quinta-feira, setembro 11, 2008

As Três Fases da Campanha Eleitoral

Fonte: Site da Revista Veja (www.veja.com)
Autor: Jairo Nicolau (Cientista Político e Professor do IUPERJ)

"A campanha eleitoral no Brasil dura oficialmente três meses. Ao logo deste período, o interesse dos eleitores e dos meios de comunicação varia e os candidatos criam diferentes estratégias para suas campanhas. A partir da experiência de outras eleições, considero que as campanhas eleitorais para os cargos do Executivo possam ser divididas em três fases distintas.

A primeira fase vai do começo de julho, quando as candidaturas são oficializadas, até meados de agosto, quando começa o horário eleitoral no rádio e televisão. Nessa fase, que dura aproximadamente seis semanas, surgem os primeiros sinais de campanha de rua, mas o interesse dos eleitores e dos meios de comunicação pela disputa ainda é reduzido. Lembre que essa fase coincide, ora com a Copa do Mundo, ora com as Olímpíadas. As pesquisas feitas durante esse período apresentam altíssimo contingente de indecisos e tendem a favorecer os nomes de candidatos mais conhecidos do eleitor.

A segunda fase começa com a propaganda no rádio e televisão e vai até meados de setembro. É o momento que a campanha começa para valer nas maiores cidades. O horário eleitoral e os comerciais de 30 segundos durante a programação ampliam o conhecimento dos eleitores dos candidatos que estão na disputa. Nessa fase, os candidatos intensificam a propaganda de rua e o espaço da cobertura da campanha nos meios de comunicação é sensivelmente ampliado. Ao fim deste período, a maioria dos eleitores já têm conhecimento dos nomes que concorrem e o número de indecisos tendem a cair drasticamente. As pesquisas feitas no fim deste período já captam o padrão mais geral da disputa.

A última fase da campanha vai de meados de setembro ao dia das eleições. Nessas três últimas semanas, cresce significativamente o interesse dos eleitores pela disputa,. Esses passam a assistir com mais freqüência o horário eleitoral e aos eventuais debates entre os candidatos. Entre 20% e 30% dos eleitores costumam chegar a essa fase ainda indecisos (com maior concentração na população mais pobre e menos escolarizada). Por isso, ainda existe margem para as "surpresas" de última hora. Essa é sempre a esperança -- e na maior parte das vezes, a ilusão -- dos candidatos.

Creio que este esquema resuma, em linhas gerais, o padrão geral das campanhas para o Executivo no Brasil. Mas estou consciente da existência de diferenças de ritmos da política em cada uma das cidades. Uma fator fundamental que distingue as cidades é a existência de canais locais de televisão para veicularem o horário eleitoral. Outro é o tamanho da população. Em cidades pequenas os candidatos não tem a mesma dificuldade de se fazerem conhecer, e o papel da relações pessoais é bem maior.

Estamos nos aproximando do fim da segunda fase da campanha. Os resultados das pesquisas para algumas capitais aponta favoritos inequívocos, com alta probabilidade de vencerem já no primeiro turno. Por exemplo: Beto Richa (PSDB), em Curitiba; João da Costa (PT), no Recife; Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. A disputa está aberta e deve ser emocionante em Salvador, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Fortaleza. Em todas essas últimas o alto contingente de indecisos aumenta as chances de surpresas de última hora."

Tendências das Campanhas Eleitorais

Estamos em plena campanha eleitoral, porém, definitivamente, as eleições para prefeitos e vereadores de todo o país passa por uma interessante mudança. As novas regras do jogo eleitoral, que incluem mais restrições ao uso do poder econômico para angariar votos, transformou a lógica com que os candidatos devem buscar seus votos.
A possibilidade de realizar mega eventos com a participação de "mega" artistas e a possibilidade de realizar trabalhos de construção de imagem via o uso intensivo, e em escala, de recursos de comunicação tradicionais facilitava o acesso do candidato ao universo do eleitor.

A despeito do tempo da TV continuar a ser o elemento fundamental das campanhas eleitorais, novas frentes de trabalho surgiram. Destaco o uso mais intenso da internet e o que vou chamar de "corpo-a-corpo terceirizado".

A internet representa o futuro das eleições que, combinada com a estratégia do horário eleitoral gratuito, deverá servir como fonte primordial de informações sobre os candidatos, já na próxima década (ou seja, no pleito de 2016), desde que a taxa de crescimento de acesso à rede mantenha-se no ritmo atual.

Outra estratégia que já se mostra como realidade é a idéia do "corpo-a-corpo terceirizado". A gigantesca escala na quantidade absoluta de eleitores, combinada com a restrição para produzir certos materiais de campanha, fará com que a mensagem do candidato, acompanhada dos pedidos de voto, tenha que chegar diretamente ao eleitor, por meio de um interlocutor qualificado e muito bem treinado. Antigamente, o conceito de corpo-a-corpo era definido como aquele contato direto do candidato com os eleitores, os quais incluem o discurso na porta da fábrica as 6 da manhã, o cafézinho magro do meio da tarde, os tapinhas nas costas, apertos de mão, abraços, risadas e demais "xamegos" feitos para os eleitores. Como prevalece a idéia de que não existe ninguém melhor para pedir votos do que o próprio candidato, o objetivo do "corpo-a-corpo terceirizado" seria reproduzir a capacidade de comunicação do candidato em grupos de cabos eleitorais altamente qualificados.

Em muitas campanhas, os "multirões qualificados" utilizarão pessoas com maior grau de escolaridade, melhor capacidade de articulação e amplo conhecimento da realidade política e social das regiões que visitam. Essas pessoas deverão conversar diretamente com o eleitor e, ao fazer isso, comportar-se com o mesmo comprometimento do candidato que representam, ou seja, se o candidato não consegue apertar a mão de cada cidadão pessoalmente, ele deverá tentar reproduzir seu aperto de mão e seu "dedo de proza" em escala. A figura do entregador de panfletos e dos porta estandartes, vulgarmente conhecidos como "seguradores de bandeira" deve ser cada vez menos importante durante as eleições e parte dos recursos economizados em gráficas, brindes, shows e camisetas deverá ser dirigida para a contratação e treinamento das pessoas com o perfil que citei acima.

Se a eleição é convencimento, nada melhor do que articular TV-Internet-conteúdo em ações de marketing que possam transmitir mensagens melhor elaboradas e mais verdadeiras.

Outra tendência interessante, a qual veremos, também, na próxima década é o conceito da "campanha sustentável" ou "eleições limpas". Neste caso não estamos citando a limpeza como honestidade, honradez e ética, mas sim como asseada e ecológicamente correta. Uso de materiais alternativos e papel reciclado, além da restrição a pintura de muros (a tinta possui elementos tóxicos) são algumas das armas que estarão disponíveis nas próximas eleições.

Entre a limpeza ética e a limpeza das ruas eu fico com a primeira, mas se ainda não podemos exigir tanto de boa parte da classe política, ao menos desejamos ver campanhas mais asseadas e comprometidas com a sustentabilidade e com o conteúdo das idéias.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Crônica de um Ônibus que Voa (Parte 1)

Nada melhor do que retomar os trabalhos de nosso blog, este preguiçoso, com um texto leve, porém verdadeiro. Trata-se de uma história real, vivida por alguém que, não se sabe ao certo a razão, sempre atrai para si as situações mais inusitadas.

Quando cheguei ao saguão de embarque do Aeroporto Internacional de Bogotá, percebi que meu vôo seria povoado pela raça de gente mais peculiar do planeta: a nossa! Pés sobre as cadeiras, pessoas deitadas ocupando 3 ou 4 poltronas, gargalhadas estridentes, gritos, palavrões, migalhas de salgadinhos pelo chão e crianças histéricas correndo. Todos os jovens sentados e todos os idosos em pé. Seguramente se tratava de um saguão tomado por brasileiros.

Respirei fundo e disfarcei minha nacionalidade o quanto pude. É que me dá vergonha, entendem?! Pois bem, com o cheiro de chulé pelo ar (brasileiro não consegue ficar mais de 30 minutos em um ambiente como aquele sem tirar o sapato), abri meu livro e tentei me concentrar. Impossível, claro.

Minutos depois a mocinha do sistema de som convidou os passageiros em cadeiras de rodas, idosos e de primeira classe a entrar na fila em primeiro lugar. Todos eles ficaram por último. Ao primeiro som da voz em que dizia algo como: Atenção passageiros do vôo de número 0650, uma turba se lançou sobre a porta de entrada se acotovelando e terminando de pisar nos doces e salgados que haviam jogado no chão minutos antes.

Uma família composta por pai, mãe e 3 filhos chegou primeiro, apesar do mais novinho ter ficado para trás, sua babá, toda de branco, tentou amparar a criança desconsolada. Um casal de meia idade, com a mochila da CVC, era empurrado pela massa, enquanto outra família com pinta de aristocrática se queixava da bagunça; naquele instante percebi outra família, ainda maior tentando organizar seus bilhetes. Paaaaiiiii, seu bilhete está comigoooo! Cadê a Vovó? Gente a vovó sumiu! Caio, devolve meu iPod! Mãe, não acho minha mochila!

Percebi imediatamente que aquelas não eram pessoas, eram personagens.

Finalmente entrei na aeronave e descobri com um certo prazer que meu assento era o primeiro da segunda metade do avião, de maneira em que não tinha nenhum outro assento à minha frente e isso me permitiria esticar minhas longas pernas. Minha satisfação se desfez assim que percebi que os banheiros também estavam na minha frente. Tive o ímpeto de perguntar qual o nome do infeliz que colocou aqueles banheiros justo ali, mas logo percebi que seria inútil.

Tudo bem, vamos voar. Voar? Não, impossível. O avião não sai do solo enquanto todos os passageiros não se acomodarem e essa tarefa é praticamente impossível quando mais de 80% dos habitantes do "obitáculo aeronáutico" têm, em suas bagagens, um passaporte com a palavra “Brasil” impressa na capa. Reparei que a babá de branco estava na primeira fileira, do lado esquerdo, à minha frente. Ela sentou-se, apertou o cinto e respirou fundo, levantando os ombros e fazendo o sinal da cruz. Depois virou-se para a patroa e perguntou se estava na hora da mamadeira. Não, não estava.

O casal da mochila da CVC sentou-se ao meu lado e logo que apertaram o cinto ele lembrou que havia esquecido seus óculos.

Levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, retirou a caixa de óculos, abriu o recipiente, extraiu suas lentes de seu interior, fechou a caixinha, guardou na mochila da CVC, fechou o zíper, colocou-a de volta no compartimento de bagagem, fechou o compartimento, pediu licença e sentou.

A família da vovó perdida resolveu que queriam, todos... vou repetir... TODOS, mudar de lugar. Assim, a mãe trocou com o filho, o pai com a filha mais nova, a filha mais nova queria ficar ao lado da prima, que trocou com o irmão, que cedeu lugar à mãe e foi se sentar junto da irmã mais velha, que já havia trocado de lugar com os tios que queriam sentar no corredor, sendo que as janelas foram ocupadas pelos adolescentes do grupo e, depois de toda a troca, a vovó ficou em pé. Sim, a vovó não sabia mais qual era seu assento e perdera seu bilhete. Uma reunião de emergência foi convocada pelo pai da família e assim todos se levantaram novamente para, em frente ao banheiro, descobrir onde fora parar o bilhete da avó.

Enquanto eu tentava escutar a discussão, o senhor da mochila da CVC se lembrou que havia esquecido de pegar seu livro. Então levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, retirou o livro, fechou o zíper, colocou-a de volta no compartimento de bagagem, fechou o compartimento, pediu licença e sentou.

A babá sorria amarelo para a patroa e perguntava: tá na hora da mamadeira? Não. Não estava. Então o comandante da espaçonave começou a repetir pelo auto-falante que não poderia decolar se os passageiros não se sentassem. As comissárias de bordo corriam de um lado para o outro pedindo para todos se acomodarem. A família da vovó decidiu fazer um sorteio dos lugares e esperar todos se sentarem para saber qual era a poltrona que estava faltando.

Minutos depois todos se sentaram. O avião então começou a se mover e então o senhor da mochila da CVC... bem, vocês sabem. Ele resolveu trocar os óculos que pegara anteriormente por outro de lente para leitura. Então levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, realizou toda a operação, pediu licença e sentou. Neste momento a comissária, pela enésima vez, pediu para ele e as demais pessoas sentarem.

Então o Boeing da Avianca alcança a cabeceira da pista e inicia a aceleração para seu deslocamento do solo. Quando o avião está em plena aceleração, irrompe pela porta do banheiro o filho do casal aristocrático, segurando as calças e correndo em direção ao seu assento, enquanto a comissária pedia, já com a paciência no limite, para que o moleque sentasse. O avião decola, as luzes estão praticamente todas apagadas. Eu ouço o ruído do trem de pouso sendo recolhido e, em pleno alçar vôo, com a aeronave ainda em forte vertical, aparece a babá com duas mamadeiras nas mãos, fazendo um sorriso para a comissária sentada em uma daquelas cadeiras retrateis da tripulação perguntando se ela poderia esquentar a água.

Definitivamente foi uma das cenas mais inacreditáveis que vi em minha vida. A babá, toda de branco, sorrindo para a comissária, com uma mamadeira em cada mão sendo alegremente sacudidas para que pudessem chamar a atenção e auxiliar na comunicação com a estrangeira que, atônita, arregalou os olhos de uma forma que eu nunca havia visto em minha vida. E a babá dizia: água quente?! Água quente?!

(continua...)

Crônica de um ônibus que Vôa (Parte 2 - Final)

A aeronave levantava vôo, a babá de branco dobrava o joelho direito para compensar a inevitável força da gravidade que empurrava seu corpo para o fundo da aeronave e, naquele momento, rasgando todos os manuais de atendimento ao cliente, a comissária, quase aos gritos, mandou a babá retornar ao seu assento. Incrivelmente, quando estava prestes a se sentar novamente, a babá deu meia volta, foi em direção à comissária e perguntou sorrindo: mas depois você esquenta a água, né?!

Deu para ver as veias dos olhos da comissária encharcadas de sangue pulando em direção à babá!

Então o senhor da mochila da CVC pensou alto: hiiii... esqueci meus comprimidos. Simultaneamente, eu, sua esposa e a comissária gritamos: Depois você pega!!!!

Um pouco sem graça com meu destempero, enfiei minha cara no livro que estava lendo: “Uma Breve História do Mundo”. Seu autor descreve, entre outras coisas, os avanços da humanidade em milhares de anos de história. Descrente, adoraria vê-lo sentado em meu lugar observando aquela bagunça. Duvido que falaria em desenvolvimento humano!

O avião atinge sua velocidade de cruzeiro, as luzes se acendem, a babá volta a pedir água quente, o senhor da CVC levanta-se para buscar seus comprimidos e as pessoas todas já circulam, só de meias (claro!) pela aeronave. A vida voltou ao normal.

Tento dormir. Há um ruído estranho à minha frente. Ele se repete com freqüência, mas meu sono não me deixa localizá-lo. Meus olhos lutam, cheios de areia, meu sono é insaciável e meu auto-controle diminui. Não posso dormir, nem ficar desperto. Os ruídos são intermitentes. Então aproveito a presença da comissária e peço um café. Prontamente atendido, consigo finalmente localizar a origem do barulho que não me deixava dormir: a porta do banheiro! Sim, a porta do banheiro fora freneticamente testada durante os primeiros minutos de vôo. Reparei que todos queriam entrar no cubículo.

Abro uma nova fonte de observação. Como o movimento era intenso naquela área, fecho os olhos e começo a contar quantas vezes a porta foi aberta, fechada e travada. Calculei que em um espaço de 30 minutos o dispositivo do trancamento da porta foi acionado 23 vezes. Multiplico esta quantidade por dois (são dois banheiros), depois pelas horas de vôo, divido pelo número de passageiros e chego a conclusão que, mantido o ritmo inicial, cada pessoa teria que ir 2,9 vezes ao banheiro até o final da viagem. Descontando as crianças a bordo que usavam fraldas e a vovó perdida que provavelmente também vestia o mesmo aparato, porém na versão geriátrica, cheguei à estarrecedora conclusão de que cada passageiro iria ao menos 3 vezes ao banheiro ao longo do percurso. Então me perguntei: que diabos colocaram na porcaria da refeição a bordo???

Mas o problema não é a comida, mas sim esse “faniquito” descontrolado que brasileiro tem em se mexer. Qual é a dificuldade de se manter sentado? Qual o problema em permanecer tranquilo, lendo um livro, apreciando uma bebida e calçado? Mas não! Tem que correr no corredor, contar piadas em alto e bom som, fazer guerra de bolinha de meia e reclamar que o país está uma bagunça!

Em meio a toda essa balbúrdia o pai da família aristocrática encontra-se em frente ao banheiro com seu colega, o patriarca da família da vovó. Este reclama que tem que pagar propina ao governo para fazer suas obras. Ele é engenheiro, mas não teme em construir uma imagem ruim de sua empresa publicamente. Coincidentemente o outro também é engenheiro e assim ambos constroem um diálogo pouco concreto e em blocos, sendo que cada empreendimento intelectual de um, acaba sendo incorporado pelo outro, ainda que a metragem dos raciocínios seja mínima.

Nessa linha, o aristocrata solta a seguinte tese: o problema da queda da Bolsa de Valores de São Paulo é esse monte (sic) de taxistas que agora compram ações! Esperem! Silêncio Total! Vocês leram isso?! O problema da queda da bolsa é dos taxistas! Gênio! Grandioso! Sublime! Jamais teria pensado em uma construção intelectual tão precisa, tão bem amalgamada com um raciocínio concreto de primeira linha e fundição baseada na melhor matéria prima! Estava lá a resposta para minhas indagações! Consigo até ver a Fátima Bernardes, fazendo cara de preocupada enquanto lê no prompt: “O Banco Central anunciou medidas para conter a entrada dos taxistas na Bolsa de Valores. A partir da próxima semana a categoria poderá estacionar seus veículos no máximo a 300 metros da entrada da porta principal. Estão proibidos também de operar na Bolsa e comprar ou vender ações de quaisquer tipos. Com esta medida o governo acredita que a economia brasileira irá suportar a saída de investimentos e, ao mesmo tempo garantir a estabilidade dos mercados mundiais.” Aí vem o comentarista: “É verdade, após sofrer fortes quedas, a Bovespa pretende impedir a patuléia da classe média de investir em ações. Tudo começou com os taxistas, mas os analistas já se preocupam com a chegada de outras categorias, como as de lojistas, profissionais liberais e aposentados. A consultora financeira “Gold Money Wealth” fez uma interessante pesquisa em que dizia que pobre e classe média tem mesmo é que pagar impostos, comprar geladeira nas Casas Bahia, comer Maçã do Amor no Parque da Mônica e deixar os investimentos da Bolsa de Valores para os ricos”. É o fim do mundo.

Neste momento, o piloto anunciou que iniciara os preparativos para o pouso. A viagem chega ao fim com um efusivo aplauso dos passageiros. Tudo parece novamente tranqüilo e normal. A família aristocrática se arrumou no banheiro e saiu toda perfumada. O senhor da mochila da CVC perdeu os óculos dentro do avião.

Finalmente saio da aeronave, mas minha mala demora para chegar. Todos se vão. Menos eu. Olho em volta e por um vidro do saguão vejo um fio de luz da manhã irrompendo pela madrugada. Finalmente minha mala azul chegou. Retiro-a da esteira lentamente. Vou em direção à saída, mas algo me chama a atenção. Olho para trás e lá estão elas.

A vovó, provavelmente esquecida por sua família, toma leite em uma mamadeira amparada pela babá de branco. As duas estão descalças rodando em cima da esteira de bagagens de número 4.

Lá fora pego um táxi e puxo conversa com o motorista. Tento falar sobre futebol, mas ele só quer conversar sobre a Bolsa de Valores.