Em sala de aula, alguns alunos discutiam a questão da impunidade no Brasil e uma das conclusões foi que os códigos de processo civil e penal são organizados de tal forma que desagradam a maioria dos juristas do país. Para muitos, ocorre que os instrumentos de realização do Direito Penal são influenciados por escolas clássicas e, portanto, considerados arcaicos para um modelo de sociedade moderna já instituído no país. Existem críticas de todos os lados: a Associação dos Juízes Federais do Brasil já possui publicações com sugestões de Reformas, diversas Organizações Não Governamentais sérias, também. Ministérios Públicos de vários estados, OAB e outros organismos que cotidianamente lidam com as questões jurídicas possuem, cada qual, suas críticas e sugestões.
Ocorre que o Congresso Nacional, a Casa responsável pela criação das Leis do país, perde-se em infindáveis debates sobre corrupção, interrompe seus trabalhos em função de crises institucionais com o Poder Executivo e a maior parte de seus deputados não sabe o que fazer e como debater os casos mais complexos que estão na pauta, deixando a difícil tarefa para um grupo minoritário, que ainda garante um pouco de inteligência no Parlamento. Além disso, o fisiologismo e a baixa produtividade impossibilitam a criação de mecanismos legais condizentes com a sociedade moderna e com os anseios da população. Um exemplo interessante é a Reforma Política, a qual jamais acontecerá como deve ser, uma vez que mudanças na lei ferem diretamente os interesses da maioria dos parlamentares, principalmente daqueles considerados do "Baixo Clero", que ocupam aproximadamente 2/3 das cadeiras disponíveis. Dessa forma, o círculo vicioso que começa na precariedade das leis, passa pela dificuldade da Justiça em oferecer respostas à sociedade, pela corrupção de quadros nos três Poderes, incapacidade de articulação política dos cidadãos, baixa qualidade dos parlamentares eleitos, a qual culmina na precariedade de vários códigos de leis, garantem, com a esperteza de advogados muito bem pagos, situações inacreditáveis como a possibilidade de prescrição dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, formação de quadrilha, dentre outras acusações que os réus do caso do Mensalão enfrentam diante do Supremo Tribunal Federal.
São essas as situações que, no consciente popular, traduzem-se na sensação de impunidade, que, ao contrário de levar os eleitores a aprimorar sua reflexão nos tempos de eleições e se aproximar mais da política em todos os tempos, levam os eleitores ao desprezo, à apatia e ao desejo de ficar longe do debate político.
Esta é a receita para a criação dos anões do orçamento, dos Collor, dos Josés Dirceus, dos mensaleiros e de todas as formas de corrupção e vandalismo político.
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