segunda-feira, agosto 17, 2009

Querem saber o segredo de Sarney? Eu vou contar!

Que vida estranha tenho levado nos últimos meses... muito boa, mas bastante estranha! Trabalho incansavelmente, mas volta e meia eu paro para tentar escrever coisas interessantes neste blog. Vocês sabem: a proposta é tratar de política, economia e afins sem parecer muito chato, ainda que conseguir este objetivo as vezes é difícil.

Estava tentando escrever algo sobre Sarney e seu discurso ligeiramente bobo, para não dizer outra coisa, para uma platéia de... bobos. Já sei... o leitor vai dizer: “hei... bobos somos nós que votamos nessa canalha!” Mas considerando que os bobos eram aqueles membros da corte que diziam tolices para divertir as pessoas e relendo o discurso tolo do presidente do Senado, até que a palavra bobo lhes convém.

Permaneço com as saudades daquela oratória carregada de enfeites que antigos senadores utilizavam para defender as suas idéias. Não que eu as tenha visto, mas cheguei a ler vários discursos interessantes proferidos daquela tribuna.

Vou contar uma história capciosa: quando trabalhava como aprendiz na Câmara Municipal de uma cidade do interior paulista um vereador (cujo nome não me lembro) disse numa roda de conversas, em meio ao plenário, que havia votado a favor de uma matéria porque uma empresa, cujo dono era seu amigo de longa data, lhe pedira ajuda para aprovar a tal matéria. O curioso é que ele dizia com total naturalidade que recebera um “apoio” da empresa e que ele precisava fazer aquilo “para poder terminar minha casinha!”.

Lembrei-me bem daquele episódio quando o presidente do Senado disse que não se deve negar um favor a uma neta! Observem que o conceito de público, como aquilo que é de todos, transforma-se rapidamente “naquilo que não é de ninguém” e, portanto, a relação privada, seja ela familiar ou de amizade, sobrepõe-se rapidamente ao interesse coletivo. Que se lixe (usando uma expressão de um deputado) a opinião pública! O que importa é a minha Netinha!

Pois bem, em qualquer sociedade desenvolvida, toda a pantomima do discurso de Sarney, os acordos entre situação e oposição, os telhados de vidro de todos os integrantes do Senado, a esculhambação da casa legislativa mais importante do país, enfim, qualquer mísero ato secreto para defesa de interesses pessoais com dinheiro público, já seria suficiente para levar centenas de milhares às ruas, obcecadas em defender o patrimônio público, a ética e a decência na política. Na Ásia uma meia dúzia de senadores já teria cometido suicídio em frente às câmeras... eu disse câmera e não Câmara... bem, mas daí, tanto faz!

O fato é que existe um “segredo” que faz com que Sarney resista bravamente no cargo de presidente do Senado. Este “segredo” eu vou contar! É que com toda a sua experiência, todo o domínio dos meios de comunicação de seu estado (seria Acre ou Maranhão?) e toda a fonte de informações que possui, incluindo pesquisas eleitorais e de imagem, adivinhem qual é a conclusão que o presidente do Senado chegou? Ora, caros leitores, a conclusão é óbvia: para os eleitores de seu estado não faz a menor diferença o escândalo dos Atos Secretos! Isso mesmo, seus eleitores não entendem muito bem o que são os atos secretos, conseguem mais ou menos saber que existe uma crise que envolve o ex-presidente, mas que não passa de uma campanha da imprensa contra o herói da Academia Brasileira de Letras! E só!

Portanto, se eu fosse Sarney faria exatamente o que ele tem feito: se agarrar à cadeira. O ex-presidente não é só bom de atos secretos, ele também é bom em fazer política.