É evidente que estou tentado a escrever sobre o crime que matou o menino João, de seis anos, arrastado por criminosos nas ruas do Rio de Janeiro. Certamente trata-se de um assunto que se enquadra em duas frentes de trabalho deste semestre: a opinião pública e a antropologia.
Entretanto minha obrigação é buscar agregar algum valor simbólico, analítico ou distante do senso comum sobre esta terrível história. É difícil fazer este exercício quando, como uma “pessoa comum”, nos sentimos impelidos em direção aos nossos instintos mais selvagens, os quais nos remetem ao desejo de vingança, ao terror, medo e ao sentimento de asco e cansaço diante de um Estado que é incapaz de promover justiça e segurança. Não esperem de mim, no entanto, um discurso como os que leio nos meios sociológicos de que a doença da sociedade é uma obra nossa, que os jovens são vítimas das mais brutais dificuldades, preconceitos de toda ordem, enfim, que foi a sociedade quem criou monstros como os que despedaçaram o corpo daquela criança.
Sinto muito, mas ao compartilhar esta análise me sentiria quase como que colocando a culpa na criança. Me recordo do caso da mulher que, ao ser espancada pelo marido, recorreu a uma delegacia no Rio de Janeiro, pois pretendia lavrar um Boletim de Ocorrência sobre o ocorrido. Como aquela não era a primeira vez que comparecia ao Distrito e nas oportunidades anteriores não havia conseguido registrar o B.O., a mulher se irritou quando informada pelo investigador que, mais uma vez, não teria seu pedido aceito. Então passou a reclamar do tratamento que recebia. Em seguida o investigador jogou-se sobre ela, derrubou-a no chão, colocou os joelhos sobre suas costas e imobilizando os braços da mulher, deu-lhe voz de prisão por desacato à autoridade. A mulher, duplamente vítima e agredida na frente de seus filhos, foi obrigada a pagar fiança de R$50,00 para ser liberada. Dessa forma, os valores vão se entortando e não se sabe mais onde foram geradas as culpas, quem são os responsáveis, as vítimas, enfim, passamos a desconhecer as fronteiras da justiça, da racionalidade e do tecido social que se desfaz.
Não sou afeito ao discurso fácil da vingança, mas tampouco ao estudo sociológico sobre as razões sociais que impeliram aqueles fascínoras a cometer tal brutalidade. Portanto, publicarei dois posts sobre o tema; o primeiro privilegiando um debate sobre opinião pública e o segundo levantado uma observação um pouco mais histórica e de cunho antropológico.
Como uma pessoa comum tenho minhas opiniões sobre o tema. Minha obrigação, no entanto, é saber separar os pensamentos e ajudar a afastá-los da mendicância intelectual que graça nos meios de comunicação e nas coberturas jornalísticas.
Em breve retorno com os posts!
Um comentário:
Mais uma vez fugindo do senso comum neste post...
Concordo que não é nossa culpa os atos violentos cometidos por alguns, isso vai além da criação e da vivência da pessoa. Muitos podem concordar, mas temos alguns bons exemplos (não no sentido correto das palavras)de como o meio social não justifica os atos de violência (Caso Suzane ou mesmo o da mãe na Áustria que prendeu três filhas pequenas em uma casa imunda e escura durante sete anos só pq não aceitava o divórcio), nesses dois casos a vida apresentou pequenos problemas que tomaram proporções irreversíveis para diversas pessoas e nenhuma dessas duas mulheres viviam a margem da sociedade, enfrentando diariamente o preconceito e etc.
Por fim, mais uma vez discordo de Rousseau e sua "teoria do bom selvagem"...
Abraços.
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