quinta-feira, março 08, 2007

Mulheres

Por Reinaldo Azevedo
Portal da Revista Veja (08/03/2007)

"Jantei com um grupo de amigos no sábado. Entre eles, estava o presidente do conselho de administração de uma grande empresa, gigante em seu setor. Dizia-se surpreso com um dado da realidade: entre os candidatos a estagiários e a jovens executivos — engenheiros, administradores, pessoal de marketing —, 80% são mulheres, boa parte delas com currículos mais robustos do que os dos rapazes. Ele chegou àquele ponto em que pode se ocupar destas coisas: a renovação dos quadros da empresa, o acompanhamento das dinâmicas de grupo, os debates internos...

Segundo constata, o grau de agressividade das moças na disputa pelos cargos é muito maior do que o dos homens. Também conseguem, diz ele, ser muito mais cruéis. São mais dedicadas ao trabalho, não partilham de certa camaradagem que ainda há entre os rapazes — eles tendem a encobrir os erros uns dos outros, afirma — e, à diferença do que se supõe, tendem a decidir com mais objetividade. O que atrapalha a carreira das mulheres? Ele tem certeza: ainda é a maternidade — a que muitas executivas renunciam.

Não tenho números — raramente escrevo sobre eles, e sim sobre qualidades. Mas não seria difícil a qualquer um, feminista ou não, provar que a quantidade de mulheres no comando ainda não retrata a sua formação média na comparação com os homens. Acho que é questão de tempo. Nas carreiras que não pedem, vá lá, um tantinho a mais de testosterona (jornalismo, por exemplo), elas já são maioria. No dia em que a estiva estiver toda informatizada, talvez aconteça o mesmo... Na véspera do Dia Internacional da Mulher, constato: ser homem está se tornando, do ponto de vista social e político, um péssimo negócio. Até no que concerne aos valores, digamos, morais, acontece o mesmo: guerras, disputas, comportamento predador, máfia, narcotráfico, genocídio... A culpa é sempre do macho.

Pessoalmente, fico até contente. Tenho duas filhas. Prefiro um mundo mais amigável às mulheres. Sou curioso quanto ao futuro. Que papel estará reservado aos homens? Independentemente da opção sexual (homo, hetero ou total flex) deles, estão se “feminilizando” na vestimenta, nos hábitos, nas disputas. Jogadores hoje mais se beijam do que se chocam em campo. Um beijo, na nossa cultura, comporta sempre algum apelo sensual. Mas é óbvio que as bitocas nada têm de (homo)sexual. É que eles se obrigam à ternura.

Boa parte do que se considera o comportamento civilizado nas escolas da classe média é um padrão feminino. Os garotos se sujeitam à ditadura das garotas. Elas se tornam mulheres primeiro do que eles se fazem homens. Durante um bom tempo, eles experimentam uma espécie de humilhação sexual: moleques de 12 ou 13 anos são esmagados, sentimentalmente, por quase-mulheres da mesma idade, não raro com todos os sinais evidentes da maturidade sexual. Concorre também para esse quadro o fato de que a maioria dos especialistas em educação são “as” especialistas. Olham o mundo masculino como um conjunto de impulsos a ser refreado, domesticado, mitigado, enquadrado.

Escrevi certa feita um texto em que afirmei que o verdadeiro negro do mundo é o macho branco, heterossexual e pobre. Muita gente protestou, claro. Mas é fato. Ele não rende uma boa causa, e nenhum militante se interessa por seus problemas. Reivindicar o quê? Qualquer forma de proselitismo cheiraria a reacionarismo, a uma tentativa de fazer a sociedade regredir a um estágio anterior, em que a desigualdade era a norma. É claro que o que digo aqui tem também um viés que poderia ser considerado, sei lá, de classe. No povão, ainda não é assim. Boa parte das famílias pobres é chefiada por mulheres. E não por afirmação feminista, mas porque os maridos somem, dão no pé, migram, desaparecem, deixando atrás de si as responsabilidades. Mas também isso é uma questão de ajuste. A tendência está mais do que esboçada. O mundo é das mulheres. Quem tem de se perguntar hoje “o que fazer?” são os homens.

Elas estão à frente também do que se chamava antigamente “indústria cultural”, oferecendo valores, propondo novos comportamentos, ditando o ritmo até do avanço científico em certas áreas. A Veja desta semana deixa claro o quanto a medicina se ocupa das mulheres. Só um lobby é, talvez, mais poderoso do que o feminino na cultura ocidental: o gay — mas, nesse caso, não se pode dizer que se trata exatamente da apologia do mundo masculino.

Viram O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee? As esposas são seres deploráveis: uma é histérica, e outra é idiota. E os dois pastores se entregam a folguedos rurais. Quando elas aparecem, o ambiente é sempre pequeno, opressivo, cheio de cacarecos no cenário. Já eles se amam na paisagem aberta, que conspira a favor do romance. Ainda que haja um esforço para se construir um drama psicológico, não vê o aspecto misógino do filme quem não quer. As feministas não protestaram porque os gays são seus aliados na luta anti-homem. Aposto que Ang Lee, o diretor, detesta mulher. Se os machos deixassem em casa as suas fêmeas para jogar sinuca, futebol ou transar com prostitutas, o diretor seria hostilizado. Como o faziam para cair um nos braços do outro, então se falou que ele fez um filme “sensível”. Jogaram-lhe flores.

Além do aspecto político — não enfrentar o poderoso lobby gay —, deve querer dizer alguma coisa o fato de que as mulheres só aceitam ser segregadas no caso de os homens compartilharem uma espécie de paixão narcisista, estéril, de que elas não têm como participar. Fora isso, nem vem que não tem: elas já estão prontas para humilhar você também na sinuca, amigão. Deplorando sempre, é claro, seu jogo agressivo e a sua mania de querer ganhar sempre. Não gostou? Suba a montanha. Os que ficamos na planície constatamos uma revolução em curso.

Não reclamo. Apenas constato. E até aplaudo."

2 comentários:

Anônimo disse...

Ocorre que as mulheres estam sendo superando em tdo que fazem, e talves ofuscando um pouco o brilho dos homens...segue um texto que eu recebi por ...acho que ilutras um pouco isso.
PS:mto bom o texto do reinaldo

"Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?


Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?"...

Anônimo disse...

Esse dias usei uma frase para um homem: Sou muito mais macho que vc.

As mulheres estão tomando seu espaço e os homens se reprimindo, a nossa agressividade os intimida...
Enfim, merecemos nosso espaço...