domingo, julho 15, 2007

Todas os Minhas Crianças em Mim

Esta será a última mensagem antes das minhas férias e das férias deste blog.
Preciso mudá-lo um pouco, a começar pelo nome e pretendo dinamizá-lo de alguma forma, mas ainda não sei como. Terei que pensar. E é este o problema: pensar. Não sei quem disse isso, me desculpem, mas a frase é muito boa: todo conhecimento adquirido é um novo fardo que se carrega. Sempre pensei o contrário, pois para mim, todo novo conhecimento era (ou é) uma gota de liberdade que se bebe. Mas nesta tarde reuni quatro crianças em minha casa para assistir ao jogo do Brasil com a... com a... nem me lembro qual era o nome do time de azul que corria abestalhado pelo campo. Mas, enfim, o fato é que havia convidado meu afilhado para assistir a partida em casa. Depois convidei seu irmão, meu outro sobrinho. A prima deles estava na cidade e então pensei que onde vão dois, também vão três. Bem, horas depois, com a ajuda deste raciocínio, olhei para o retrovisor e no banco dos passageiros quatro crianças faziam uma algazarra sem fim. Então lá estava eu com aquele monte de crianças a me oferecer as mais belas lições que só eles poderiam me dar. Tenho passado por um período cheio de cansaço. Físico, intelectual e moral.
E nesta lide com o desgaste, muitas respostas a oferecer a mim mesmo. Como não consigo resolver diversas questões pendentes, pensei que pudesse observar, nas crianças, como elas lidam com suas decisões. Outro dia dois deles ligaram para a avó, minha mãe, que possui um restaurante em Ribeirão Preto, e pediram uma reserva de mesa. Sim, o menino de 7 anos e a menina de 8 anos queriam jantar sozinhos. Questionados porque queriam jantar em uma mesa só deles, Lucca respondeu que tinha algo "muuuuiiito importante" para falar para a Beatriz, sua prima. Então a avó respondeu: Lucca, consegui reservar a mesa 11. Mas Nonó, 11!!! Eu queria ficar só eu e a Bibi!!! Calma Lucca, eu disse a mesa 11 e não 11 pessoas!
Desfeita a confusão, no horário marcado lá estava o lindo casal de primos. Eles sentaram-se à mesa e logo sacaram vários papéis e lápis de cor de todos os tipos. E assim passaram a noite, batendo papo e desenhando. Era, enfim, isso o que queriam, um lugar confortável para desenhar. Simples: tenho vontade de fazer algo, do meu jeito, na minha hora e com quem eu desejo e então eu simplesmente faço, sem me importar se estou ou não ocupando a vaga de alguem, fazendo a fila esperar ou se ao final pagarei a conta ou não.
Nesta tarde, as lições continuaram. Gosto de deixá-los "se virar". Então, fingindo que não vejo, divido as tarefas e enquanto faço uma coisa, como por exemplo, ficar na fila para comprar os ingressos do cinema (Ratattouille merece um post à parte!!!), deixo que eles se organizem na fila da pipoca! E lá vão eles, pequeninos e corajosos, enfrentar aquele balcão enorme e a responsabilidade de dividir o dinheiro, escolher as guloseimas, comprar as bugigangas e voltar com o troco bem contado. Fiquei de longe observando como se organizam e assim eu fiz na livraria, na lanchonete, no cinema e em toda essa tarde. Reparei que suas decisões são simples, rápidas e determinadas. Não há um minuto sequer de uma dúvida pairando no ar, nem tampouco uma sombra de arrependimento sobre a decisão tomada. Simplesmente decidem e executam. Pensei que talvez, na idade deles, eu também pudesse agir assim e evidentemente também fiquei buscando, assombrado, em que momento da minha vida eu deixei esta simplicidade de lado para inventar a complexidade e a dúvida. Penso que foi quando as formalidades surgiram, quando as convenções sociais me foram impostas, os códigos de conduta determinados e, finalmente, quando chegou a hora de exercer meu "papel": vai Renato! Ser gauche na vida! E aqui estou eu: torto, incrédulo, dadivoso, dividido, inexpugnável, receoso, "enduvidado".
Quiçá um dia as crianças que me habitam possam gritar dentro de mim e transformar a inquietante dúvida, na plenitude da certeza. O complicado em simplicidade. Enquanto este dia não chega, continuarei pensando e aguardando uma mesa para ser minha.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito. Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo.

Assista "Anos Incríveis".

Leia http://zaluzejo.blogspot.com/2007/07/s-ela-tirar-o-absorvente.html

Anônimo disse...

Sem comentarios, esse post tem tudo a ver com meu TCC, que alias o professor sera meu orientador, beijos