quarta-feira, novembro 05, 2008

E o Mundo Real diz: Bem Vindo Obama!

Um mundo midiático. Mais de 700 milhões de Dólares. Uma Guerra Religiosa. Uma esperança. Um Mito! Eis Obama! Yes, we can!

Barack Obama definitivamente entra para a história não só por ser o primeiro negro a assumir a presidência dos EUA, mas também por pertencer a uma jovem geração incumbida de uma missão inglória de reinventar a América.

A uma amiga negra a quem muito admiro, que verteu lágrimas após a vitória de Obama contra Hillary Clinton nas primárias Democratas eu disse que a mudança da história, a real mudança da história, acontecerá somente depois de 4 anos de mandato de Obama e não agora. O que queria dizer é que até hoje tudo é mito, tudo é simbólico, tudo é mídia. Mas o resultado dessas eleições deverá ser entendido melhor após o cumprimento do mandato do recém eleito, pois quando o mundo real lhe cobrar a conta é que poderemos entender o efeito da chegada de um negro à Casa Branca. Seu sucesso será a redenção histórica de uma população reprimida, perseguida e explorada durante várias décadas. Seu fracasso será a aquiescência do retorno à nefasta tese da superioridade de uma raça sobre a outra.

E o mundo real está de braços abertos para Obama. Quer abraçá-lo, quer esmagá-lo. Uma crise econômica profunda, duas guerras em andamento, interesses geopolíticos, desafios nas relações internacionais, tensões na América Latina e no leste europeu; problemas internos, crise do sistema de saúde, seguro social e conflitos migratórios. Esta é a pequena agenda que deverá enfrentar o novo presidente. Sua missão é das mais complexas, mas ao menos ninguém duvida da inteligência muito acima da média de Barack Obama.

Nós brasileiros estamos até achando bonitinho tudo isso. Que legal. Que interessante. Que histórico! Alguns membros do governo brasileiro já se mostraram confiantes e dizem que as relações irão melhorar, como se estivéssemos em crise nas relações Brasil – EUA. Mas quando Obama incrementar os subsídios aos produtores de milho, contra o etanol brasileiro e quando as políticas de proteção dos produtores internos forem colocadas em prática é bem provável que aí sim a crise passe a existir. O interessante da força midiática desta campanha é que tem muita gente, brasileiros inclusive, acreditando que Obama será o presidente do mundo. Não. Obama será o presidente dos EUA e, ao contrário de Lula que defende os interesses da Bolívia, do Equador e da Venezuela, Obama certamente defenderá os interesses americanos.

O mundo real obrigará esta figura incrível a autorizar ataques militares contra interesses americanos, obrigará assinar documentos que desagradem os governos de outros países, obrigará criar medidas polêmicas e decisões difíceis a serem tomadas as 3 da manhã, quando algum assessor afobado bater à porta de seus aposentos para anunciar uma nova crise envolvendo os americanos em alguma parte do mundo.

Não quero estragar a festa, claro. Vamos curti-la mais um pouco. De nossos sofás em frente a TV vamos abanar a mão, fazendo sinal de tchau, quando Bush passar o comando do país para Obama.

Depois... bem, depois o mundo real, com seu peculiar sorriso sarcástico, nos dará as boas vindas.

Três fatores decidiram eleição nos Estados Unidos

Fonte: Jornal O Estado de SãoPaulo
Data: 05/11/08
Autor: Cristiano Dias

Barack Obama tornou-se presidente dos EUA graças à conjunção de três fatores: uma campanha bem organizada, a conjuntura econômica e política amplamente favorável e a condução desastrosa da candidatura de seu rival republicano.

Em fevereiro de 2007, pouquíssima gente levou a sério quando um senador negro de nome estranho disse que estava lançando candidatura à presidência dos EUA. Era uma tarde fria de inverno na cidade de Springfield, capital de Illinois, quando Obama empolgou algumas centenas de pessoas que se juntaram para ouvi-lo diante da sede do governo local.

No discurso, ele prometeu mudar o jeito de fazer política em Washington, mas a jornada, como ele mesmo definiu mais tarde, era "improvável". Nas primárias do partido, ele enfrentaria políticos mais experientes, como o ex-senador John Edwards, candidato a vice-presidente em 2004, e a senadora Hillary Clinton, guru e marca registrada dos democratas, considerada "candidata inevitável" do partido.

Obama derrubou os adversários usando como base um exército de 2 milhões de voluntários e comitês que atuaram em todos os 50 Estados, registrando cerca de 4 milhões de novos eleitores em todo o país. Hillary, rival mais obstinada, achou que as primárias terminariam na Superterça, em 5 de fevereiro, quando 24 Estados votaram nos pré-candidatos dos dois partidos. Quando percebeu o erro estratégico, a ex-primeira-dama já estava derrotada.

A grande marca da campanha de Obama - e o motivo pelo qual a eleição americana nunca mais será a mesma - foi o uso revolucionário da internet para arrecadar US$ 700 milhões e a utilização de diferentes canais de mídia para divulgar sua candidatura. Obama teve três momentos ruins em sua jornada improvável. O primeiro foi a derrota nas primárias de Ohio e do Texas, no início de março, quando Hillary tornou-se a adversária que mais perto chegou de emoldurá-lo como um aventureiro inexperiente. O autor do golpe teria sido um comercial que questionava a competência de Obama para resolver um problema que surgisse às 3 horas da madrugada.

O segundo contratempo ocorreu duas semanas depois, com os discursos inflamados de seu ex-pastor Jeremiah Wright. Obama conseguiu contornar a situação escrevendo um brilhante discurso sobre raça, proferido na Filadélfia, em que tratou da desigualdade e das tensões raciais.

A última dificuldade veio logo após a convenção republicana, no início de setembro, quando John McCain disparou nas pesquisas após escolher a ultraconservadora governadora do Alasca, Sarah Palin, como vice. A euforia dos republicanos com Sarah durou duas semanas e logo se transformou no pior erro de McCain.

Entrevistas desastrosas, o envolvimento em um escândalo de abuso de poder em seu Estado e a divulgação dos US$ 150 mil gastos em roupas para a campanha viraram tema de piada nos principais programas humorísticos do horário nobre. Em meio a uma enxurrada de críticas, duas semanas depois, McCain piorou as coisas ao suspender sua campanha, em setembro, para trabalhar pela aprovação do resgate financeiro de US$ 700bilhões proposto pela Casa Branca.

Conjuntura
No entanto, segundo analistas, a causa sistêmica para a vitória de Obama foi a conjuntura favorável aos democratas. A explosão da crise econômica em plena campanha assustou a maioria dos americanos. A impopularidade do presidente George W. Bush e da guerra no Iraque também facilitaram as coisas.

Na campanha, Obama frisou que foi o único a se opor à guerra desde o início e defendeu um cronograma de retirada das tropas. No fim, até Bush e o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, concordaram com Obama e deixaram McCain pregando sozinho a permanência das tropas.