terça-feira, outubro 16, 2007

Tropa de Elite, Fascismo e a Torta Holandesa

As vezes me cansa certas discussões que a mídia gosta de fazer. A do momento é sobre o filme Tropa de Elite. Um filme tão bom que obrigarei todos os meus alunos a reservar um horário no fim de semana para assistir a uma sessão.

Aluno Entediado: “Mas como assim, vai me obrigar? Eu vou se eu quiser!”
Professor resignado: “Tudo bem, se não quiser ir não tem problema. Mas vai ter que fazer trabalho sobre o filme e quem não fizer fica com zero, entendeu?”
Aluno resignado: “Sim, entendi, mas não concordo com esta obrigação. Você é um Fascista!!!”

Se quiserem me chamar de fascista, tudo bem, mas antes é preciso entender que diabos significa isso, certo?! Pois é justamente este o problema das discussões em torno de Tropa de Elite. Não há um só dia em que eu não leia alguém dizendo que o filme é Fascista. Um colunista de um famoso jornal escreveu nesta manhã que o filme não é fascista, mas sim o BOPE, Batalhão de Operações Policiais Especiais, da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Na verdade, nem um nem outro.

Os colunistas escrevem e a patuléia repete. Ao ler esse monte de matérias sobre o filme de José Padilha me lembrei de um tempo em que tinha fixação por Torta Holandesa. Isso mesmo, Torta Holandesa, o doce com creminho branco e bolachas em volta.

Naquela época eu rodava a cidade em busca de uma espécime legítima e bem feita da bendita. Não havia um recinto gastronômico (restaurante, padaria, cantina de escola, botequim, casa da avó...) que não entrasse e fosse logo espichando os olhos em volta para encontrar a famosa Torta Holandesa. E lá vinha ela, sempre de um jeito diferente. Ora com um creme cheirando à manteiga grosseira, outra com o creme pastoso e molenga, outra com os biscoitos murchos, ou então com o chocolate sem gosto; algumas vezes ultra-congelada e outras derretendo; dependendo do lugar eram servidas em um prato de louça riscado, num pote de plástico transparente, num recipiente de sorvete, enfim, era tudo, menos Torta Holandesa bem servida. Claro, haviam as exceções. Mas também eu não posso reclamar, pois Torta Holandesa nem é holandesa mesmo, assim como o fascismo atribuido ao filme não tem nada a ver com o fascismo em sua acepção original.

O Fascismo é um regime de massas caracterizado pelo forte espírito de negação. Exceto pela defesa do nacionalismo, os fascistas negavam o socialismo, o comunismo, o liberalismo, a burguesia industrial e financeira, bem como os proletariados. Notem, leitores, que a negação é a palavra de ordem para o movimento.

Para colocar em prática sua estratégia, os fascistas criaram um movimento partidário e ao mesmo tempo parecido com uma mílicia, o qual proporcionava aos seus seguidores a possibilidade de perseguir seus rivais de maneira bastante eficaz, utilizando de um lado o terror como tática de ação em busca do monopólio do poder político e, de outro, os mitos, símbolos e rituais para angariar simpatizantes via o uso intensivo do apelo estético.

O fascismo é fruto de uma crise moral que prevaleceu no período do pós-guerra (me refiro à I Grande Guerra) convertido em ação política policialesca, antidemocrática, com forte intervenção do Estado nos campos econômico e social, com uma rigorosa hierarquia, traduzidos em uma figura carismática e de grande eloqüência, denominada Il Duce, o chefe.

Dessa forma, o recurso à violência e à dominação, desrespeitando-se o Estado democrático de direito, faz de uma parte do fascismo algo que possa lembrar as ações de grupos estatais, cuja ação se desprende das normas constitucionais, sob o pretexto de maior eficácia dos resultados pretendidos. E seria por isso que alguns jornalistas emprestam o termo “Fascismo”, seja ao filme de Padilha, seja ao BOPE, para explicar o ambiente de violência e desrespeito aos Direitos Humanos e à legalidade.

No entanto, com uma singela “forçada de barra”, poderíamos relacionar “Tropa de Elite” com outras correntes ideológicas ou práticas políticas registradas na história, as quais não representam os ideais fascistas. Tudo isso porque os termos do campo político são tratados sem qualquer parcimônia ou vergonha pelos intrépidos jornalistas, assim como o fazem com outros termos como “maquiavelismo”, “esquerda”, “direita”, “neo-liberal” e por aí vai.

Basicamente, tratam os conceitos políticos como os confeiteiros tratam a Torta Holandesa. Pegam uma receita qualquer, adaptam às necessidades, misturam tudo, enfeitam como podem e entregam ao público para que engulam acreditando que aquela é a verdade. Dessa forma, se Torta Holandesa não é da Holanda e cada um faz do jeito que lhe aprouver, Tropa de Elite não é fascista, mesmo que cada qual o defina como quiser. Enfim, o mau uso dos termos políticos é “osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você!”

PS.: Quem quiser conhecer uma das receitas de Torta Holandesa, leia o próximo post!

Receita de Torta Holandesa


Ingredientes

Para o creme:
- 250 g de margarina para bolo
- 200 g de açúcar refinado
- 4 colheres(sopa) de leite condensado (80g)
- 600 ml de creme de leite sem soro (3 latas)
- 10 gotas de essência de baunilha
- 1 colher (café) de licor de cassis (ou da fruta que
desejar)

Para a base:
- 120 g de biscoito tipo maisena

Para a montagem lateral:
- 100 g de biscoito doce redondo com cobertura de chocolate

Para a cobertura (calda de chocolate):
- 200 g de creme de leite fresco
- 200 g de chocolate meio amargo
- 10 g de margarinaModo de PreparoPara o creme:

Bata a margarina e o açúcar até obter um creme quase branco.
Adicione o leite condensado e continue batendo.
Junte o creme de leite e mexa bem.
Acrescente a essência de baunilha e o licor de cassis.

Para a cobertura:
Numa panela, coloque o creme de leite. Aqueça, sem deixar ferver.
Tire do fogo, acrescente o chocolate e a margarina.
Misture bem até derreter o chocolate.

Para a montagem:
Numa forma de aro removível (18 cm x 20 cm de diâmetro x 4 cm de
altura), passe a fita de acetato ou passe manteiga.
Polvilhe açúcar no contorno da forma.

Forre o fundo da forma com a biscoito de maisena, despeje metade
do creme, outra camada de biscoito maisena e o restante do
creme.
Leve para gelar por, no mínimo, 2h.

Retire da forma e despeje a calda de chocolate (reserve um pouco
da calda para colar os biscoitos redondos ao redor da torta e
decorar o prato que irá servir).
Em volta da torta, coloque os biscoitos redondos cobertos com o
chocolate reservado.

Rendimento: torta de 1,5 kg (aproximadamente)
Preço do kg da torta holandesa no mercado: entre R$ 30,00 e R$
35,00

Fonte: Portal do Programa "Mais Você"
http://maisvoce.globo.com