Muita gente pode tentar encontrar um adjetivo para definir o "retorno" de Fernando Collor: vergonha, volta ao passado, falta de memória... Em minha opinião não é nada disso. Vamos por partes.
Em primeiro lugar existem dois erros conceituais nas inúmeras matérias que citam o "retorno" de Collor:
1- Collor nunca saiu de cena e
2- Collor já estava em cena desde que fora eleito para o Senado.
Vamos aos pormenores.
1- Collor nunca saiu de cena e quem nunca partiu não tem como retornar. Quando Collor sofreu o processo de impeachment e renunciou ao mandato, seu nome permaneceu nas notícias, em reportagens especiais, nos artigos políticos, nas bancas de monografias, TCC´s, mestrados e doutorados. Ainda que tenha saído por algum tempo da grande mídia, seu nome continuou a ser importante para aquele pedaço de terra bonito chamado Alagoas. Sua família, poderosa e dona de meios de comunicação importantes, manteve o "brilho" do político e pôde defender a tese de que, após a decisão da justiça inocentando o ex-presidente pela acusação de corrupção passiva, o impedimento pelo qual passou vinculava-se muito mais a uma perseguição política do que a um caso de polícia.
Da tragédia política veio a tragédia pessoal, principalmente com a morte de sua mãe, Leda, que fora uma figura central em sua vida e formação. Seu "exílio" em Miami representou o período de maior ostracismo, mas enquanto curtia a vida com Rosane Collor, entre uma marguerita e outra, o ex-presidente jamais deixou de acompanhar a cena política nacional, que incluía a ascensão política de FHC, o fortalecimento da democracia no país, o equilíbrio econômico gerado pelo Plano Real, bem como os primeiros sinais das mudanças de rumo da oposição, que levariam mais tarde o atual presidente Lula, ao seu primeiro mandato.
Fernando Collor também acompanhou de longe o retorno dos sinais exteriores de riqueza de seus antigos companheiros, que voltaram à cena mostrando que tinham capacidade financeira de sobra para investir em novos negócios como agências de turismo, boates, propriedades, concessionárias de veículos importados e até jornais. Como se vê, a corrupção rendeu frutos para toda aquela turma muitos anos depois e ainda por muito tempo.
Sua primeira tentativa de retorno à política (ainda com os direitos cassados) foi em uma tosca campanha pela prefeitura da cidade de São Paulo. Mais tarde, em 2002, Collor tentaria o cargo de governador do estado de Alagoas, eleição que perdeu em primeiro turno para Ronaldo Lessa.
2- Collor já estava em cena desde que fora eleito para o Senado.
Após sua derrota na campanha para o governo do estado de Alagoas, o ex-presidente manteve sua agenda política e reforçou posições em diversos pontos do estado. O resultado de sua persistência apareceu de maneira memorável, quando pôde dar o troco em Ronaldo Lessa, sendo eleito, em 2006, na disputa por uma cadeira no Senado, cujo mandato de oito anos começou em 2007.
Portanto, dizer que Collor "retornou" não me parece muito correto. Para ser mais preciso, o senador Fernando Collor "reforçou" a sua posição ao assumir um dos cargos mais importantes do Senado, o de presidente da Comissão de Infraestrutura, por onde passam, por exemplo, todos os projetos do PAC.
Resta-nos analisar qual o significado desse "reforço" em sua posição política e como isso pôde acontecer em uma Casa dominada pelos partidos que formam a base aliada do governo. É claro que Collor não é um opositor de Lula; suas declarações e votações deixam isso bem claro. Mas Collor não gosta do PT e vencer a senadora Ideli Salvatti certamente deve ter gerado um certo prazer todo especial.
O nome que está por trás de todo esse processo é um só: José Sarney. Ele de novo. Mas o articulador do processo sem dúvida alguma é Renan Calheiros. Como se vê, os brasileiros estão muito bem representados: Fernando Collor, José Sarney e Renan Calheiros.
No período em que se discutiam as alianças para eleger o novo presidente do Senado o cálculo para obter os votos necessários passavam, também, por Fernando Collor. O compromisso firmado solucionaria vários interesses do PMDB, que incluiam a eleição de Sarney e a tomada de poder, ainda que indiretamente, de postos fundamentais para o funcionamento da Casa.
Do ponto de vista institucional, os inúmeros arranjos vem gerando a paralização dos trabalhos do Senado, que há muito não discute matérias importantes para o país. Do ponto de vista macro político, ainda é cedo para saber se o ex-presidente Collor, agora ocupando um cargo de destaque, fará alguma diferença para o cenário nacional e quanto de energia ele possui para tentar superar a própria biografia.
sexta-feira, março 06, 2009
terça-feira, março 03, 2009
A Cadeia Produtiva do Carnaval
Todo mês de fevereiro eu adoro escrever posts avacalhando o carnaval.
Trata-se de um esporte.
É que pessoalmente não gosto da festa. Acho repetitiva, chata, com sempre as mesmas personagens (vide post abaixo), perigosa, tumultuada e impositiva no sentido em que para aqueles que a detestam, são obrigados a ficar à mercê da mídia que não para de veicular os mais bizarros aspectos da festa (vide post abaixo novamente!). Eu quero é paz.
Mas como muitos (muitos não, alguns) alunos e ex-alunos costumam ler este blog é evidente que necessito deixar meu esporte de lado e oferecer informações e/ou análises que possam enriquecer o processo de reflexão sobre nossa cultura e política.
Independentemente das implicâncias pessoais, é importante considerar a importância da festa sob diferentes aspectos. Destaco aqui parte dos resultados de uma pesquisa sobre a cadeia produtiva do carnaval no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa será desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Associação Comercial do Rio de Janeiro. Seu coordenador, o economista Luiz Carlos Prestes Filho respondeu a algumas entrevistas adiantando números gerais que impressionam.
Apesar de alguns números serem divergentes, o carnaval carioca emprega 300 mil pessoas e representa um ingresso de pouco mais de 1 bilhão de reais na economia da capital do estado. Meus ex-alunos já estudaram o significado de uma cadeia produtiva, que pode ser entendida como uma rede de inter-relações entre produtores de um mesmo sistema industrial. Por meio do estudo de cadeias produtivas é possível identificar as etapas e fluxos existentes entre produtores que se relacionam por meio de trocas comerciais e de serviços, desde a matéria-prima até o consumidor final.
No caso do carnaval especificamente estamos falando sobre os carnavalescos, produtores, escultores, marceneiros, distribuidores, músicos, produtores de espetáculos e shows, soldadores, maquiadores, publicitários, dentre dezenas de outros profissionais. Apenas para exemplificar a importância do estudo da cadeia produtiva do carnaval, vale ilustrar o caso das bordadeiras. No município de Campos, interior do Rio de Janeiro, existem cerca de 740 bordadeiras que em 2008 produziram mais de 70 milhões de peças de bordado utilizadas tanto para o Carnaval brasileiro quanto para os mais de 900 eventos carnavalescos espalhadas pelo mundo todo. O ingresso de recursos proveniente do trabalho dessas bordadeiras representa 4,5% do PIB do município e considerando as grandes indústrias petroquímicas instaladas na cidade, esse número é fabuloso.
Toda essa produção ocorre sem que a prefeitura de Campos tenha uma política pública destinada a aumentar o mercado dessas produtoras, criar uma marca própria e oferecer condições para que elas produzam mais e ainda melhor.
Se somarmos a produção bruta de materiais para utilização na festa ao inúmeros rendimentos provenientes dos direitos autorais de produtores de música, para dar um exemplo, a cadeia produtiva do carnaval carioca mostra toda uma diversidade capaz de agregar valores econômicos ao estado não somente no período dos eventos, mas ao longo de todo o ano.
Segundo a agência de notícias do Sebrae, "apesar de fazer o maior carnaval, o maior réveillon e o maior festival de rock do mundo, além de abrigar a maior cidade cenográfica (o Projac, da Rede Globo), o Rio de Janeiro sofre com a falta de investimentos e de políticas públicas para garantir o desenvolvimento em diversos segmentos da chamada indústria cultural, especialmente no gráfico, editorial e fonográfico. A análise é feita por Luiz Carlos Prestes Filho, coordenador das pesquisas sobre economia cultura, cadeia da música e indústria do carnaval."
Outro dados interessante é o cálculo do ingresso de recursos financeiros por meio do ICMS da indústria gráfica carioca, a qual vem perdendo milhões de reais todos os anos para a indústria paulista, que se transformou em exportadora de serviços e produtos para o Rio de Janeiro.
O estudo deve revelar detalhes de todo esse processo e certamente será usado pelos governos estadual e municipal para que políticas públicas possam ser criadas com o obejtivo de incrementar ainda mais a riqueza e a criação de postos de trabalho diretamente vinculados com o carnaval.
Fontes: CBN/Sebrae/Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro.
Trata-se de um esporte.
É que pessoalmente não gosto da festa. Acho repetitiva, chata, com sempre as mesmas personagens (vide post abaixo), perigosa, tumultuada e impositiva no sentido em que para aqueles que a detestam, são obrigados a ficar à mercê da mídia que não para de veicular os mais bizarros aspectos da festa (vide post abaixo novamente!). Eu quero é paz.
Mas como muitos (muitos não, alguns) alunos e ex-alunos costumam ler este blog é evidente que necessito deixar meu esporte de lado e oferecer informações e/ou análises que possam enriquecer o processo de reflexão sobre nossa cultura e política.
Independentemente das implicâncias pessoais, é importante considerar a importância da festa sob diferentes aspectos. Destaco aqui parte dos resultados de uma pesquisa sobre a cadeia produtiva do carnaval no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa será desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Associação Comercial do Rio de Janeiro. Seu coordenador, o economista Luiz Carlos Prestes Filho respondeu a algumas entrevistas adiantando números gerais que impressionam.
Apesar de alguns números serem divergentes, o carnaval carioca emprega 300 mil pessoas e representa um ingresso de pouco mais de 1 bilhão de reais na economia da capital do estado. Meus ex-alunos já estudaram o significado de uma cadeia produtiva, que pode ser entendida como uma rede de inter-relações entre produtores de um mesmo sistema industrial. Por meio do estudo de cadeias produtivas é possível identificar as etapas e fluxos existentes entre produtores que se relacionam por meio de trocas comerciais e de serviços, desde a matéria-prima até o consumidor final.
No caso do carnaval especificamente estamos falando sobre os carnavalescos, produtores, escultores, marceneiros, distribuidores, músicos, produtores de espetáculos e shows, soldadores, maquiadores, publicitários, dentre dezenas de outros profissionais. Apenas para exemplificar a importância do estudo da cadeia produtiva do carnaval, vale ilustrar o caso das bordadeiras. No município de Campos, interior do Rio de Janeiro, existem cerca de 740 bordadeiras que em 2008 produziram mais de 70 milhões de peças de bordado utilizadas tanto para o Carnaval brasileiro quanto para os mais de 900 eventos carnavalescos espalhadas pelo mundo todo. O ingresso de recursos proveniente do trabalho dessas bordadeiras representa 4,5% do PIB do município e considerando as grandes indústrias petroquímicas instaladas na cidade, esse número é fabuloso.
Toda essa produção ocorre sem que a prefeitura de Campos tenha uma política pública destinada a aumentar o mercado dessas produtoras, criar uma marca própria e oferecer condições para que elas produzam mais e ainda melhor.
Se somarmos a produção bruta de materiais para utilização na festa ao inúmeros rendimentos provenientes dos direitos autorais de produtores de música, para dar um exemplo, a cadeia produtiva do carnaval carioca mostra toda uma diversidade capaz de agregar valores econômicos ao estado não somente no período dos eventos, mas ao longo de todo o ano.
Segundo a agência de notícias do Sebrae, "apesar de fazer o maior carnaval, o maior réveillon e o maior festival de rock do mundo, além de abrigar a maior cidade cenográfica (o Projac, da Rede Globo), o Rio de Janeiro sofre com a falta de investimentos e de políticas públicas para garantir o desenvolvimento em diversos segmentos da chamada indústria cultural, especialmente no gráfico, editorial e fonográfico. A análise é feita por Luiz Carlos Prestes Filho, coordenador das pesquisas sobre economia cultura, cadeia da música e indústria do carnaval."
Outro dados interessante é o cálculo do ingresso de recursos financeiros por meio do ICMS da indústria gráfica carioca, a qual vem perdendo milhões de reais todos os anos para a indústria paulista, que se transformou em exportadora de serviços e produtos para o Rio de Janeiro.
O estudo deve revelar detalhes de todo esse processo e certamente será usado pelos governos estadual e municipal para que políticas públicas possam ser criadas com o obejtivo de incrementar ainda mais a riqueza e a criação de postos de trabalho diretamente vinculados com o carnaval.
Fontes: CBN/Sebrae/Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro.
segunda-feira, março 02, 2009
Sarney, Luiza Brunet, Passistas e Sambistas
Não é que discorde das inúmeras críticas que resmungam da falta de opções no senado brasileiro que elegeu, pela terceira vez, o ex-presidente da República, José Sarney para ocupar o cargo de Presidente daquela Casa.
Sarney tem muita história e é um símbolo da política brasileira, mas desta vez não vou discutir se o símbolo é bom ou ruim. É claro que tenho a minha opinião, mas no momento tratarei de outro aspecto porque o tema deste post é Carnaval.
Tradicionalmente eu dedico um post a cada fevereiro para este tema tão importante para a cultura nacional, esta festa que nos marca enquanto civilização, que nos diferencia e que se transforma na representação simbólica e dialética de uma raça única, distinta e distante de todas as outras. Sim, eu detesto Carnaval.
As vezes fico imaginando o Bonner, deitadinho de pijama ao lado da Fátima, vestindo sua meinha soquete para abrigar o pezinho resfriado pelo ar-condicionado do quarto do casal. Ele preocupado confessando, baixinho, no escuro, que não suporta mais dar notícias sobre Carnaval porque são sempre os mesmos temas:
- a rainha da bateria com suas variações: dietas, treinamento, ensaios no galpão.
- os carnavalescos com suas variações: técnicas, inspirações, ensaios no galpão.
- o público com suas variações: compra de ingressos, decoreba das letras dos sambas, ensaios nos galpões.
- as escolas com suas variações: temas, sambas-enredo, preparativos, ensaios nos galpões.
- os anônimos (haaa... essa eu adoro... sempre tem matérias sobre os anônimos) com suas variações: o trabalho árduo nos carros alegóricos, a economia para comprar a fantasia e os ensaios nos galpões.
Bem... e por aí vai. Depois tem sempre aquela matéria em que o jornalista, por melhor que seja, começa a frase mais ou menos assim: “por enquanto o único barulho dos galpões é este” (então corta a cena da imagem dele e aparecem as pessoas martelando, soldando, costurando, serrando... e volta para o repórter), “mas daqui há 1 semana o som será este” (daí começa aquele TumTum, BaticumDum, Ziriguidum!), enfim, que chato.
Nada tira da minha cabeça que lá no íntimo, no escurinho do quarto, os dois não vertam lágrimas quando se dão conta de que terão que iniciar as matérias sobre o Carnaval Globeleza. Nada contra, atenção. Eu sou um admirador desse casal e acho que eles são o que de melhor existe em termos de jornalismo para as massas. Não sou daqueles que pregam o fim da Rede Globo, a vilã que representa todo o mau... eu heim, para mim todo o mal não está na Globo, mas lá para os cantos de Brasília, especificamente no Palácio do Planalto.
Bem, mas estou dando voltas e mais voltas e meu objetivo é fazer um contra-ponto às críticas da eleição do Senado com o argumento de que são sempre os mesmos. A pergunta é: porque ninguém reclama dos sempre mesmos chatos que aparecem nos carnavais do Brasil? Será que só existe Chiclete com Banana, Ivete Sangalo e Cláudia Leite? Mas eu simpatizo com o carnaval do Nordeste, primeiro porque ele é mais “genuinamente popular”, apesar dos abadás custarem uma fortuna, e segundo porque ele está mais longe de mim. Agora perigosos mesmo são os desfiles de escolas de samba do Rio e de São Paulo. Haaa, esses são verdadeiras ameaças.
Reparem. As rainhas de bateria são sempre as mesmas, que vivem sorrindo para as câmeras, mas na verdade fazem verdadeiros conchavos políticos (tantas vezes piores do que os de Brasília), para ocupar o posto tão almejado. Fora as dietas absurdas e as plásticas infernais, mas daí é problema delas né, não meu. De qualquer forma o processo é longo e elas se engalfinham para mostrar o bumbum para os fotógrafos. Eu fiz uma pesquisa, ou melhor, um pequeno levantamento estatístico e posso comprovar a proporção de distribuição das vagas:
- 30% são atrizes bonitonas;
- 10% são namoradas e/ou amantes de alguém considerado importante: um presidente de escola, traficantes, ou pagodeiros ou tudo isso juntos (este post é uma brincadeira para entreter o leitor, mas não pensem que o narcotráfico também não financia a festa!);
- 30% são ex-capas da Playboy;
- 5% participaram de alguma edição do BBB;
- 20% são modelos;
- 5% são da “comunidadii”
Observem então as entrevistas das “celebridades” nos ensaios dos galpões. Sempre os mesmos. Sempre as mesmas perguntas e respostas idênticas às que foram fornecidas no Carnaval passado. Não seria mais fácil colocar o video tape do Eri Johnson, da Viviane Araújo, do Zeca Pagodinho e de tantos outros respondendo as mesmas perguntas do ano passado? E o pior são aquelas entrevistas que sempre terminam com um: “Escola de Tal na Cabeeeeçaaaaaaa” ou, “Escola de Tal arrebentandôôôôô... U-Huuuuu”. Fora o “Vamu ganhá Vamu Ganháááá!”.
Tenho certeza de que cronistas talentosos e engraçados já publicaram críticas sobre este mesmo aspecto que eu estou fazendo neste blog. Mas se na política são sempre os mesmos, nos Carnavais são sempre os mesmos, porque eu não posso abordar sempre os mesmos temas?
Com tamanha repetição eu definitivamente nem consigo mais ver graça alguma na Luiza Brunet, objeto de meus desejos mais íntimos ao longo de minha adolescência, transformada em meu pesadelo mais nítido nas transmissões do Carnaval.
Sarney tem muita história e é um símbolo da política brasileira, mas desta vez não vou discutir se o símbolo é bom ou ruim. É claro que tenho a minha opinião, mas no momento tratarei de outro aspecto porque o tema deste post é Carnaval.
Tradicionalmente eu dedico um post a cada fevereiro para este tema tão importante para a cultura nacional, esta festa que nos marca enquanto civilização, que nos diferencia e que se transforma na representação simbólica e dialética de uma raça única, distinta e distante de todas as outras. Sim, eu detesto Carnaval.
As vezes fico imaginando o Bonner, deitadinho de pijama ao lado da Fátima, vestindo sua meinha soquete para abrigar o pezinho resfriado pelo ar-condicionado do quarto do casal. Ele preocupado confessando, baixinho, no escuro, que não suporta mais dar notícias sobre Carnaval porque são sempre os mesmos temas:
- a rainha da bateria com suas variações: dietas, treinamento, ensaios no galpão.
- os carnavalescos com suas variações: técnicas, inspirações, ensaios no galpão.
- o público com suas variações: compra de ingressos, decoreba das letras dos sambas, ensaios nos galpões.
- as escolas com suas variações: temas, sambas-enredo, preparativos, ensaios nos galpões.
- os anônimos (haaa... essa eu adoro... sempre tem matérias sobre os anônimos) com suas variações: o trabalho árduo nos carros alegóricos, a economia para comprar a fantasia e os ensaios nos galpões.
Bem... e por aí vai. Depois tem sempre aquela matéria em que o jornalista, por melhor que seja, começa a frase mais ou menos assim: “por enquanto o único barulho dos galpões é este” (então corta a cena da imagem dele e aparecem as pessoas martelando, soldando, costurando, serrando... e volta para o repórter), “mas daqui há 1 semana o som será este” (daí começa aquele TumTum, BaticumDum, Ziriguidum!), enfim, que chato.
Nada tira da minha cabeça que lá no íntimo, no escurinho do quarto, os dois não vertam lágrimas quando se dão conta de que terão que iniciar as matérias sobre o Carnaval Globeleza. Nada contra, atenção. Eu sou um admirador desse casal e acho que eles são o que de melhor existe em termos de jornalismo para as massas. Não sou daqueles que pregam o fim da Rede Globo, a vilã que representa todo o mau... eu heim, para mim todo o mal não está na Globo, mas lá para os cantos de Brasília, especificamente no Palácio do Planalto.
Bem, mas estou dando voltas e mais voltas e meu objetivo é fazer um contra-ponto às críticas da eleição do Senado com o argumento de que são sempre os mesmos. A pergunta é: porque ninguém reclama dos sempre mesmos chatos que aparecem nos carnavais do Brasil? Será que só existe Chiclete com Banana, Ivete Sangalo e Cláudia Leite? Mas eu simpatizo com o carnaval do Nordeste, primeiro porque ele é mais “genuinamente popular”, apesar dos abadás custarem uma fortuna, e segundo porque ele está mais longe de mim. Agora perigosos mesmo são os desfiles de escolas de samba do Rio e de São Paulo. Haaa, esses são verdadeiras ameaças.
Reparem. As rainhas de bateria são sempre as mesmas, que vivem sorrindo para as câmeras, mas na verdade fazem verdadeiros conchavos políticos (tantas vezes piores do que os de Brasília), para ocupar o posto tão almejado. Fora as dietas absurdas e as plásticas infernais, mas daí é problema delas né, não meu. De qualquer forma o processo é longo e elas se engalfinham para mostrar o bumbum para os fotógrafos. Eu fiz uma pesquisa, ou melhor, um pequeno levantamento estatístico e posso comprovar a proporção de distribuição das vagas:
- 30% são atrizes bonitonas;
- 10% são namoradas e/ou amantes de alguém considerado importante: um presidente de escola, traficantes, ou pagodeiros ou tudo isso juntos (este post é uma brincadeira para entreter o leitor, mas não pensem que o narcotráfico também não financia a festa!);
- 30% são ex-capas da Playboy;
- 5% participaram de alguma edição do BBB;
- 20% são modelos;
- 5% são da “comunidadii”
Observem então as entrevistas das “celebridades” nos ensaios dos galpões. Sempre os mesmos. Sempre as mesmas perguntas e respostas idênticas às que foram fornecidas no Carnaval passado. Não seria mais fácil colocar o video tape do Eri Johnson, da Viviane Araújo, do Zeca Pagodinho e de tantos outros respondendo as mesmas perguntas do ano passado? E o pior são aquelas entrevistas que sempre terminam com um: “Escola de Tal na Cabeeeeçaaaaaaa” ou, “Escola de Tal arrebentandôôôôô... U-Huuuuu”. Fora o “Vamu ganhá Vamu Ganháááá!”.
Tenho certeza de que cronistas talentosos e engraçados já publicaram críticas sobre este mesmo aspecto que eu estou fazendo neste blog. Mas se na política são sempre os mesmos, nos Carnavais são sempre os mesmos, porque eu não posso abordar sempre os mesmos temas?
Com tamanha repetição eu definitivamente nem consigo mais ver graça alguma na Luiza Brunet, objeto de meus desejos mais íntimos ao longo de minha adolescência, transformada em meu pesadelo mais nítido nas transmissões do Carnaval.
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