Compreendo que alguns alunos se sintam ansiosos para ter os resultados das avaliações, porém peço um pouco mais de paciência, pois somente terminarei de corrigir tudo no próximo final de semana. O problema é que gosto muito de ler o que vocês escrevem e, neste sentido, observar como anda a capacidade de articulação e construção de raciocínios por meio da escrita. Isso é muito importante. Não desejo que sejam literatos, porém devemos manter um certo nível de exigência e um padrão da escrita formal que gostaria de perseguir junto de vocês.
Sempre quando penso nisso, me lembro das histórias de Rui Barbosa. Para quem não se lembra, Rui Barbosa foi um dos mais ilustres personagens de nossa história, naquele tempo em que a inteligência ainda era valorizada e bonito era ser intelectual, formador de opiniões e um excelente orador. Rui Barbosa era tudo isso e muito mais: um excelente jurista, grande jornalista, defensor da liberdade de imprensa e das liberdades civis. Presidente da Academia Brasileira de Letras, candidato à presidência da República em duas ocasiões e Juiz da Corte Internacional de Haia. Apesar de não ser um conhecedor profundo de suas obras, aprecio muito sua forma de articular seus pensamentos e sua visão moderna sobre o mundo.
Em 1865 escreveu: "A primeira verdade dos governos livres é que a responsabilidade deve estender-se igualmente por todos os graus da hierarquia governamental. Todo aquele que, revestido de autoridade, exerce mediata ou imediatamente qualquer função pública, desde o agente de polícia até os mais altos funcionários do estado, não pode evitar a responsabilidade de seus atos perante os tribunais ou perante a nação." Bem atual, não é mesmo?
Contudo, gosto especialmente desta frase, cuja data desconheço:
"O poder não é um antro; é um tablado. A autoridade não é uma capa, mas um farol. A política não é uma maçonaria, e sim uma liça. Queiram, ou não queiram, os que se consagraram à vida pública, até à sua vida particular deram paredes de vidro. Agrade, ou não agrade, as constituições que abraçaram o governo da Nação pela Nação, têm por suprema esta norma: para a Nação não há segredos; na sua administração não se toleram escaninhos; no procedimento dos seus servidores não cabe mistério; e toda encoberta, sonegação ou reserva, em matéria de seus interesses, importa, nos homens públicos, traição ou deslealdade aos mais altos deveres do funcionário para com o cargo, do cidadão para com o país."
Faz falta neste momento de nossa história uma figura como Rui Barbosa. Os brasileiros parecem resignados com um destino medíocre de assistencialismo, com negociações espúrias, corrupção, cinismo generalizado e com essa mania de querer sempre menos, mesmo quando podem ter mais.
Conhecido por sua intelectualidade e profundo conhecedor da Língua Portuguesa, reza a lenda que em um fim de tarde, ao chegar a sua casa, Rui Barbosa ouviu um barulho estranho vindo de seu quintal.Chegando lá, constatou que havia um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo, surpreendendo-o tentando pular o muro com seus amados patos. Batendo nas costas do tal invasor, disse-lhe:
“Ô bucéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmíferes e sim pelo ato vil e sorrateiro de galgares as profanas de minha residência. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha
alta prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de sua sinagoga que reduzir-te-á à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.”
E o ladrão, confuso, disse:
- Ô moço, afinal, eu levo ou deixo os patos?
O problema desta história é que não se sabe qual a resposta de Rui Barbosa para o meliante.
Não sei vocês, mas eu não roubo e por isso tenho a sensação de que pago o pato.
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