domingo, agosto 05, 2007

Cabras, Abelhas e Vacas Públicas

Ganhou até prêmio a iniciativa do governo do Ceará de tentar ajudar as famílias carentes das regiões mais secas e pobres do Estado. Naquela época, meados dos anos 90, o governo decidiu doar uma cabra para cada uma das famílias mais pobres e, com a ajuda de profissionais da saúde, ajudou a combater a desnutrição infantil, algo tão comum, como a falta de chuvas e de expectativas.

E lá estavam as cabras, comendo latas, lambendo o chão de poeira e alimentando as criancinhas. Produto barato que nem precisava de ração ou grandes cuidados. Isso é criatividade: tentar resolver os problemas com as “armas” disponíveis no ambiente.

Com base neste preceito, foi criado um interessante programa em Kibwesi, no Kênia. Assolada pela seca, a pequena cidade perdeu a maioria dos homens, que saiam em busca de outras oportunidades. As 2.500 mulheres que ali ficaram, sem seus companheiros, abandonadas à própria sorte e com a saúde e a auto-estima debilitadas, foram incluídas num programa de Cooperativas para criação de abelhas: o único animal possível para qualquer atividade rentável na cidade. O efeito foi devastador. Apesar das dificuldades iniciais, com muito trabalho, o mel produzido passou a gerar renda e as mulheres utilizavam os recursos para diversificar a produção. Assim, criaram espécies diferentes de mel e passaram a produzir ladrilhos (preparados com a ajuda do sol) e também cabras que davam alimento e renda para as famílias. Foi, literalmente, a salvação da vida dessas mulheres e de suas crianças.

No interior de São Paulo, um prefeito também teve a ousadia de ser criativo, seguindo um caminho semelhante, ou seja, utilizar as “armas” possíveis para melhorar a qualidade de vida da população. O prefeito pensou que poderia sanar o problema de desnutrição de muita gente. Talvez inspirado pela experiência cearense, ele comprou 10 vaquinhas e disponibilizou os animais para quem quisesse tomar leite direto da fonte.

Todas as manhãs uma pequena fila se forma no curral da prefeitura e as famílias mais carentes têm garantida a alimentação, principalmente para suas crianças. Fazendo uma conta bem simples, de uma vaca Holandesa pode-se ordenhar, em média, 25 litros de leite por dia. Multiplicando por dez, são 250 litros de leite gratuitos para as famílias pobres da cidade. Um espetáculo! Ainda mais se considerarmos outros dois aspectos importantes. O primeiro é que a vida de uma vaca é longa e, portanto, o custo benefício do investimento é altíssimo. O segundo aspecto importante é que a administração municipal não perdeu a oportunidade de acompanhar essas pessoas, já que elas são recebidas por uma equipe de profissionais que auxilia os beneficiários do Programa sobre como fazer o melhor uso do produto, além de oferecer dicas de saúde e higiene pessoal.

As cabras do Ceará, as abelhas do Kênia e as vacas do interior de São Paulo são exemplos claros de que a criatividade pode custar muito pouco, desde que se tenha, verdadeiramente, a vontade de mudar a vida das pessoas.

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