aprovada em comissão especial da Câmara. Mesmo assim, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), resiste a votar a proposta, argumentando que vai discutir com a bancada. Na reunião, Chinaglia reafirmou que a reforma política deverá ser votada até o final de maio.
Texto: Denise Madueño e Eugênia Lopes
Câmara desiste de sessões de votação nas segundas-feiras
BRASÍLIA - A experiência da Câmara de tentar aumentar os dias de votação na semana acabou. Em reunião dos líderes partidários e do presidente da Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi decidido, por unanimidade, que não haverá mais sessões de votação às segundas-feiras.
As sessões das segundas-feiras, na avaliação que vinham fazendo os líderes, não estavam se mostrando eficientes nem produtivas. Quando assumiu o cargo de presidente, Chinaglia instituiu votações às segundas-feiras, mas o quórum, nesses dias, estava menor a cada semana. No início, havia a desculpa do chamado apagão aéreo, mas, na segunda passada, se repetiu o quórum baixo.
Para compensar o fim das sessões de votação às segundas-feiras, os líderes se dispuseram a fazer sessões deliberativas às terças-feiras pela manhã e não apenas à tarde. Na reunião, foi mantida a prioridade de votação da proposta de reajuste salarial dos deputados assim que forem votadas as medidas provisórias (MPs) que trancam a pauta do plenário. A previsão é de que a liberação da pauta se dê na próxima semana.
Chinaglia afirmou, segundo relatos de líderes, que o consenso é pelo aumento que reponha a inflação dos últimos quatro anos medida pelo IPCA, o que significa uma elevação dos atuais R$ 12.847 para cerca de R$ 16.200.
Os líderes e Chinaglia incluíram na lista de prioridades a votação da proposta de emenda constitucional (PEC) que propõe o fim do nepotismo nos três Poderes. O deputado Manato (PDT-ES) apresentou uma versão mais liberal, com mais benefícios para os parlamentares do que a proposta já aprovada em comissão especial da Câmara. Mesmo assim, o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), resiste a votar a proposta, argumentando que vai discutir com a bancada. Na reunião, Chinaglia reafirmou que a reforma política deverá ser votada até o final de maio.
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