domingo, agosto 05, 2007

A Democracia, a Política, as Mulheres e as Meninas do Paquistão

O Paquistão é um dos países do mundo que mais aparecem nos noticiários desde os ataques terroristas de 11 de setembro. O país foi aliado crucial para a estratégia norte-americana de movimentação e deslocamento de tropas e de apoio político regional no combate às organizações terroristas, principalmente a Al-Qaeda.

Inimigo histórico da Índia, o Paquistão disputa, desde 1945, a região da Caxemira com aquele país. A preocupação maior neste momento é que com o acirramento das tensões entre ambos países, uma guerra aberta pode ser iniciada. Esse conflito bélico iminente não seria nenhuma grande novidade não fosse um detalhe: Índia e Paquistão possuem armas nucleares.

Mas tão destrutivo quanto a posse de armas de destruição em massa é a taxa de analfabetismo entre as mulheres paquistanesas, a qual chega a cerca de 80%. Cada qual, a seu modo, provoca diferentes tipos de destruição. Mas qual será a mais perigosa? Para os paquistaneses, sem dúvida, é o analfabetismo e não é pelo fato de que a bomba se joga no vizinho, mas sim, pela nítida confirmação de que na Era do Conhecimento, não se constrói uma sociedade sustentável sem a existência de forças produtivas capazes de gerar riquezas ao país.

Além disso, o governo paquistanês descobriu que as mulheres educadas têm menor probabilidade de morrer no parto. Também sabem que, alfabetizadas e bem educadas, elas têm menos filhos e, quando mães, aumenta a probabilidade das mulheres criarem filhos bem nutridos, bem cuidados, educados e vacinados.

Ser capaz apenas de ler uma bula numa caixa de remédio pode fazer uma enorme diferença.

Dessa forma, o governo desse país vem buscando estratégias para diminuir essa alarmante taxa de analfabetismo entre sua população feminina. A Província do Baluchistão, no Paquistão, dá um exemplo do que se pode fazer. Está abrindo escolas de meninas em muitas vilas rurais e fazendo esforço intenso no sentido de assegurar que as meninas se matriculem, contratando professoras e criando banheiros separados para as alunas. A população local ajuda a conseguir as instalações de ensino, a contratar as professoras e a supervisionar a freqüência à escola. Em apenas dois anos foram criadas mais de 200 novas escolas rurais femininas e a matrícula de meninas das vilas aumentou 87 por cento nas novas escolas, em comparação com 15 por cento em toda a província.

O que o governo do Paquistão vem fazendo é utilizar a força da população local em projetos sustentáveis que possam ser acompanhados pelos próprios clientes: os pais dessas crianças. No entanto, sem a existência do real compromisso do governo e seu apoio técnico e financeiro, essa iniciativa seria impossível. Assim como na província do Baluchistão, diversas outras cidades e estados do mundo todo vêm fazendo esforços para melhorar a qualidade de vida de sua população.

E qual é o mecanismo fundamental que proporciona e regula tais atividades? É a Política, meus caros. E adivinhem em qual tipo de regime político esta capacidade de envolvimento do governo com a população é possível? Em qual regime se faz articulação entre a sociedade civil e o Estado para construir novos projetos? Qual é, de fato, o único regime político capaz de gerar riquezas e distribuí-las a seus cidadãos? Qual é o regime que garante os meios necessários para que seus cidadãos, uma vez insatisfeitos com os resultados do regime, possam ter a liberdade de criticá-lo, cobrá-lo e até puní-lo? A resposta é: Democracia.

Como estamos habituados a enxergar a política como um conluio de autoridades e cidadãos que utilizam a Democracia para enriquecer suas contas bancárias, mediante os mais inusitados truques de corrupção, muitas vezes esquecemos que tanto a política quanto a democracia podem gerar riquezas, conquistas e independência para cidadãos em diversas partes do mundo. Assim, apesar da raiva que nos acomete o cotidiano político brasileiro, tentarei demonstrar nos próximos posts como é possível se fazer política democrática de resultados, muitas vezes utilizando poucos recursos e muita criatividade.

Assim, a verdadeira “bomba”, leitores, será a descoberta de que a prática política, por meio do sistema democrático, continua sendo a melhor forma de garantir qualidade de vida para cidadãos de várias partes do mundo.

Nenhum comentário: