sexta-feira, março 06, 2009

Para Entender o Retorno de Collor

Muita gente pode tentar encontrar um adjetivo para definir o "retorno" de Fernando Collor: vergonha, volta ao passado, falta de memória... Em minha opinião não é nada disso. Vamos por partes.

Em primeiro lugar existem dois erros conceituais nas inúmeras matérias que citam o "retorno" de Collor:
1- Collor nunca saiu de cena e
2- Collor já estava em cena desde que fora eleito para o Senado.

Vamos aos pormenores.
1- Collor nunca saiu de cena e quem nunca partiu não tem como retornar. Quando Collor sofreu o processo de impeachment e renunciou ao mandato, seu nome permaneceu nas notícias, em reportagens especiais, nos artigos políticos, nas bancas de monografias, TCC´s, mestrados e doutorados. Ainda que tenha saído por algum tempo da grande mídia, seu nome continuou a ser importante para aquele pedaço de terra bonito chamado Alagoas. Sua família, poderosa e dona de meios de comunicação importantes, manteve o "brilho" do político e pôde defender a tese de que, após a decisão da justiça inocentando o ex-presidente pela acusação de corrupção passiva, o impedimento pelo qual passou vinculava-se muito mais a uma perseguição política do que a um caso de polícia.

Da tragédia política veio a tragédia pessoal, principalmente com a morte de sua mãe, Leda, que fora uma figura central em sua vida e formação. Seu "exílio" em Miami representou o período de maior ostracismo, mas enquanto curtia a vida com Rosane Collor, entre uma marguerita e outra, o ex-presidente jamais deixou de acompanhar a cena política nacional, que incluía a ascensão política de FHC, o fortalecimento da democracia no país, o equilíbrio econômico gerado pelo Plano Real, bem como os primeiros sinais das mudanças de rumo da oposição, que levariam mais tarde o atual presidente Lula, ao seu primeiro mandato.

Fernando Collor também acompanhou de longe o retorno dos sinais exteriores de riqueza de seus antigos companheiros, que voltaram à cena mostrando que tinham capacidade financeira de sobra para investir em novos negócios como agências de turismo, boates, propriedades, concessionárias de veículos importados e até jornais. Como se vê, a corrupção rendeu frutos para toda aquela turma muitos anos depois e ainda por muito tempo.

Sua primeira tentativa de retorno à política (ainda com os direitos cassados) foi em uma tosca campanha pela prefeitura da cidade de São Paulo. Mais tarde, em 2002, Collor tentaria o cargo de governador do estado de Alagoas, eleição que perdeu em primeiro turno para Ronaldo Lessa.

2- Collor já estava em cena desde que fora eleito para o Senado.
Após sua derrota na campanha para o governo do estado de Alagoas, o ex-presidente manteve sua agenda política e reforçou posições em diversos pontos do estado. O resultado de sua persistência apareceu de maneira memorável, quando pôde dar o troco em Ronaldo Lessa, sendo eleito, em 2006, na disputa por uma cadeira no Senado, cujo mandato de oito anos começou em 2007.

Portanto, dizer que Collor "retornou" não me parece muito correto. Para ser mais preciso, o senador Fernando Collor "reforçou" a sua posição ao assumir um dos cargos mais importantes do Senado, o de presidente da Comissão de Infraestrutura, por onde passam, por exemplo, todos os projetos do PAC.

Resta-nos analisar qual o significado desse "reforço" em sua posição política e como isso pôde acontecer em uma Casa dominada pelos partidos que formam a base aliada do governo. É claro que Collor não é um opositor de Lula; suas declarações e votações deixam isso bem claro. Mas Collor não gosta do PT e vencer a senadora Ideli Salvatti certamente deve ter gerado um certo prazer todo especial.

O nome que está por trás de todo esse processo é um só: José Sarney. Ele de novo. Mas o articulador do processo sem dúvida alguma é Renan Calheiros. Como se vê, os brasileiros estão muito bem representados: Fernando Collor, José Sarney e Renan Calheiros.

No período em que se discutiam as alianças para eleger o novo presidente do Senado o cálculo para obter os votos necessários passavam, também, por Fernando Collor. O compromisso firmado solucionaria vários interesses do PMDB, que incluiam a eleição de Sarney e a tomada de poder, ainda que indiretamente, de postos fundamentais para o funcionamento da Casa.

Do ponto de vista institucional, os inúmeros arranjos vem gerando a paralização dos trabalhos do Senado, que há muito não discute matérias importantes para o país. Do ponto de vista macro político, ainda é cedo para saber se o ex-presidente Collor, agora ocupando um cargo de destaque, fará alguma diferença para o cenário nacional e quanto de energia ele possui para tentar superar a própria biografia.

5 comentários:

Rodrigo Volponi disse...

Duka!!! Muito bom professor!!! Obrigado pela ótima explanação.

Anônimo disse...

Fernando Collor, José Sarney e Renan Calheiros, é professor a tríade do barulho, sempre os mesmos nos assombram.Só falta o PC ressuscitar.

Hoschett-Jornalismo

André Salvagno disse...

Vaso ruim não quebra. Assim como o fanfarrão do Maluf, esse safardana continua na ativa.
O meu medo é que esses caras estão conseguindo cargos cada vez mais importantes...

Anônimo disse...

Como acreditar na politica do pais? Eu tento, mas nao consigo... sempre os mesmos... e quando pensamos que nada pode ser pior... aparece um Protogenes... denuncias que nada acrescentam... enfim... e nós... o povo brasileiro... continuamos nessa... mas... estamos no meio... afinal, nós que colocamos essas figuras la em cima... lembrem-se que se o Collor esta neste cargo.. é pq o povo alagoano o elegeu como senador...

Jeh disse...

Professor...
Que cachorrada é essa sobre o Protogenes? Nos explique, por favor! O que acontece neste pais? Outra coisa, o Lula está adiantando a campanha de 2010?
Abracos
Jessica - JOrnalismo - 3 Etapa - Noturno