Todo mês de fevereiro eu adoro escrever posts avacalhando o carnaval.
Trata-se de um esporte.
É que pessoalmente não gosto da festa. Acho repetitiva, chata, com sempre as mesmas personagens (vide post abaixo), perigosa, tumultuada e impositiva no sentido em que para aqueles que a detestam, são obrigados a ficar à mercê da mídia que não para de veicular os mais bizarros aspectos da festa (vide post abaixo novamente!). Eu quero é paz.
Mas como muitos (muitos não, alguns) alunos e ex-alunos costumam ler este blog é evidente que necessito deixar meu esporte de lado e oferecer informações e/ou análises que possam enriquecer o processo de reflexão sobre nossa cultura e política.
Independentemente das implicâncias pessoais, é importante considerar a importância da festa sob diferentes aspectos. Destaco aqui parte dos resultados de uma pesquisa sobre a cadeia produtiva do carnaval no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa será desenvolvida pelo Sebrae em parceria com a Associação Comercial do Rio de Janeiro. Seu coordenador, o economista Luiz Carlos Prestes Filho respondeu a algumas entrevistas adiantando números gerais que impressionam.
Apesar de alguns números serem divergentes, o carnaval carioca emprega 300 mil pessoas e representa um ingresso de pouco mais de 1 bilhão de reais na economia da capital do estado. Meus ex-alunos já estudaram o significado de uma cadeia produtiva, que pode ser entendida como uma rede de inter-relações entre produtores de um mesmo sistema industrial. Por meio do estudo de cadeias produtivas é possível identificar as etapas e fluxos existentes entre produtores que se relacionam por meio de trocas comerciais e de serviços, desde a matéria-prima até o consumidor final.
No caso do carnaval especificamente estamos falando sobre os carnavalescos, produtores, escultores, marceneiros, distribuidores, músicos, produtores de espetáculos e shows, soldadores, maquiadores, publicitários, dentre dezenas de outros profissionais. Apenas para exemplificar a importância do estudo da cadeia produtiva do carnaval, vale ilustrar o caso das bordadeiras. No município de Campos, interior do Rio de Janeiro, existem cerca de 740 bordadeiras que em 2008 produziram mais de 70 milhões de peças de bordado utilizadas tanto para o Carnaval brasileiro quanto para os mais de 900 eventos carnavalescos espalhadas pelo mundo todo. O ingresso de recursos proveniente do trabalho dessas bordadeiras representa 4,5% do PIB do município e considerando as grandes indústrias petroquímicas instaladas na cidade, esse número é fabuloso.
Toda essa produção ocorre sem que a prefeitura de Campos tenha uma política pública destinada a aumentar o mercado dessas produtoras, criar uma marca própria e oferecer condições para que elas produzam mais e ainda melhor.
Se somarmos a produção bruta de materiais para utilização na festa ao inúmeros rendimentos provenientes dos direitos autorais de produtores de música, para dar um exemplo, a cadeia produtiva do carnaval carioca mostra toda uma diversidade capaz de agregar valores econômicos ao estado não somente no período dos eventos, mas ao longo de todo o ano.
Segundo a agência de notícias do Sebrae, "apesar de fazer o maior carnaval, o maior réveillon e o maior festival de rock do mundo, além de abrigar a maior cidade cenográfica (o Projac, da Rede Globo), o Rio de Janeiro sofre com a falta de investimentos e de políticas públicas para garantir o desenvolvimento em diversos segmentos da chamada indústria cultural, especialmente no gráfico, editorial e fonográfico. A análise é feita por Luiz Carlos Prestes Filho, coordenador das pesquisas sobre economia cultura, cadeia da música e indústria do carnaval."
Outro dados interessante é o cálculo do ingresso de recursos financeiros por meio do ICMS da indústria gráfica carioca, a qual vem perdendo milhões de reais todos os anos para a indústria paulista, que se transformou em exportadora de serviços e produtos para o Rio de Janeiro.
O estudo deve revelar detalhes de todo esse processo e certamente será usado pelos governos estadual e municipal para que políticas públicas possam ser criadas com o obejtivo de incrementar ainda mais a riqueza e a criação de postos de trabalho diretamente vinculados com o carnaval.
Fontes: CBN/Sebrae/Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro.
4 comentários:
Realmente o Carnaval poderia ser mais bem aproveitado do ponto de vista mercadologico. Poderia render o ano todo, nao somente durante a festa. Mas professor, o Carnaval carioca, sabemos nós, recebe verbas meio ilicitas, diriamos assim...O que acha desta combinacao?
Jéssica
3 Etapa - Jornalismo - Noturno
Certa vez tentei escrever sobre a influência e o financiamento do carnaval feitos pelo narcotráfico, mas não consegui fontes seguras de informações ou dados confiáveis sobre o tema. De qualquer forma, sabemos que a relação existe, porem é difícil saber precisamente em qual proporção. Assim que tiver uma fonte confiável tentarei escrever a respeito! obrigado pelo comentário! Um forte abraço!
Não diria apenas o carnaval do rio jéssica, as escolas de são paulo também entram nesses esquemas, bicheiros financiam o carnaval por aqui também, diga-se de passagem uma escola grande da casa verde.Infelizmente sem provas, não há como comprovar, mas quem sabe nós futuros jornalistas não realizamos tal proeza e de quebra levamos o professor para sambar na quadra.hehehe.
HOSCHETT
3º semestre-jornalismo
Para quem gosta desta abordagem "econômica" do Carnaval, convido a assitir um programa que passou esta semana na TV Alerj. Ele pode ser acessado no site www.rioemfoco.rj.gov.br Não percam!
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