quinta-feira, dezembro 11, 2008

Lugares que Papai Noel não vai Visitar

Como o ano está chegando ao fim, me descolo um pouco dos temas mais prementes vinculados ao nosso curso e me dedico a novas leituras, novos pensamentos (no sentido cristão, claro!) e me volto um pouco para temas que me despertam o coração. Coisas “leves”, tais como os ataques terroristas na Índia, os contrabandistas de armas nucleares, os piratas da Somália... Haaa... os piratas da Somália. Sim, este tema me “encanta” pelo ineditismo, pela curiosidade que suscita e pelas transformações da história da humanidade que nele estão contidas.

O risco de se cair no senso comum é enorme. Aposto que alguma rede de TV em algum lugar do mundo já colocou a imagem de Jonny Deep, no filme “Piratas do Caribe”, para lançar a discussão sobre os “Piratas Modernos”. Mas será que o conceito de “moderno” está sendo bem empregado neste caso? O que há de modernidade em assaltar navios, carregando pesados armamentos, seqüestrando tripulantes e pedindo resgate para não afundar as gigantescas naves cheias de petróleo, ou modernos e não menos grandes (e caros!) pesqueiros?

Reparem: voltamos aos tempos da barbárie? O fim dos blocos hegemônicos criou ilhas de descontrole total? Pois é, além da Somália, país que abriga as quadrilhas de piratas e que se transformou quase numa terra sem lei, temos também outros exemplos que utilizarei nos próximos posts de fim de ano.

Assim, enquanto a TV toca Jingle Bell, aqui a gente escreve sobre alguns dos lugares onde o Papai Noel não vai passar no dia 25.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Equador entra com processo em câmara internacional contra o BNDES

Fonte: Portal da Revista Veja
Data: 20/11/2008


O Equador tenta se livrar do pagamento de um empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e entrou com ação de arbitragem na Câmara de Comércio Internacional, em Paris. O empréstimo foi concedido pelo banco brasileiro para financiar a construção de uma usina hidrelétrica, sob responsabilidade da construtora Odebrecht, expulsa do país em setembro.

O pedido feito pelo governo equatoriano exige a anulação de uma cláusula que estabelece a capitalização dos juros e do que já foi cobrado utilizando esse conceito. As autoridades alegam que o pedido seria ilegal.


O BNDES fez um empréstimo de 243 milhões de dólares para financiar a construção da central hidrelétrica San Francisco, cujas operações foram suspensas por vários meses devido a falhas técnicas.

Segundo o jornal El Universo, já foi apresentado à promotoria um processo contra a Odebrecht. No processo arbitral da Câmara são solicitadas medidas cautelares contra o Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame), do BNDES, para frear cobranças pelo crédito à Hidropastaza, primeira concessionária da hidrelétrica, para financiar sua construção.


O Itamaraty afirmou que não recebeu comunicação oficial do governo do Equador sobre esse episódio e que se pronunciará quando isso for feito.

quarta-feira, novembro 05, 2008

E o Mundo Real diz: Bem Vindo Obama!

Um mundo midiático. Mais de 700 milhões de Dólares. Uma Guerra Religiosa. Uma esperança. Um Mito! Eis Obama! Yes, we can!

Barack Obama definitivamente entra para a história não só por ser o primeiro negro a assumir a presidência dos EUA, mas também por pertencer a uma jovem geração incumbida de uma missão inglória de reinventar a América.

A uma amiga negra a quem muito admiro, que verteu lágrimas após a vitória de Obama contra Hillary Clinton nas primárias Democratas eu disse que a mudança da história, a real mudança da história, acontecerá somente depois de 4 anos de mandato de Obama e não agora. O que queria dizer é que até hoje tudo é mito, tudo é simbólico, tudo é mídia. Mas o resultado dessas eleições deverá ser entendido melhor após o cumprimento do mandato do recém eleito, pois quando o mundo real lhe cobrar a conta é que poderemos entender o efeito da chegada de um negro à Casa Branca. Seu sucesso será a redenção histórica de uma população reprimida, perseguida e explorada durante várias décadas. Seu fracasso será a aquiescência do retorno à nefasta tese da superioridade de uma raça sobre a outra.

E o mundo real está de braços abertos para Obama. Quer abraçá-lo, quer esmagá-lo. Uma crise econômica profunda, duas guerras em andamento, interesses geopolíticos, desafios nas relações internacionais, tensões na América Latina e no leste europeu; problemas internos, crise do sistema de saúde, seguro social e conflitos migratórios. Esta é a pequena agenda que deverá enfrentar o novo presidente. Sua missão é das mais complexas, mas ao menos ninguém duvida da inteligência muito acima da média de Barack Obama.

Nós brasileiros estamos até achando bonitinho tudo isso. Que legal. Que interessante. Que histórico! Alguns membros do governo brasileiro já se mostraram confiantes e dizem que as relações irão melhorar, como se estivéssemos em crise nas relações Brasil – EUA. Mas quando Obama incrementar os subsídios aos produtores de milho, contra o etanol brasileiro e quando as políticas de proteção dos produtores internos forem colocadas em prática é bem provável que aí sim a crise passe a existir. O interessante da força midiática desta campanha é que tem muita gente, brasileiros inclusive, acreditando que Obama será o presidente do mundo. Não. Obama será o presidente dos EUA e, ao contrário de Lula que defende os interesses da Bolívia, do Equador e da Venezuela, Obama certamente defenderá os interesses americanos.

O mundo real obrigará esta figura incrível a autorizar ataques militares contra interesses americanos, obrigará assinar documentos que desagradem os governos de outros países, obrigará criar medidas polêmicas e decisões difíceis a serem tomadas as 3 da manhã, quando algum assessor afobado bater à porta de seus aposentos para anunciar uma nova crise envolvendo os americanos em alguma parte do mundo.

Não quero estragar a festa, claro. Vamos curti-la mais um pouco. De nossos sofás em frente a TV vamos abanar a mão, fazendo sinal de tchau, quando Bush passar o comando do país para Obama.

Depois... bem, depois o mundo real, com seu peculiar sorriso sarcástico, nos dará as boas vindas.

Três fatores decidiram eleição nos Estados Unidos

Fonte: Jornal O Estado de SãoPaulo
Data: 05/11/08
Autor: Cristiano Dias

Barack Obama tornou-se presidente dos EUA graças à conjunção de três fatores: uma campanha bem organizada, a conjuntura econômica e política amplamente favorável e a condução desastrosa da candidatura de seu rival republicano.

Em fevereiro de 2007, pouquíssima gente levou a sério quando um senador negro de nome estranho disse que estava lançando candidatura à presidência dos EUA. Era uma tarde fria de inverno na cidade de Springfield, capital de Illinois, quando Obama empolgou algumas centenas de pessoas que se juntaram para ouvi-lo diante da sede do governo local.

No discurso, ele prometeu mudar o jeito de fazer política em Washington, mas a jornada, como ele mesmo definiu mais tarde, era "improvável". Nas primárias do partido, ele enfrentaria políticos mais experientes, como o ex-senador John Edwards, candidato a vice-presidente em 2004, e a senadora Hillary Clinton, guru e marca registrada dos democratas, considerada "candidata inevitável" do partido.

Obama derrubou os adversários usando como base um exército de 2 milhões de voluntários e comitês que atuaram em todos os 50 Estados, registrando cerca de 4 milhões de novos eleitores em todo o país. Hillary, rival mais obstinada, achou que as primárias terminariam na Superterça, em 5 de fevereiro, quando 24 Estados votaram nos pré-candidatos dos dois partidos. Quando percebeu o erro estratégico, a ex-primeira-dama já estava derrotada.

A grande marca da campanha de Obama - e o motivo pelo qual a eleição americana nunca mais será a mesma - foi o uso revolucionário da internet para arrecadar US$ 700 milhões e a utilização de diferentes canais de mídia para divulgar sua candidatura. Obama teve três momentos ruins em sua jornada improvável. O primeiro foi a derrota nas primárias de Ohio e do Texas, no início de março, quando Hillary tornou-se a adversária que mais perto chegou de emoldurá-lo como um aventureiro inexperiente. O autor do golpe teria sido um comercial que questionava a competência de Obama para resolver um problema que surgisse às 3 horas da madrugada.

O segundo contratempo ocorreu duas semanas depois, com os discursos inflamados de seu ex-pastor Jeremiah Wright. Obama conseguiu contornar a situação escrevendo um brilhante discurso sobre raça, proferido na Filadélfia, em que tratou da desigualdade e das tensões raciais.

A última dificuldade veio logo após a convenção republicana, no início de setembro, quando John McCain disparou nas pesquisas após escolher a ultraconservadora governadora do Alasca, Sarah Palin, como vice. A euforia dos republicanos com Sarah durou duas semanas e logo se transformou no pior erro de McCain.

Entrevistas desastrosas, o envolvimento em um escândalo de abuso de poder em seu Estado e a divulgação dos US$ 150 mil gastos em roupas para a campanha viraram tema de piada nos principais programas humorísticos do horário nobre. Em meio a uma enxurrada de críticas, duas semanas depois, McCain piorou as coisas ao suspender sua campanha, em setembro, para trabalhar pela aprovação do resgate financeiro de US$ 700bilhões proposto pela Casa Branca.

Conjuntura
No entanto, segundo analistas, a causa sistêmica para a vitória de Obama foi a conjuntura favorável aos democratas. A explosão da crise econômica em plena campanha assustou a maioria dos americanos. A impopularidade do presidente George W. Bush e da guerra no Iraque também facilitaram as coisas.

Na campanha, Obama frisou que foi o único a se opor à guerra desde o início e defendeu um cronograma de retirada das tropas. No fim, até Bush e o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, concordaram com Obama e deixaram McCain pregando sozinho a permanência das tropas.

sexta-feira, outubro 31, 2008

Cheiro de Vitória de Obama no Ar

Sei que se trata apenas de um cenário, mas algumas coisas que vem acontecendo nos últimos dias na campanha eleitoral dos EUA indicam um certo cheiro de vitória de Barack Obama à presidência americana.

Destaco sete itens:

1) As pesquisas não indicam um vencedor, mas todas as margens de erro colocam uma leve vantagem para o Democrata;
2) Os materiais de campanha de Obama estão cada vez melhores e os de McCain cada vez piores;
3) Sarah Palin não mais atende as orientações dos estrategistas da campanha. Ao contrário, parece discursar mais pensando em sua imagem do que na de McCain e de sua campanha;
4) Os comitês de campanha de McCain estão cada vez mais vazios e o clima em alguns é de desânimo;
5) Várias empresas de comunicação e jornais influentes debandaram para o lado de Obama. A mídia adora Obama;
6) O dinheiro de Obama jorra e o de McCain seca;
7) tradicionais eleitores que possuem baixo comparecimento nas urnas se dispuseram a participar neste ano. São eles: negros, latinos e os mais pobres.

Mas atenção! Apesar de perceber que esses elementos representam indicadores importantes eu não arriscaria nenhuma aposta!

segunda-feira, outubro 27, 2008

Sobre como Calcular os Perdedores e Vencedores

Confirmados todos os resultados das eleições é a hora dos cientistas políticos realizarem suas análises sobre quem ganhou e quem perdeu neste pleito municipal. Entendo que existe um erro conceitual básico nas análises: contar os vencedores e perdedores apenas por uma variável quantitativa. Alguns analistas utilizam os votos que cada partido recebeu, outros a quantidade de capitais que cada partido conquistou, outros ainda quantos vereadores foram eleitos por partido e assim sucessivamente. Pessoalmente entendo que para se ter um quadro dos vencedores e perdedores (há também aqueles partidos que permaneceram na mesma situação) é necessário criar um critério universal que combine diferentes variáveis, divididas por pesos.

Dessa forma faríamos uma lista com as variáveis levadas em conta (incluindo as que citei acima), incluiríamos duas muito importantes que são o tamanho do Orçamento municipal e o tamanho da máquina pública dos municípios e daríamos pesos diferentes para cada um. A partir daí, com um cálculo matemático, poderíamos contar com um quadro melhor, mais lógico e agregarmos a ele alguns temas que podem conter uma certa subjetividade, tais como prognósticos, linhas de tendência e a potencialidade e fragilidade da imagem dos principais atores dos processos eleitorais.

A partir disso teríamos, de fato, uma conclusão inconteste sobre os vencedores e perdedores das eleições 2008. De qualquer forma, apresentarei abaixo alguns textos sobre o assunto para ao menos poder contar com referências de bons autores.

A Minha Lista Pessoal de Quem Ganha e Quem Perde

ATENÇÃO! Apesar do título ser em primeira pessoa o texto que segue é de autoria de Reinaldo Azevedo. Faz tempo que não publicava nada dele para vocês. Tentei selecionar textos que analisassem as eleições de diferentes formas, mas fui até sites considerados socialistas e de apoio à base do governo Lula, como por exemplo o Blog de Mino Carta (Carta Capital), mas não encontrei muita coisa. Portanto, segue um texto de Azevedo e outro (na seqüência) do Noblat.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Data: 27/10/2008

"Toda eleição tem lista de “ganhadores” e “perdedores”. Também vou fazer a minha. Deixarei de lado alguns nomes de expressão mais regional. Sim! Como sempre, é uma leitura pessoal.

GANHAM
JOSÉ SERRA – Individualmente, é o maior vencedor da eleição. Seu candidato, Gilberto Kassab, tinha 9% das intenções de voto há menos de três meses. Conseguiu a reeleição com uma votação história e atribui ao governador o seu triunfo. O tucano passou a ser considerado, com tal desempenho, o mais forte candidato do seu partido à Presidência. Não custa lembrar que o PMDB coligou-se com Kassab em São Paulo — e Serra tem, no partido, serristas em penca.

GILBERTO KASSAB – Surge como uma liderança de alcance nacional por razões óbvias. Sempre foi bom articulador de bastidores. Faltava-se lhe uma vitória convincente numa disputa majoritária. Alguém imagina algo mais convincente? Queira ou não, é pré-candidato natural ao governo de São Paulo.

PSDB – Perdeu algumas prefeituras, mas ainda é o segundo partido em número de cidades: 788. Está atrás apenas do PMDB: 1207. E manteve a Prefeitura de São Paulo, que compartilha com o DEM. Fortalece-se também porque, obviamente, seu principal nome à Presidência, Serra, sai do processo com mais musculatura.

DEM – Vejam como sou escandaloso, não? O partido perdeu muitas prefeituras. Elegeu “apenas” 501. Embora tenha se transformado na Geni dos petistas e do PCB (Partido dos Colunistas Brasileiros), fez apenas 57 prefeituras a menos que o superpoderoso PT. Nestas eleições, fez só uma prefeitura, mas é justamente a de São Paulo. E vê nascer um líder num estado onde sempre foi fraco. Sim, todos dirão que o DEM é perdedor. Eu não acho. Fazer o quê? Ah, sim: em Salavador, ajudou a derrotar o PT.

PMDB – É o grande vencedor deste pleito, sem dúvida, com 1207 prefeituras. Mas não tem e não terá candidato à Presidência da República. Já havia avançado formidavelmente no primeiro turno e, agora, consolida essa posição com as vitórias em Porto Alegre e Salvador.

FERNANDO GABEIRA – Chegou bem perto de vencer a eleição no Rio — e talvez tivesse chegado lá não fossem três fatores:
- a escandalosa abstenção na cidade: deixaram de votar 927.250 eleitores, um índice superior a 20%;
- a impressionante baixaria de que foi vítima;
- um certo discurso antipolítico que pode ter diminuído o número de cabos eleitorais nas ruas.
É certo que passa a ser considerado uma referência na cidade para disputar o governo em 2010. Mais: fez a sua estréia como político de massas. Era, até então, o chamado "deputado de opinião”.

PERDEM
LULA – Entrou de cabeça na eleição em São Paulo. E São Paulo elegeu Kassab com uma clareza inequívoca. Uma coisa é perder por dois ou três pontos. Outra é perder por 18. Nas capitais em que o PT estava bem, o partido elegeu o prefeito. Onde não estava, a ação de Lula foi irrelevante.

MARTA SUPLICY – Individualmente, é a maior derrotada de 2008. Teve menos votos do que em 2004 nas duas etapas eleitorais e viu aumentar a sua rejeição. A frase “relaxa e goza”, em vez de esquecida, foi reavivada na memória do eleitor. Pior: sua campanha optou pela baixaria sem medo de ser feliz, ao fazer especulações sobre a vida privada do adversário — o que também manchou a sua biografia. Quando deu início à corrida, seu grupo político queria ver nela uma presidenciável. Hoje, os adversários torcem para que seja a candidata do PT ao governo de São Paulo. É preciso verificar até onde Marta não virou o Maluf dos petistas: basta ela se candidatar para eleger o adversário.

PT – Sim, perdeu. Embora quase todo mundo diga que ganhou. Tinha nove capitais, ficou com seis. Somadas, não chegam ao Orçamento ou à população de São Paulo, que ficou com o arqiinimigo DEM. Perdeu todas as capitais que disputou no segundo turno. Recuperar o governo de Porto Alegre era um ponto de honra. Dançou com uma diferença de 18 pontos. Cresceu muito nas pesquenas cidades em razão do bolsismo...

AÉCIO NEVES – Como??? Márcio Lacerda ganhou, Reinaldo!" É, mas o governador saiu do processo menor do que entrou, a despeito de sua impressionante capacidade de fazer malabarismos verbais repetidos pelo Partido dos Colunistas. Os solavancos da eleição em Belo Horizonte evidenciaram o artificialismo da aliança PSDB-PT. Longe de ser um exemplo para o Brasil, provou que é temerária até mesmo em Minas. O PSDB perdeu prefeituras no Estado em vez de ganhar. O exotismo eleitoral de BH fez Aécio passar por três fases:
A – “Aqui está a novidade do pós-Lula”;
B – “Admito que não deu certo”;
C – “Aqui está a novidade do pós-Lula” — de novo.
A última leitura, digamos, exótica que seu grupo espalha é que ele ajudou a destruir o PT de Minas. Excesso de malabarismo retórico deixa potenciais aliados um tanto assustados. Ademais, ajudou a fortalecer o PMDB.

CIRO GOMES – Também ele? Também ele. Lacerda, eleito em BH, é um aliado seu, claro, claro... Mas foi eleito pelas máquinas do PSDB e do PT. Ciro não tem nada com isso. Já em Fortaleza, onde ele tinha "tudo com isso", apostou suas fichas na ex-mulher, Patrícia Saboya. Ela não passou nem para o segundo turno.
DILMA ROUSSEFF – Jura, Reinaldo? Juro! Lembram-se da sua ida quase teatral para dar apoio à candidata do PT à Prefeitura de Curitiba, Gleisi Hoffmann? Pois é... Beto Richa se elegeu no primeiro turno com quase 80% dos votos. Depois Dilma decidiu declarar seu apoio decisivo à petista Maria do Rosário, em Porto Alegre. José Fogaça venceu por estratosféricos 18 pontos de diferença. Como a gente vê, Dilma não transfere o que nunca teve: votos.

GERALDO ALCKMIN – Era o candidato certo do PSDB ao governo de São Paulo. Mas decidiu apostar no confronto com o governador José Serra e sair candidato à Prefeitura, fazendo uma espécie de ponte com Minas. Começou o ano como favorito e não passou nem para o segundo turno. Agora, só será candidato se Serra concordar. Mas a fila, pouco importa o que digam todos os atores políticos, passou a ter um primeiro colocado: Kassab. Em política, não existe “jamais”.

SÉRGIO CABRAL – Apesar da vitória de Eduardo Paes, Sérgio Cabral não se saiu tão bem. Em política, o placar, se dilatado ou não, faz diferença, sim. O governador do Rio perdeu disputas importantes no interior do Estado e, por muito pouco, não vê uma espécie de movimento cívico vencer a eleição na capital, com Fernando Gabeira. A brutal abstenção pode ser um indicador de problemas. Mais: a campanha na capital, lamento muito, esteve longe de lustrar a civilidade política. O que poderia ser uma das disputas mais elevadas do país evoluiu para uma impressionante e decepcionante soma de baixarias. Até a última hora, até o último dia. A primeira aparição do governador e do prefeito eleito expressavam o excesso de excitação de quem havia passado um grande aperto — faltava comedimento. Cabral entrou no processo para se credenciar a ser vice de alguém. E eu acho que não se credenciou.

Ah, sim. O Chico Buarque também perdeu. Ele promete agora dar apoio a Raúl Castro se um dia houver eleições diretas em Cuba.

Glossário da Eleição 2008

Fonte: Blog do Noblat
Data: 27/10/2008
endereço: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/


Aécio Neves - Vide Serra.

Baixaria - No início da campanha todos os candidatos a abominam. Do meio para o fim, ela costuma se impor. Em São Paulo, deu ensejo ao comercial de televisão de Marta Suplicy (PT) destinado a virar um clássico (“Ele é casado? Tem filhos?”). Foi decisiva em Belo Horizonte para que Márcio Lacerda (PSB) derrotasse Leonardo Quintão (PMDB).

Caixa 2 - Ou fizeram bem feito ou fizeram de menos. Ou então a imprensa não correu atrás.

Gabeira – Derrotado por míseros 55 mil votos, menos do que a lotação do Maracanã, ganhou a condição de o maior eleitor individual do Rio. Em 2010 pode disputar o governo ou o Senado. Fora ganhar, nada é melhor do que perder ganhando. É o caso dele.

Geddel Vieira Lima - Tirou do fundo do poço da rejeição o prefeito João Henrique (PMDB), de Salvador, e o reelegeu contra a vontade do governador Jaques Wagner (PT). O PMDB baiano emplacou 114 prefeitos e 554 vereadores contra 67 prefeitos e 357 vereadores do PT. Gedel ganhou um palanque no Estado para oferecê-lo em 2010 a quem preferir – Dilma Rousseff ou José Serra.

Lula - Saiu da eleição menor do que entrou. Entrou como um Midas, capaz de transformar em ouro tudo que tocasse. Não desempatou a eleição em favor de ninguém. Perdeu feio ao ceder ao apelo do fígado para derrotar em Natal a candidata do senador José Agripino Maia, líder do DEM. Ou em Parintins o cunhado do senador Arthur Virgílio Neto, líder do PSDB. Lula está para essa eleição como a Seleção Brasileira esteve para a Copa do Mundo de 2006: condenado a ganhar, não ganhou.

Máquina - Dos 3.357 prefeitos que concorreram à reeleição, 2.245 foram reeleitos no primeiro turno – ou 66,8% deles. É o maior índice desde 2000 quando pela primeira vez os prefeitos puderam se reeleger. A máquina administrativa é o maior trunfo de candidatos à reeleição - mas ela só decide a parada se seu piloto for bom e se os ventos soprarem a favor. A máquina se mexeu para eleger Serra presidente da República em 2002 - mas os ventos sopravam a favor de Lula. E a máquina vazava óleo por todos os lados.

Marqueteiro - De estrela de primeira grandeza passou a culpado pelo desempenho medíocre dos candidatos. Quem ganha eleição é o candidato. Quem perde é o marqueteiro. Geraldo Alckmin (PSDB) trocou de marqueteiro no meio do primeiro turno. E aí? Acabou em terceiro lugar. Maria do Rosário (PT) trocou no segundo turno – perdeu para José Fogaça (PMDB). O marqueteiro argentino de Márcio Lacerda ficou rouco de tanto aconselhá-lo a construir uma imagem própria. Foi demitido. Seu substituto seguiu a receita dele com rigor – Lacerda venceu.

Militância - Era barulhenta, colorida e de graça. Perdeu a cor. Barulho? Agora só com pagamento adiantado.

Palanque - Entenda-se como tal a montagem de coligações que assegurem um tempo razoável de propaganda no rádio e na televisão. Quem não teve palanque perdeu logo no primeiro turno. Marcelo Crivella (PR) não teve no Rio. Nem Jandira Feghali (PC do B). Em São Paulo, Alckmin não teve.

PMDB - O michê subiu. Quero dizer: o cachê aumentou. Dizia-se que sem o PMDB presidente algum governaria. É certo dizer que sem o PMDB dificilmente alguém se elegerá presidente em 2010. Foi o partido que mais elegeu prefeitos e vereadores.

Poste – O mais ilustre deles, Márcio Lacerda, penou para se eleger prefeito de Belo Horizonte. Só conseguiu porque no segundo turno foi menos poste, a depender da luz emanada por Aécio (PSDB) e Fernando Pimentel (PT), e mais candidato. Kassab foi um poste que acendia. Poste autêntico foi João do Poste (ou melhor: João da Costa), eleito prefeito do Recife por obra e graça do prefeito João Paulo (PT).

PT - Não perdeu. Para compensar não ganhou. Aumentou seu time de prefeitos e de vereadores, é fato. Ficou de fora da festa nos maiores colégios eleitorais do país. Obteve um resultado muito aquém da sua ambição.

Serra - Sai da eleição maior do que entrou. Entrou na condição de possível candidato a uma derrota para Alckmin, que se lançou à revelia dele e como um enclave em São Paulo da candidatura de Aécio à sucessão de Lula. Serra derrotou Alckmin, Aécio e Marta. E elegeu Kassab. Foi um craque improvável, assim como é Obina no Flamengo.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Mulheres Poderosas (Parte 1)



Dentre as mulheres mais importantes da política brasileira estão Marta Suplicy e Dilma Roussef, Ministra Chefe da Casa Civil.

Para não pensarmos que tudo está perdido, preparei um post em que poderemos conhecer outras figuras interessantes da política mundial. Esqueçam porque não incluirei Sarah Palin, a candidata a vice na chapa de MacCain. Leiam os posts abaixo e conheçam figuras femininas bem interessantes!

Mulheres Poderosas (Parte 2)


Vamos começar a lista com esta pequena beldade chamada Marianne Thieme. Ela é holandesa, tem 36 anos e foi eleita deputada em 2006, com quase 200 mil votos. Sua atuação é muito forte na área do Meio Ambiente e da proteção aos animais. Para os machistas de plantão que pensarem que Marianne obteve essa votação expressiva apenas pela beleza, lembro a todos que ela estudou na Sorbonne, em Paris e sua especialização em Direito Administrativo foi feito na Universidade de Roterdam.
Ela é Vegetariana.

Mulheres Poderosas (Parte 3)


Continuando na faixa dos trinta, a jovem Ruby Dhalla (34 anos) nasceu em Winnipeg, no Canadá e é deputada federal pelo Partido Liberal. Filha de indianos, do Punjab, Ruby teve sua primeira aparição política aos 10 anos de idade, ao ficar famosa pela carta que escreveu para a então primeira-ministra da India, Indira Ghandi, solicitando uma solução urgente para o conflito entre o exército daquele país e os separatistas Shiks. Em 2008 foi reeleita com mais de 41% dos votos feitos para os Liberais.

Mulheres Poderosas (Parte 4)


Vamos para nossa representante norte-americana. Nascida em 1970, Nicole Parra é deputada federal pelo estado da Califórnia. Ela é Democrata e membro da Comissão de Agricultura do Parlamento. Parra tem dois bacharelados, em Artes e em Economia, todos feitos pela Universidade de Berkeley, na Califórnia. Nos últimos meses se envolveu em uma forte polêmica ao votar contra a união de homosexuais na Califórnia, uma posição pouco comum na tradição política feminina norte-americana.
Nicole Parra é católica.

Mulheres Poderosas (Parte 5)





Esta morena com um certo olhar melancólico (pessoalmente acho isso um charme!) é Hina Rabbani. Nascida em 19 de janeiro de 1977 (é do mesmo signo que o meu... tenho certeza de que se me conhecesse seria amor a primeira vista!) na cidade de Multan, no Paquistão, foi deputada entre 2003 e 2007 e reeleita em 2008, sendo que além de representante do Parlamento atua como uma espécie de Conselheira Especial para assuntos de economia do primeiro-ministro de seu país. Também em 2008 foi incluída na lista das Jovens Lideranças Globais do Fórum Econômico Mundial.
Bacharel em Economia pela Lahore University of Management Sciences, fez MBA pela Universidade de Massachusetts.
Hina gosta de viajar. (E se eu puder quero ir junto!)

Mulheres poderosas (Parte 6)



Nada melhor que uma mulher na faixa dos 50 toda charmosa, bonita e inteligente. Esta é Segonèle Royal. Apesar de sua carreira política ter sido feita na França, Segonèle nasceu em Dakar, no Senegal há 55 anos atrás. Disputou a presidência da França contra Sarkozy, pelo Partido Socialista. Pode-se dizer que sua luta política começou em casa, pois seu pai era um militar conhecido por suas posições radicais e absolutamente contrárias à liberdade feminina.
Segonèle estudou Economia na Universidade de Nancy e depois se formou em Administração pela Escola Nacional de Administração. Sua carreira política é vastíssima e neste caso pode ser facilmente encontrada na internet.
Segonèle gosta de usar casacos brancos.

Mulheres Poderosas (Parte 7)


Esta é impressionante! Trata-se da italiana Mara Carfagna, nascida em Salerno, tem 33 anos, foi eleita deputada federal em 2006 e atualmente ocupa o posto de Ministra da Igualdade do governo italiano. Da lista que preparei a vocês, Mara é a única cuja carreira começou fora dos campos de batalha da política, pois ela fez muito sucesso na TV e também como modelo antes de disputar uma eleição. Apesar disso ela é considerada uma política muito atuante e trabalha com muita força pelos direitos dos gays, das prostitutas e de outras minorias exploradas sexual e/ou socialmente.
Mara estudou na Universidade de Salerno, onde se formou em Direito.
Em 1997 disputou o Miss Itália e ficou em sexto lugar. (Eu daria o primeiro!)

Mulheres Poderosas (Parte 8)





Escreverei pouco sobre esta musa da política. Ela nunca concorreu a qualquer pleito eleitoral, mas é altamente atuante em defesa das crianças e dos direitos das mulheres. Ela é Rannia, a Rainha da Jordânia (até rimou!). Nascida no Kuwait, em 31 de agosto de 1970, apesar de ser bem jovem é mãe de quatro filhos. Hoje, dia 24 de outubro, ela está em visita ao Brasil. Estudou Administração e Negócios na Universidade Americana do Cairo e trabalhou na Apple e no Citybank.
Ela é bonita, charmosa e inteligente. Basta!

Os Fatores que Influenciam o Voto do Eleitor

Tenho postado vários textos do Jairo Nicolau, cientista político que escreve na Veja.
Este é um dos mais interessantes para o atual momento. Já expliquei em sala de aula mais de mil vezes que o senso comum determina certos mitos sobre o mundo político e um deles é o de que boa parte do eleitorado decide seu voto de acordo com o candidato que está na frente das pesquisas. Todos pensam que isso é verdade, mas como eleitores, não se comportam assim. O texto abaixo trata deste assunto e minha diferença é que sou um pouquinho mais radical do que o autor nos aspectos por ele tratados. Um estudo muito interessante apresentou duas dezenas de variáveis que influenciam a tomada de decisão por parte dos eleitores e o fator "Estar à frente nas Pesquisas" é o 11° do ranking, ou seja, esta variável, de fato existe, mas não determina um volume extraordinário de eleitores que decidem seu voto baseado nesse quesito. Trocando em miúdos, na média, ao pensar em quem votar um eleitor leva em consideração 10 variáveis antes de chegar até a questão da posição do candidato nas pesquisas eleitorais.

Vamos ao texto de Jairo Nicolau.
Fonte: Portal da Revista Veja
Data: 22/10/2008

"Para quem estuda eleições, o maior desafio é tentar responder a uma pergunta aparente simples: o que explica o voto dos eleitores? Todos os que se dedicam a fazer ou a estudar as campanhas eleitorais têm procurado responder a esta pergunta.

A cada momento de campanha sou procurado por jornalistas desejosos de saber se uma declaração, uma denúncia, uma pesquisa, um apoio influenciam a escolha dos eleitores.


"Minha desconfiança é que um reduzido contingente de eleitores decida seu voto baseado em pesquisas."

Existem muitos estudos sobre comportamento eleitoral no Brasil, mas ainda estamos longe de compreender as razões que levam os eleitores a preferirem certos candidatos em detrimento de outros. Acreditamos na influência de diversos fatores, mas precisamos de mais pesquisas para tentar responder algumas perguntas: Será que as diferenças sociais (renda, gênero, religião, lugar de moradia, escolaridade) influenciam na escolha? A ideologia e o partido ainda são importantes? A cobertura da mídia influencia? Como as "ondas eleitorais" se propagam? Os debates são decisivos?

Se pensarmos com cuidado veremos que tentar decifrar o "mistério da escolha eleitoral" não é mesmo um tarefa das mais simples. Milhões de pessoas escolhem um candidato em um determinado domingo de outubro. As razões apresentadas vão das mais prosaicas às mais sofisticadas. E cabe a nós, os analistas eleitorais, encontrar neste cipoal uma lista de possíveis fatores que influenciam o voto.

É impossível discutir aqui as principais teorias e modelos que buscaram explicar o voto nas democracias modernas. Minha tarefa será mais modesta. Apresento uma breve reflexão sobre a possível influência de apenas três fatores, que para muitos tem sido decisivos nas eleições brasileiras.

1. As pesquisas
Tenho recebido algumas mensagens sugerindo que a divulgação de pesquisas seja proibida Brasil. O argumento é que as pesquisas influenciariam negativamente os eleitores, sobretudo por conta do fenômeno conhecido como voto útil (os eleitores trocam o seu candidato, em má posição na disputa, por outro, melhor situado nas pesquisas). É bom lembrar que nas eleições municipais as pesquisas são publicadas com regularidade nas maiores cidades, mas em um número expressivo de cidades as pesquisas sequer são realizadas ou divulgadas.

Sabemos que as pesquisas influenciam os doadores de campanha, sabemos que elas afetam o moral dos candidatos e militantes, mas não sabemos o volume de eleitores que decidem seu voto baseado em pesquisas.

Minha desconfiança é que um reduzido contingente de eleitores decida seu voto baseado em pesquisas. Se tivesse que dar um palpite, diria que não mais do que 5%. Mas precisamos de estudos sobre o tema.

2. O horário eleitoral gratuito
No Brasil, os candidatos têm acesso ao mais generoso tempo de rádio e televisão do planeta. Hoje, os gastos mais expressivos dos candidatos estão associados à produção dos programas. Mas, afinal, os eleitores assistem ao horário? A propaganda tem sido decisiva para o eleitor?

É fundamental distinguir a propaganda em cadeia, que é divulgada duas vezes por dia, dos comerciais de 30 segundos divulgados no meio do horário regular de programação. O número de telespectadores e de ouvintes do programa em cadeia tem caído, comparativamente aos das campanhas das décadas de 1980 e 1990. Uma das razões é o crescimento de fontes alternativas de informação e lazer, tais como os canais a cabo e a internet.

Já os comerciais de 30 segundos são vistos e ouvidos por todos que estão conectados aos canais comerciais de rádio e televisão. Isto é, a grande maioria da população. Os comerciais têm se tornado a principal fonte de informação para os eleitores. Não conheço estudos sobre os efeitos dos comerciais, mas apostaria que hoje eles têm sido mais decisivos na campanha do que os programas em cadeia.

3. Os apoios
Um dos mitos desta eleição foi que o apoio do presidente Lula seria decisivo para os candidatos. Alguns candidatos da base governista quase se engalfinharam para obter o apoio presidencial. Ter sido apoiado pelo presidente pode ter dado alguns pontinhos extras para um ou outro candidato. Mas esteve longe de ter sido decisivo.

A razão é simples: as eleições municipais têm se organizado basicamente em torno dos temas locais, com diferentes contornos: a avaliação sobre um determinado prefeito (ou seu candidato); os tradicionais conflitos entre famílias e lideranças locais; a discussão dos problemas que afetam a cidade.

A escolha dos eleitores se dá basicamente tentando encontrar o nome mais adequado para enfrentar os desafios vividos por sua cidade. Por isso, a influência de atores externos à corrida eleitoral municipal (presidente, governadores, senadores, secretários estaduais, ministros) no voto, não tem sido, na maioria dos casos, decisiva."

terça-feira, outubro 21, 2008

Batalhas Judiciais

Chegamos na última semana das eleições municipais. Todos sabemos que esta campanha, com destaque para o pleito paulistano, é a ante-sala da campanha presidencial de 2010 e, por isso, trata-se de uma guerra das mais agressivas que assistimos nos últimos anos. Uma curiosidade interessante é observar as batalhas jurídicas em torno das candidaturas. Não tenho visto muito sobre isso na imprensa, mas Gilberto Kassab e seu time de advogados conseguiram vencer incontáveis recursos e pedidos de direito de resposta contra a campanha de Marta Suplicy. Aliás, o batalhão de advogados de ambos os lados estão se degladiando faz tempo, mas a equipe de Kassab tem obtido resultados melhores e mais vitórias junto aos Tribunais Eleitorais. Para se ter uma idéia, faltando apenas poucos dias de campanha, não se sabe ao certo quantos minutos Kassab terá em direitos de respostas dentro do programa de sua rival. Para Marta, ver o restante de seu tempo no rádio e na TV sendo dilapidado pelas inúmeras derrotas judiciais que sofreu representa o tiro de misericórdia em sua candidatura.
Já no Rio de Janeiro as coisas parecem indefinidas e até mesmo as batalhas judiciais estão equilibradas. Teremos uma das eleições mais emocionantes dos últimos anos, com os candidatos com poucas condições de saber sua real situação eleitoral no dia da votação.

15 Minutos

A Revista Ensino Superior, especializada na área de educação universitária e publicada pela editora Segmento (para conhecer mais: http://revistaensinosuperior.uol.com.br), publicou em sua edição de outubro, matéria intitulada "Blogueiros da Educação", na qual analisa o uso dos blogs por parte de docentes como forma de ampliar os recursos de comunicação com os estudantes.
A matéria cita este blog e conta um pouco da história de como tudo começou, além de outros aspectos interessantes. Legal né! Tentarei uma autorização para reproduzir a matéria aqui.

terça-feira, outubro 14, 2008

Propaganda que questiona passado de Kassab sai do ar; campanha diz que troca é normal

Escrevi em meu post anterior (leiam abaixo) que a baixaria homofóbica escondida na propaganda da candidata Marta não passava de um gesto grotesco e vil do comando da campanha petista e que tais ações servem somente para reverter contra a imagem da própria candidata petista. Publico uma notícia da Folha de São Paulo que foi ao ar esta manhã, no site do Jornal, em que o comando da campanha continua achando a peça "normal", mas que, apesar disso, vão retirá-la do ar.

É pra rir ou pra chorar?!

Segue o texto.
Fonte: Folha de São Paulo
Data: 14/10/2008

"A campanha da petista Marta Suplicy em São Paulo deixou de veicular nesta terça-feira a propaganda que questiona a vida pessoal do prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição.

Segundo o coordenador da campanha de Marta, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), é normal a rotatividade de propagandas. Já a assessoria da petista afirmou que a propaganda pode voltar a circular.

A inserção na TV mostra a foto do democrata e pergunta se o eleitor sabe quem é Kassab, se ele é casado, se tem filhos.

A coordenação da campanha de Kassab já entrou com sete representações no TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo contra a campanha da petista.

A campanha de Kassab reivindica o direito de resposta à inserção da campanha da adversária que questiona sua vida pessoal. As ações na Justiça, no entanto, referem-se à acusação de que o democrata teria enriquecido desde que iniciou sua carreira política.

"Você sabe mesmo quem é o Kassab? [...] Se já teve problemas com a Justiça? Se melhorou de vida depois da política?", questiona o locutor.

Para a campanha do democrata, a pergunta deixa de ser uma insinuação e torna-se uma acusação, daí o pedido de direito de resposta.

Ontem, Marta foi questionada por jornalistas sobre uma possível invasão à privacidade do prefeito. Marta disse que é uma questão sobre a biografia de Kassab, não da vida pessoal. "Isso é vida pública, faz parte da biografia e está escrito em qualquer documento", afirmou.

A petista disse também que sofreu muito por ter tido sua vida vasculhada --quando se separou do senador Eduardo Suplicy (PT)-- e que é a primeira a ser contra qualquer interferência em questões de foro íntimo.

Segundo a ex-prefeita, a imprensa está sendo responsável por polemizar a propaganda. "Estão fazendo insinuações que não fazem parte da campanha, não fazem parte do meu discurso [...] nunca saiu da minha boca coisa nenhuma", afirmou."

segunda-feira, outubro 13, 2008

Perdeu "Preibói"!!!

Conhecem aquela palavrinha que assaltante faz para suas vítimas quando as pega de surpresa?

PERDEU!!!

Pois foi exatamente isso que aconteceu com a campanha de Marta Suplicy ao colocar no ar aquela "beleza" de peça em que faz insinuações maldosas sobre a vida privada de seu adversário Gilberto Kassab. Há poucos dias comentei num podcast da Folha (vejam uns posts abaixo, mas não consigo colocar o áudio!) que o eleitor não suporta mais as baixarias que alguns candidatos insistem em fazer. Isso pega mal e só demonstra uma mistura de desespero com falta de caráter dos responsáveis.

Mesmo assim, o coordenador da campanha da candidata Marta, o deputado petista Carlos Zarattini, achou normal e disse que os questionamentos feitos "não são nada demais", o que dá uma boa idéia da categoria ética que este "gênio" da coordenação política se enquadra. Talvez ele esteja pensando que a diferença dos 17% nas pesquisas a favor de Kassab também não são nada demais.

Por enquanto, o feitiço virou contra o feiticeiro (desculpem o clichê!) e os assaltantes da moralidade é que ao invés de dizer, terão mesmo que ouvir: PERDEU!!!

quinta-feira, outubro 09, 2008

Vou Morar na Itália!!!

Peço desculpas e dou uma pausa nas notícias sobre as eleições para anunciar a todos, em primeira mão, que vou me mudar para a Itália!

Tomei esta decisão depois de pensar muito... pouco.

Por enquanto ficarei na cidade de Marino e pretendo ali instalar-me durante pelo menos um ano, quando ocorrerá a próxima festa da uva da cidade.

Neste ano, na abertura da 84° edição da festa os moradores da cidade foram surpreendidos com o que parecia ser um milagre: das torneiras de suas casas começou a jorrar vinho branco, em vez de água.

Segundo texto da BBC, "tradicionalmente, para marcar o início da Festa, milhares de moradores fazem uma contagem regressiva ao redor da Fonte dei Quattro Mori, no centro da cidade, para ver a "transformação da água em vinho", quando a fonte passa a jorrar, ao invés de água, uma boa qualidade de vinho branco.

Todos os anos, a Fonte é abastecida com barris de três mil litros de vinho para garantir o sucesso das celebrações. No entanto, os responsáveis pelo abastecimento das fontes de água espalhadas pelas ruas da cidade giraram a alavanca errada no momento da abertura da Festa e, em vez de enviarem vinho para a Fonte, mandaram a bebida para casas da cidade."

Está decidido: vou me mudar para a Itália, refazer minha vida amorosa e, para economizar, só beberei água da torneira!

Classe Média Abandonou o PT em São Paulo

Qui, 09 Out, 12h59
Fonte: Agência Estado

"A candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, inicia o segundo turno dessas eleições com um grande desafio: rever o planejamento de sua campanha a fim de obter os votos necessários do eleitorado de classe média, que continua apostando na reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). A avaliação é do cientista político e pesquisador da PUC e FGV de São Paulo Marco Antonio Carvalho Teixeira, ao analisar a vantagem de 17 pontos porcentuais de Kassab sobre Marta na pesquisa Datafolha divulgada hoje. "A classe média abandonou o PT em São Paulo", afirmou.

Para o cientista político, "a situação da campanha petista na capital é extremamente delicada" e pode repetir, inclusive, o "fenômeno" ocorrido com Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006, candidato derrotado à Presidência da República que obteve menos votos no segundo turno em relação aos que teve no primeiro. "O efeito da pesquisa é terrível para os ânimos da campanha de Marta, que começa o segundo turno nocauteada e com um partido dividido. Daí a importância de se encontrar, rapidamente, um novo foco."

Carvalho Teixeira avalia também que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Marta na capital não deverá mudar o atual cenário. "O presidente já agregou o que tinha de agregar e eu acredito que a presença dele não irá alterar a rota." O pesquisador diz que os votos de Alckmin e do candidato derrotado Paulo Maluf (PP) estão migrando "majoritariamente" para a campanha de Kassab. Por isso, ele classifica de "hercúleo" o trabalho que a campanha petista terá de fazer para tentar reverter o quadro."

quarta-feira, outubro 08, 2008

Vereadores mal avaliados são reeleitos em SP

Fonte: Portal da Revista Veja
Autor: André Pontes

Os eleitores paulistanos reelegeram neste domingo 38 vereadores. Avaliação do trabalho dos 52 postulantes à reeleição feita por VEJA São Paulo mostrou que o desempenho da maioria foi medíocre nos últimos quatro anos. Apenas oito tiveram nota acima de 7, sendo que seis deles foram reeleitos. Os últimos quatro da lista, com as notas mais baixas, também venceram a eleição.

O vereador José Roberto Tripoli (PV), com uma nota de 2,6, ficou em último lugar na lista feita por VEJA São Paulo. Tripoli foi eleito com 45.750 votos, ficando entre os vinte candidatos mais votados. Em 2007, das 53 votações a que deveria ter comparecido, Tripoli esteve presente em catorze.

Outro candidato que apareceu entre os últimos na lista e foi reeleito com votação considerável foi Milton Leite (DEM). Com uma nota de 3,8, Milton Leite teve 80.051 votos, sendo o quarto candidato mais votado em São Paulo. Dos treze projetos apresentados pelo democrata no atual mandato, oito eram para nomear ruas.

Acesse o site da Veja e conheça a lista dos 38 candidatos reeleitos, com seus respectivos votos e notas da avaliação.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Sobre os Resultados Eleitorais

Filtrarei algumas notícias e informações a respeito das eleições municipais para vocês, buscando publicar textos mais analíticos do que textos sobre os números, quanto cada candidato teve de votos e onde ocorrerão os segundos turnos.
Seguem alguns posts que publicarei ao longo da semana.

Primeiras Impressões dos Resultados das Eleições

Autor: Jairo Nicolau (Cientista Político)
Fonte: Portal da Revista Veja

As pesquisas e seus erros
Na próxima coluna vou analisar cuidadosamente os erros e acertos dos institutos de pesquisa nas principais cidades do Brasil. Mas uma rápida comparação entre as pesquisas publicadas no domingo da eleição e os resultados das urnas em algumas cidades já revela alguns erros dos institutos. Por exemplo, eles subestimaram a votação de Gabeira no Rio, de Kassab em São Paulo e Quintão em Belo Horizonte.

A justificativa dos institutos para esses erros é sempre a mesma. O trabalho de campo termina no sábado e, por isso, não é possível capturar as ondas eleitorais que acontecem entre sábado e domingo.

O problema é que como as ondas tem acontecido sempre nas grandes cidades, a última pesquisa tem sido uma péssima preditora do que vai acontecer nas urnas.

Precisamos lembrar os eleitores desses detalhes na próxima eleição.

A onda que se ergueu do mar

Falta ver o mapa da impressionante votação de Fernando Gabeira. Ao contrário dos comentaristas de televisão de outros estados imaginam, a votação de Gabeira não foi uma grande surpresa para os cariocas. Ele vinha subindo lentamente desde o começo do horário eleitoral gratuito. A onda começou da zona sul, área mais rica da cidade e se espraiou para os subúrbios da cidade. Sua votação entre os jovens foi impressionante.

O que Alckmin não entendeu

Todo mundo quer saber se 2008 ajuda a explicar 2010. Ninguém se perguntou se 2006 poderia explicar 2008. O candidato do PSDB em São Paulo aprendeu uma dura lição: no Brasil, cada eleição tem as suas circunstâncias. Dois anos depois de seu belo desempenho eleitoral na cidade de São Paulo, viu seus votos reduzirem-se a menos da metade.

Pouca gente lembra, mas o ex-governador Leonel Brizola concorreu a prefeito na cidade do Rio de Janeiro em 2000. Chegou em quarto lugar com apenas 9% dos votos.

A melancólica estréia do DEM

Depois de um resultado ruim nas eleições de 2004 e 2006, o PFL trocou de nome e renovou seus postos de comando. Decidiu apresentar candidatos no maior número de municípios possível. Ainda é cedo para um balanço minucioso do desempenho do partido. Excluindo a cidade de São Paulo, o desempenho do partido nas capitais foi bem abaixo do esperado. No Rio de Janeiro, a candidata do prefeito César Maia, Solange Amaral, chegou em sexto lugar com 4% dos votos. Em Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto ficou de fora do segundo turno. No Recife, Mendonça Filho perdeu já no primeiro turno. Em Belém e Porto Alegre, dois de seus jovens líderes chegaram muito mal.

O PFL vinha encolhendo eleição após eleição e a "reformatação" da legenda parece não ter revertido essa tendência.

A logística das eleições

Não me canso de dizer: os sistemas de votação e apuração inventados no Brasil são um sucesso. Não conheço nada do gênero em nenhum lugar do mundo. Mais de 100 milhões de brasileiros votando em nove horas (de 8h às 17h). Cinco horas depois, mais de 100 milhões de votos apurados.

Debates Eleitorais - Podcast na Folha

04/10/2008 - 10h59
Vence debate quem transmite melhor imagem com melhor conteúdo; ouça
da Folha Online

Os candidatos a prefeito de São Paulo participaram de debates de primeiro turno transmitidos pela Bandeirantes e pela Record. A TV Globo cancelou a edição do confronto deste ano, que seria o último antes da data da eleição.

O cientista político Luiz Renato Ribeira Ferreira, professor das Faculdades Integradas Rio Branco e da Anhanguera Educacional, diz que o formato do debate segue o padrão estabelecido na década de 60. Segundo ele, esse modelo não teria sofrido muitas modificações até os tempos atuais. "São regras estabelecidas anteriormente, dois ou mais candidatos, com os mesmos tempos, e um mediador", comenta.

Luiz Renato Ribeira Ferreira

Ele afirma que os debates televisivos foram fundamentais para determinar o resultado final em algumas eleições. Já em outros períodos eleitorais, as defesas de idéias entre os políticos não foram relevantes para a decisão do eleitor.

O professor diz que em 26 de setembro de 1960, foi transmitido, nos EUA, o primeiro debate televisivo. O marco foi protagonizado pelos candidatos à Presidência Richard Nixon e John Kennedy.

De acordo com Ferreira, na mesma data, Nixon cumpriu sua agenda e passou o dia em campanha. Kennedy se resguardou, pois acreditava que aquele evento era algo muito importante.

Na hora do confronto, Nixon estava com a expressão cansada, a barba por fazer e com a roupa amassada. Em um terno alinhado e com o rosto bem cuidado, Kennedy passava ao telespectador uma imagem de segurança, relata Ferreira.

"Os eleitores que ouviram o debate pelo rádio, deram a vitória para Nixon, enquanto aqueles que assistiram pela televisão, deram a vitória para o Kennedy. O vencedor foi aquele que entendeu a importância da imagem na TV", explica.

De acordo com o cientista político, vence aquele que transmite a melhor imagem com o melhor conteúdo. Atualmente, estão embutidos outros aspectos nesse conceito de imagem e eles não se restringem à aparência física e a uma roupa bem cortada.

Ele fala que gestos, que representam algum tipo de insegurança durante o debate, podem comprometer a aceitação do político por parte do eleitor. Por isso, os assessores dos candidatos realizam ensaios simulando perguntas constrangedoras que possam ser feitas ao concorrente durante o programa.

"Um candidato perfeito em um debate é aquele que fala como o Nixon e se apresenta como o Kennedy", conclui.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Cuidado com as Pesquisas!

Já é pública e notória a manipulação das pesquisas eleitorais por parte de institutos de fundo de quintal, as quais são contratadas por determinados candidatos com o objetivo de confundir os eleitores, prejudicar a arrecadação financeira da campanha dos adversários e desanimar os partidários daquele que artificialmente "cai" nas pesquisas. Inúmeros truques são utilizados para isso, mas o principal deles é realizar as pesquisas sem que existam quaisquer critérios técnicos que possam garantir sua cientificidade. Normalmente, este tipo de tramóia é feita pelos institutos de pesquisa, como eu afirmei acima, de fundo de quintal.
No entanto, como a ocasião faz o ladrão e a fiscalização e repressão são ineficientes, agora até mesmo renomados institutos estão sendo investigados pela mesma prática.
O IBOPE serve como exemplo. Em cidades do sul de Minas já foram protocolados e estão sob investigação várias pesquisas eleitorais. Na cidade de Maringá, no Paraná, o Juiz eleitoral da cidade impugnou todas as tentativas de divulgação das duas pesquisas IBOPE para as eleições. Em Campinas, o Juíz eleitoral local também proibiu, numa medida cautelar, a divulgação da pesquisa IBOPE para a prefeitura local, uma vez que foram encontrados claros indícios de manipulação em favor do atual prefeito que é candidato à reeleição.
No Rio de Janeiro uma curiosa divulgação de duas pesquisas, uma do IBOPE e outra do DATAFOLHA (realizadas praticamente nas mesmas datas) poderá demonstrar se o IBOPE está sendo vítima de perseguição ou se de fato está vendido para interesses escusos.
Vejam as diferenças:
Eduardo Paes, candidato do PMDB, aparece com 29% das intenções de voto em ambas pesquisas. Até aí, tudo normal. Já o candidato Marcelo Crivella, do PRB, aparece na pesquisa DATAFOLHA com 18% e na do IBOPE com 24%. Algo parecido ocorre com o candidato do PV, Fernando Gabeira que tem 15% no DATAFOLHA e 10% no IBOPE.
Ora, meus alunos que já sabem muito bem ler e interpretar pesquisas de opinião, pois trabalhamos isso incansavelmente no curso de Teoria da Opinião Pública, devem fazer uma observação cuidadosa para, após os resultados eleitorais, observar quanto que cada instituto se aproximou ou se distanciou dos resultados verdadeiros.

Uma dica: não vale se basear na pesquisa de boca de urna, aquela feita nas portas das escolas no dia da eleição, pois nesse dia todos os institutos acertam porque não são bobos, uma vez que precisam dizer na TV (após o final da apuração) que acertaram todos os resultados previstos. Observem os números anteriores e o desenvolvimento de cada candidato. Pesquisa de boca de urna de instituto de fundo de quintal é feita para que os "analistas" reafirmem que não ocorreu erro, mas sim algo como "uma surpreendente virada nos últimos dias antes do pleito", ou então "uma reviravolta nas intenções de voto", ou qualquer outra frase com pseudo conteúdo técnico para que possam se credenciar para as próximas eleições e faturar ainda mais. Se quiserem, convido para um concurso cultural, em que vocês poderão encontrar a melhor frase de efeito para explicar "a surpreendente virada de última hora" nas eleições municipais.

Mais Uma Comissão Imprescindível Para o Desenvolvimento do Brasil !!!

O Governo Federal acaba de criar uma Comissão para discutir a padronização de Porcelanas de Mesa para as embaixadas instaladas em Brasília.
Acho que "despensa" comentários!
Leiam abaixo o ato da Subsecretária-Geral do Serviço Exterior do Ministério das Relações Exteriores, publicado na edição do Diário Oficial da União do último dia 30:

"A SUBSECRETÁRIA - GERAL DO SERVIÇO EXTERIOR, no uso de sua competência,estabelecida no art. 161 do Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relações Exteriores, e com fulcro no art. 15 da Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993, resolve:

I - Criar Comissão de Padronização de Porcelanas Finas de Mesa, material de uso exclusivo das sedes das Missões Diplomáticas brasileiras, composta por três servidores do Quadro Permanente do Ministério das Relações Exteriores.
II - Designar para a Comissão de Comissão de Padronização de Porcelanas Finas de Mesa os servidores:
CONSELHEIRO PAULINO FRANCO DE CARVALHO NETO - Chefe de Gabinete da Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior;
OFICIAL DE CHANCELARIA VANESSA SOUTO MAIOR DE MEDEIROS TORRES- lotada no Consulado-Geral do Brasil em Roma;
- OFICIAL DE CHANCELARIA SANDRA MYRIAM AMORIM DANTAS - lotada no Departamento de Administração.

Assinado: Maria Stela Pompeu Brasil Frota"

terça-feira, setembro 16, 2008

Abrindo Caminho Para a Política Moderna- Maquiavel

Nota Importante: Os posts da série “Abrindo o Caminho da Política Moderna” foram criados com o objetivo de facilitar o acesso dos leitores pouco acostumados às obras do pensamento político moderno, para que possam se sentir mais confortáveis no momento de ler os originais dos autores aqui citados. Não tem, portanto, a intenção de ser um texto que contemple todas as idéias e teorias dos clássicos, mas que possa, de alguma forma, oferecer os elementos cruciais para que, ao ler a obra original, a essência do pensamento de cada um seja imediatamente captada.


Parte 1: Maquiavel

Se a “chave” para compreender o pensamento maquiavélico é a idéia das inúmeras rupturas promovidas por seu pensamento e a “chave” para compreender o pensamento hobesiano é a idéia do estado de natureza, o caminho para definir o pensamento de Locke é o conceito da propriedade privada.

Já afirmei diversas vezes que todos os teóricos e filósofos importantes da Ciência Política eram observadores de seu tempo e faziam desta ação seu ofício. Observar, analisar e criticar eram as principais etapas na construção de suas teorias. Dessa forma, se Maquiavel antecipou-se ao criar o homem de virtù, sabedor da decadência do poder da Igreja Católica Romana que defendia o “mundo das verdades reveladas”, tanto Hobbes, quanto Locke atreveram-se a explicar certas particularidades promovidas pelo fim do feudalismo e início do capitalismo. Devemos recordar que a Inglaterra de Locke fora transformada em um império mercantil a partir da segunda metade do século XVI e que as alterações nas relações de força promovidas pelas novas relações políticas e comerciais da época contribuíram para a construção do pensamento político do período.

Recordemos, pois, desde o início da Ciência Política Moderna, o processo de construção do pensamento político a partir de Maquiavel.

Como disse, Maquiavel é marcado pelas inúmeras rupturas propostas em sua obra fundamental “O Príncipe”. A moral versus a política, a igreja versus a ciência, a virtù versus a fortuna; todas elas são dicotomias apresentadas para reforçar a negação de tudo aquilo que fizesse parte das influências da Igreja e da religião no campo político.

Lembrem-se de Bobbio, ao analisar Maquiavel, o qual afirmou que “Aquilo que é obrigatório em moral nem sempre é obrigatório na política, e aquilo que é licito na política nem sempre é licito na moral. Podem existir ações morais que são apolíticas e ações políticas que são imorais.” A objeção de Maquiavel às influências da igreja no campo político ocorrem ao mesmo tempo em que, nas palavras de Marco Mondaini, a legitimidade de uma sociedade hierarquizada, fundada em privilégios de nascença perdeu força. Agora, a questão não era mais como alcançar o Poder, mas sim, como mantê-lo após conquistado; em outras palavras, é possível estabelecer relações de força e aplicar a violência para vencer e conquistar, mas este mesmo procedimento se tornou ineficaz para fazê-lo subsistir.

Nos tempos em que o homem passa a dominar a natureza, a explicar seus principais fenômenos e a promover o pensamento científico em detrimento dos dogmas religiosos, a descoberta da verdade não mais dependia de forças espirituais, mas sim do esforço criativo do homem. Nessa linha, persistir com as teses de que o Poder era uma bênção para afortunados escolhidos por Deus tornou-se algo tão anacrônico quanto imaginar que a proteção divina destes líderes políticos justificaria suas ineficácias e arbitrariedades cometidas contra seus súditos.

Ao romper com o paradigma da legitimidade da posse do Poder baseada em princípios divinos, Maquiavel percorre, na política, um caminho irreversível cujos passos foram seguidos por outros pensadores dos séculos seguintes. O rompimento de Maquiavel proporcionou a autonomia que a política necessitava para se desenvolver e se transformar. Este processo de “libertação” do pensamento político também se revela nas diferentes formas de organização social, cujo marco simbólico pode ter sido o momento em que os indivíduos deixaram de ser súditos e transformaram-se em cidadãos.

Abrindo Caminho Para a Política Moderna- Hobbes e Locke

Nota Importante: Os posts da série “Abrindo o Caminho da Política Moderna” foram criados com o objetivo de facilitar o acesso dos leitores pouco acostumados às obras do pensamento político moderno, para que possam se sentir mais confortáveis no momento de ler os originais dos autores aqui citados. Não tem, portanto, a intenção de ser um texto que contemple todas as idéias e teorias dos clássicos, mas que possa, de alguma forma, oferecer os elementos cruciais para que, ao ler a obra original, a essência do pensamento de cada um seja imediatamente captada.


Parte 2: Hobbes e Locke

Escrever sobre Política é escrever sobre Poder, afinal, o que desejam os políticos, com boas ou más intenções? Change the World? Save the Planet? Save the Whales? Save the Children? Não! Achive Power!!! Sim, caros leitores, os Políticos querem o Poder e o problema dos cidadãos comuns, como eu e você, é pensar que obter e exercer o Poder são coisas reservadas somente aos Políticos. Quantos cidadãos vocês conhecem que pensam exatamente assim: imaginam que o exercício do poder só se realiza quando “se chega lá”!

Pois esta forma de pensamento típico de países despolitizados como o nosso não é uma novidade. De maneira diferente, Hobbes e Locke inauguraram esta discussão sobre a forma do exercício do Poder. Para meus alunos e ex-alunos vocês se lembram: tanto Hobbes quanto Locke são “contratualistas”. Na teoria hobbesiana, a humanidade passou de um período chamado “estado da natureza” para o “estado civil”. No “estado da natureza” não existiam regras, não existiam leis e eram todos contra todos (para tentar imaginar como eram as coisas, vá ao estádio de futebol em um domingo, sente-se naquela parte vazia da arquibancada que separa as torcidas do Palmeiras e do São Paulo ─ do Corinthians o exemplo não se aplica porque eles estão na segunda divisão ─ acaricie um pastor alemão da Polícia Militar, vista qualquer uma das camisetas e vá ao encontro da torcida contrária à cor da camiseta que estiver vestindo e descubra o verdadeiro “estado da natureza”). No processo das experiências históricas, o homem percebeu que um Poder soberano era necessário para garantir a paz social. Trata-se de um juiz que, baseado nas regras existentes, aplica a lei de forma soberana garantindo assim a justiça para todos. Essa é a teoria e este é o “estado civil”. Para fazer essa passagem histórica, o homem criou regras e leis, criou juízes e um grande aparato estatal destinado a exercer da melhor forma possível seu poder. Hobbes ilustrou essa passagem com a figura de um contrato. Para ele, a passagem do estado da natureza para o estado civil deu-se por meio de um contrato entre os homens fazendo com que o Estado fosse criado. Por isso ele é chamado de “contratualista”.

Locke concordou com essa tese e reafirmou suas bases ao escrever sobre o tema. Entretanto existem diferenças fundamentais entre Hobbes e Locke, pois se ambos concordam com a teoria da passagem do “estado da natureza” para o “estado civil”, ambos discordam absolutamente sobre as razões deste processo e a forma como o Estado moderno iria exercer o seu poder sobre o povo.

Antes, no entanto, de explicar quais as diferenças entre Hobbes e Locke, é importante fazer um alerta sobre a idéia da passagem do “estado da natureza” para o “estado civil”. Ainda que tenha a necessidade de ilustrar certas teorias, criando figuras e exemplos caricatos (como na brincadeira que fiz com o torcedor das arquibancadas), tenho uma especial preocupação em fazer com que meus alunos e leitores não compreendam as teorias dos clássicos como se fossem temas simples e usuais. Não. O tema, de fato, é complexo e exige por parte dos leitores algum poder de abstração. Isso serve no exemplo da passagem do estado da natureza para o civil. Em nenhum momento um troglodita, que minutos antes guerreava com outro troglodita, criou um contrato no papel em que ambos assinaram e saíram felizes com a existência do Estado Moderno. Hobbes, ao citar o “estado da natureza”, não está falando literalmente sobre indivíduos não civilizados, mas sim sobre o comportamento humano, independentemente do local ou do tempo. Trata-se de um retrato sobre a natureza humana e não sobre pessoas de carne e osso, enfim, o estado da natureza é uma forma de abstração do pensamento hobbesiano que serve para apoiar sua tese de que em algum momento na história, uma transformação social criou as primeiras instituições políticas, as quais foram representadas pelo que chamamos hoje de Estado Moderno.

Feita esta importante consideração, resta-nos voltar às explicações anteriores. O filósofo John Locke “dialogou” bastante com Hobbes. A diferença entre eles é que Hobbes defendia o poder absoluto e soberano de um líder político traduzido na figura do monarca despótico, ou seja, aquele rei que tudo pode e exerce seu poder sem limites. Para Hobbes, a autoridade absoluta era justamente o elemento que manteria as sociedades em paz, uma vez que a força era um elemento fundamental do exercício do poder político. Neste caso, o povo deveria temer e se sujeitar a esse poder. O poder do líder não era legitimado pelo povo, nem consentido, o poder do líder era baseado no medo e no terror impostos por meio da força.

Locke acreditava na tese da passagem do estado da natureza para o estado civil. Também entendia que o Estado Moderno, criado por meio de um pacto, viera com a função de manter a paz social e defender o povo das ameaças externas. Também concordava que para controlar os homens em “estado da natureza” deveria existir uma força maior que pudesse fazer o uso da violência exclusiva em nome da segurança de todos. As semelhanças com Hobbes não vão muito mais longe do que isso. Ocorre que se Locke aprecia a idéia da formação de um Estado com poderes para manter a paz social, ele entende que este Estado fora criado pelos próprios indivíduos e não algo imposto a eles como no modelo hobbesiano.

Locke entende que o estado da natureza não era algo ruim, pois na lei da natureza os homens são livres e iguais. O problema estava naqueles indivíduos que iam contra a lei da natureza, renunciando à razão e dando o direito a outros de castigá-lo. Essa idéia demonstra o ciclo vicioso em que cada integrante de um meio social que infringe as regras deve ser castigado e, dessa forma, ao ser castigado procurará vingar-se daqueles que o agrediram. A solução para interromper este tipo de processo auto-destrutivo é abrir mão de seu direito de fazer justiça entregando-o a um corpo político que representasse a maioria das pessoas, ou seja, o Estado.

Portanto, no caso de Locke, o Estado fora criado pelos homens, os quais abriram mão de seu poder individual de fazer e executar as regras e deram esse poder a uma instituição política maior. Neste caso, trata-se de um poder consentido, legítimo e baseado na escolha da maioria absoluta. Percebam a diferença entre Hobbes e Locke neste ponto. Ambos compartilham a idéia de um Estado que deverá usar a força e a violência para manter a paz social. A diferença está no fato de que um tipo de Poder é imposto e exercido por um só líder, enquanto o outro é legitimado pela maioria e compartido entre diferentes instituições, dentre elas um Parlamento.

Como já afirmei anteriormente, este texto pretende ser o ponto de partida para quem iniciará as leituras sobre esses autores ou uma forma de simplificar e facilitar a interpretação dos textos para aqueles que já leram, mas precisam de outras informações para fixar o tema ou clarear algumas idéias.

Na obra de Locke ainda existem temas muito importantes, com destaque para a questão da propriedade privada, a qual usarei de “gancho” para o texto sobre Weber e Marx.

quinta-feira, setembro 11, 2008

As Três Fases da Campanha Eleitoral

Fonte: Site da Revista Veja (www.veja.com)
Autor: Jairo Nicolau (Cientista Político e Professor do IUPERJ)

"A campanha eleitoral no Brasil dura oficialmente três meses. Ao logo deste período, o interesse dos eleitores e dos meios de comunicação varia e os candidatos criam diferentes estratégias para suas campanhas. A partir da experiência de outras eleições, considero que as campanhas eleitorais para os cargos do Executivo possam ser divididas em três fases distintas.

A primeira fase vai do começo de julho, quando as candidaturas são oficializadas, até meados de agosto, quando começa o horário eleitoral no rádio e televisão. Nessa fase, que dura aproximadamente seis semanas, surgem os primeiros sinais de campanha de rua, mas o interesse dos eleitores e dos meios de comunicação pela disputa ainda é reduzido. Lembre que essa fase coincide, ora com a Copa do Mundo, ora com as Olímpíadas. As pesquisas feitas durante esse período apresentam altíssimo contingente de indecisos e tendem a favorecer os nomes de candidatos mais conhecidos do eleitor.

A segunda fase começa com a propaganda no rádio e televisão e vai até meados de setembro. É o momento que a campanha começa para valer nas maiores cidades. O horário eleitoral e os comerciais de 30 segundos durante a programação ampliam o conhecimento dos eleitores dos candidatos que estão na disputa. Nessa fase, os candidatos intensificam a propaganda de rua e o espaço da cobertura da campanha nos meios de comunicação é sensivelmente ampliado. Ao fim deste período, a maioria dos eleitores já têm conhecimento dos nomes que concorrem e o número de indecisos tendem a cair drasticamente. As pesquisas feitas no fim deste período já captam o padrão mais geral da disputa.

A última fase da campanha vai de meados de setembro ao dia das eleições. Nessas três últimas semanas, cresce significativamente o interesse dos eleitores pela disputa,. Esses passam a assistir com mais freqüência o horário eleitoral e aos eventuais debates entre os candidatos. Entre 20% e 30% dos eleitores costumam chegar a essa fase ainda indecisos (com maior concentração na população mais pobre e menos escolarizada). Por isso, ainda existe margem para as "surpresas" de última hora. Essa é sempre a esperança -- e na maior parte das vezes, a ilusão -- dos candidatos.

Creio que este esquema resuma, em linhas gerais, o padrão geral das campanhas para o Executivo no Brasil. Mas estou consciente da existência de diferenças de ritmos da política em cada uma das cidades. Uma fator fundamental que distingue as cidades é a existência de canais locais de televisão para veicularem o horário eleitoral. Outro é o tamanho da população. Em cidades pequenas os candidatos não tem a mesma dificuldade de se fazerem conhecer, e o papel da relações pessoais é bem maior.

Estamos nos aproximando do fim da segunda fase da campanha. Os resultados das pesquisas para algumas capitais aponta favoritos inequívocos, com alta probabilidade de vencerem já no primeiro turno. Por exemplo: Beto Richa (PSDB), em Curitiba; João da Costa (PT), no Recife; Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte. A disputa está aberta e deve ser emocionante em Salvador, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Fortaleza. Em todas essas últimas o alto contingente de indecisos aumenta as chances de surpresas de última hora."

Tendências das Campanhas Eleitorais

Estamos em plena campanha eleitoral, porém, definitivamente, as eleições para prefeitos e vereadores de todo o país passa por uma interessante mudança. As novas regras do jogo eleitoral, que incluem mais restrições ao uso do poder econômico para angariar votos, transformou a lógica com que os candidatos devem buscar seus votos.
A possibilidade de realizar mega eventos com a participação de "mega" artistas e a possibilidade de realizar trabalhos de construção de imagem via o uso intensivo, e em escala, de recursos de comunicação tradicionais facilitava o acesso do candidato ao universo do eleitor.

A despeito do tempo da TV continuar a ser o elemento fundamental das campanhas eleitorais, novas frentes de trabalho surgiram. Destaco o uso mais intenso da internet e o que vou chamar de "corpo-a-corpo terceirizado".

A internet representa o futuro das eleições que, combinada com a estratégia do horário eleitoral gratuito, deverá servir como fonte primordial de informações sobre os candidatos, já na próxima década (ou seja, no pleito de 2016), desde que a taxa de crescimento de acesso à rede mantenha-se no ritmo atual.

Outra estratégia que já se mostra como realidade é a idéia do "corpo-a-corpo terceirizado". A gigantesca escala na quantidade absoluta de eleitores, combinada com a restrição para produzir certos materiais de campanha, fará com que a mensagem do candidato, acompanhada dos pedidos de voto, tenha que chegar diretamente ao eleitor, por meio de um interlocutor qualificado e muito bem treinado. Antigamente, o conceito de corpo-a-corpo era definido como aquele contato direto do candidato com os eleitores, os quais incluem o discurso na porta da fábrica as 6 da manhã, o cafézinho magro do meio da tarde, os tapinhas nas costas, apertos de mão, abraços, risadas e demais "xamegos" feitos para os eleitores. Como prevalece a idéia de que não existe ninguém melhor para pedir votos do que o próprio candidato, o objetivo do "corpo-a-corpo terceirizado" seria reproduzir a capacidade de comunicação do candidato em grupos de cabos eleitorais altamente qualificados.

Em muitas campanhas, os "multirões qualificados" utilizarão pessoas com maior grau de escolaridade, melhor capacidade de articulação e amplo conhecimento da realidade política e social das regiões que visitam. Essas pessoas deverão conversar diretamente com o eleitor e, ao fazer isso, comportar-se com o mesmo comprometimento do candidato que representam, ou seja, se o candidato não consegue apertar a mão de cada cidadão pessoalmente, ele deverá tentar reproduzir seu aperto de mão e seu "dedo de proza" em escala. A figura do entregador de panfletos e dos porta estandartes, vulgarmente conhecidos como "seguradores de bandeira" deve ser cada vez menos importante durante as eleições e parte dos recursos economizados em gráficas, brindes, shows e camisetas deverá ser dirigida para a contratação e treinamento das pessoas com o perfil que citei acima.

Se a eleição é convencimento, nada melhor do que articular TV-Internet-conteúdo em ações de marketing que possam transmitir mensagens melhor elaboradas e mais verdadeiras.

Outra tendência interessante, a qual veremos, também, na próxima década é o conceito da "campanha sustentável" ou "eleições limpas". Neste caso não estamos citando a limpeza como honestidade, honradez e ética, mas sim como asseada e ecológicamente correta. Uso de materiais alternativos e papel reciclado, além da restrição a pintura de muros (a tinta possui elementos tóxicos) são algumas das armas que estarão disponíveis nas próximas eleições.

Entre a limpeza ética e a limpeza das ruas eu fico com a primeira, mas se ainda não podemos exigir tanto de boa parte da classe política, ao menos desejamos ver campanhas mais asseadas e comprometidas com a sustentabilidade e com o conteúdo das idéias.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Crônica de um Ônibus que Voa (Parte 1)

Nada melhor do que retomar os trabalhos de nosso blog, este preguiçoso, com um texto leve, porém verdadeiro. Trata-se de uma história real, vivida por alguém que, não se sabe ao certo a razão, sempre atrai para si as situações mais inusitadas.

Quando cheguei ao saguão de embarque do Aeroporto Internacional de Bogotá, percebi que meu vôo seria povoado pela raça de gente mais peculiar do planeta: a nossa! Pés sobre as cadeiras, pessoas deitadas ocupando 3 ou 4 poltronas, gargalhadas estridentes, gritos, palavrões, migalhas de salgadinhos pelo chão e crianças histéricas correndo. Todos os jovens sentados e todos os idosos em pé. Seguramente se tratava de um saguão tomado por brasileiros.

Respirei fundo e disfarcei minha nacionalidade o quanto pude. É que me dá vergonha, entendem?! Pois bem, com o cheiro de chulé pelo ar (brasileiro não consegue ficar mais de 30 minutos em um ambiente como aquele sem tirar o sapato), abri meu livro e tentei me concentrar. Impossível, claro.

Minutos depois a mocinha do sistema de som convidou os passageiros em cadeiras de rodas, idosos e de primeira classe a entrar na fila em primeiro lugar. Todos eles ficaram por último. Ao primeiro som da voz em que dizia algo como: Atenção passageiros do vôo de número 0650, uma turba se lançou sobre a porta de entrada se acotovelando e terminando de pisar nos doces e salgados que haviam jogado no chão minutos antes.

Uma família composta por pai, mãe e 3 filhos chegou primeiro, apesar do mais novinho ter ficado para trás, sua babá, toda de branco, tentou amparar a criança desconsolada. Um casal de meia idade, com a mochila da CVC, era empurrado pela massa, enquanto outra família com pinta de aristocrática se queixava da bagunça; naquele instante percebi outra família, ainda maior tentando organizar seus bilhetes. Paaaaiiiii, seu bilhete está comigoooo! Cadê a Vovó? Gente a vovó sumiu! Caio, devolve meu iPod! Mãe, não acho minha mochila!

Percebi imediatamente que aquelas não eram pessoas, eram personagens.

Finalmente entrei na aeronave e descobri com um certo prazer que meu assento era o primeiro da segunda metade do avião, de maneira em que não tinha nenhum outro assento à minha frente e isso me permitiria esticar minhas longas pernas. Minha satisfação se desfez assim que percebi que os banheiros também estavam na minha frente. Tive o ímpeto de perguntar qual o nome do infeliz que colocou aqueles banheiros justo ali, mas logo percebi que seria inútil.

Tudo bem, vamos voar. Voar? Não, impossível. O avião não sai do solo enquanto todos os passageiros não se acomodarem e essa tarefa é praticamente impossível quando mais de 80% dos habitantes do "obitáculo aeronáutico" têm, em suas bagagens, um passaporte com a palavra “Brasil” impressa na capa. Reparei que a babá de branco estava na primeira fileira, do lado esquerdo, à minha frente. Ela sentou-se, apertou o cinto e respirou fundo, levantando os ombros e fazendo o sinal da cruz. Depois virou-se para a patroa e perguntou se estava na hora da mamadeira. Não, não estava.

O casal da mochila da CVC sentou-se ao meu lado e logo que apertaram o cinto ele lembrou que havia esquecido seus óculos.

Levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, retirou a caixa de óculos, abriu o recipiente, extraiu suas lentes de seu interior, fechou a caixinha, guardou na mochila da CVC, fechou o zíper, colocou-a de volta no compartimento de bagagem, fechou o compartimento, pediu licença e sentou.

A família da vovó perdida resolveu que queriam, todos... vou repetir... TODOS, mudar de lugar. Assim, a mãe trocou com o filho, o pai com a filha mais nova, a filha mais nova queria ficar ao lado da prima, que trocou com o irmão, que cedeu lugar à mãe e foi se sentar junto da irmã mais velha, que já havia trocado de lugar com os tios que queriam sentar no corredor, sendo que as janelas foram ocupadas pelos adolescentes do grupo e, depois de toda a troca, a vovó ficou em pé. Sim, a vovó não sabia mais qual era seu assento e perdera seu bilhete. Uma reunião de emergência foi convocada pelo pai da família e assim todos se levantaram novamente para, em frente ao banheiro, descobrir onde fora parar o bilhete da avó.

Enquanto eu tentava escutar a discussão, o senhor da mochila da CVC se lembrou que havia esquecido de pegar seu livro. Então levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, retirou o livro, fechou o zíper, colocou-a de volta no compartimento de bagagem, fechou o compartimento, pediu licença e sentou.

A babá sorria amarelo para a patroa e perguntava: tá na hora da mamadeira? Não. Não estava. Então o comandante da espaçonave começou a repetir pelo auto-falante que não poderia decolar se os passageiros não se sentassem. As comissárias de bordo corriam de um lado para o outro pedindo para todos se acomodarem. A família da vovó decidiu fazer um sorteio dos lugares e esperar todos se sentarem para saber qual era a poltrona que estava faltando.

Minutos depois todos se sentaram. O avião então começou a se mover e então o senhor da mochila da CVC... bem, vocês sabem. Ele resolveu trocar os óculos que pegara anteriormente por outro de lente para leitura. Então levantou-se, abriu o compartimento de bagagem de mão, retirou a mochila da CVC, abriu o zíper, realizou toda a operação, pediu licença e sentou. Neste momento a comissária, pela enésima vez, pediu para ele e as demais pessoas sentarem.

Então o Boeing da Avianca alcança a cabeceira da pista e inicia a aceleração para seu deslocamento do solo. Quando o avião está em plena aceleração, irrompe pela porta do banheiro o filho do casal aristocrático, segurando as calças e correndo em direção ao seu assento, enquanto a comissária pedia, já com a paciência no limite, para que o moleque sentasse. O avião decola, as luzes estão praticamente todas apagadas. Eu ouço o ruído do trem de pouso sendo recolhido e, em pleno alçar vôo, com a aeronave ainda em forte vertical, aparece a babá com duas mamadeiras nas mãos, fazendo um sorriso para a comissária sentada em uma daquelas cadeiras retrateis da tripulação perguntando se ela poderia esquentar a água.

Definitivamente foi uma das cenas mais inacreditáveis que vi em minha vida. A babá, toda de branco, sorrindo para a comissária, com uma mamadeira em cada mão sendo alegremente sacudidas para que pudessem chamar a atenção e auxiliar na comunicação com a estrangeira que, atônita, arregalou os olhos de uma forma que eu nunca havia visto em minha vida. E a babá dizia: água quente?! Água quente?!

(continua...)

Crônica de um ônibus que Vôa (Parte 2 - Final)

A aeronave levantava vôo, a babá de branco dobrava o joelho direito para compensar a inevitável força da gravidade que empurrava seu corpo para o fundo da aeronave e, naquele momento, rasgando todos os manuais de atendimento ao cliente, a comissária, quase aos gritos, mandou a babá retornar ao seu assento. Incrivelmente, quando estava prestes a se sentar novamente, a babá deu meia volta, foi em direção à comissária e perguntou sorrindo: mas depois você esquenta a água, né?!

Deu para ver as veias dos olhos da comissária encharcadas de sangue pulando em direção à babá!

Então o senhor da mochila da CVC pensou alto: hiiii... esqueci meus comprimidos. Simultaneamente, eu, sua esposa e a comissária gritamos: Depois você pega!!!!

Um pouco sem graça com meu destempero, enfiei minha cara no livro que estava lendo: “Uma Breve História do Mundo”. Seu autor descreve, entre outras coisas, os avanços da humanidade em milhares de anos de história. Descrente, adoraria vê-lo sentado em meu lugar observando aquela bagunça. Duvido que falaria em desenvolvimento humano!

O avião atinge sua velocidade de cruzeiro, as luzes se acendem, a babá volta a pedir água quente, o senhor da CVC levanta-se para buscar seus comprimidos e as pessoas todas já circulam, só de meias (claro!) pela aeronave. A vida voltou ao normal.

Tento dormir. Há um ruído estranho à minha frente. Ele se repete com freqüência, mas meu sono não me deixa localizá-lo. Meus olhos lutam, cheios de areia, meu sono é insaciável e meu auto-controle diminui. Não posso dormir, nem ficar desperto. Os ruídos são intermitentes. Então aproveito a presença da comissária e peço um café. Prontamente atendido, consigo finalmente localizar a origem do barulho que não me deixava dormir: a porta do banheiro! Sim, a porta do banheiro fora freneticamente testada durante os primeiros minutos de vôo. Reparei que todos queriam entrar no cubículo.

Abro uma nova fonte de observação. Como o movimento era intenso naquela área, fecho os olhos e começo a contar quantas vezes a porta foi aberta, fechada e travada. Calculei que em um espaço de 30 minutos o dispositivo do trancamento da porta foi acionado 23 vezes. Multiplico esta quantidade por dois (são dois banheiros), depois pelas horas de vôo, divido pelo número de passageiros e chego a conclusão que, mantido o ritmo inicial, cada pessoa teria que ir 2,9 vezes ao banheiro até o final da viagem. Descontando as crianças a bordo que usavam fraldas e a vovó perdida que provavelmente também vestia o mesmo aparato, porém na versão geriátrica, cheguei à estarrecedora conclusão de que cada passageiro iria ao menos 3 vezes ao banheiro ao longo do percurso. Então me perguntei: que diabos colocaram na porcaria da refeição a bordo???

Mas o problema não é a comida, mas sim esse “faniquito” descontrolado que brasileiro tem em se mexer. Qual é a dificuldade de se manter sentado? Qual o problema em permanecer tranquilo, lendo um livro, apreciando uma bebida e calçado? Mas não! Tem que correr no corredor, contar piadas em alto e bom som, fazer guerra de bolinha de meia e reclamar que o país está uma bagunça!

Em meio a toda essa balbúrdia o pai da família aristocrática encontra-se em frente ao banheiro com seu colega, o patriarca da família da vovó. Este reclama que tem que pagar propina ao governo para fazer suas obras. Ele é engenheiro, mas não teme em construir uma imagem ruim de sua empresa publicamente. Coincidentemente o outro também é engenheiro e assim ambos constroem um diálogo pouco concreto e em blocos, sendo que cada empreendimento intelectual de um, acaba sendo incorporado pelo outro, ainda que a metragem dos raciocínios seja mínima.

Nessa linha, o aristocrata solta a seguinte tese: o problema da queda da Bolsa de Valores de São Paulo é esse monte (sic) de taxistas que agora compram ações! Esperem! Silêncio Total! Vocês leram isso?! O problema da queda da bolsa é dos taxistas! Gênio! Grandioso! Sublime! Jamais teria pensado em uma construção intelectual tão precisa, tão bem amalgamada com um raciocínio concreto de primeira linha e fundição baseada na melhor matéria prima! Estava lá a resposta para minhas indagações! Consigo até ver a Fátima Bernardes, fazendo cara de preocupada enquanto lê no prompt: “O Banco Central anunciou medidas para conter a entrada dos taxistas na Bolsa de Valores. A partir da próxima semana a categoria poderá estacionar seus veículos no máximo a 300 metros da entrada da porta principal. Estão proibidos também de operar na Bolsa e comprar ou vender ações de quaisquer tipos. Com esta medida o governo acredita que a economia brasileira irá suportar a saída de investimentos e, ao mesmo tempo garantir a estabilidade dos mercados mundiais.” Aí vem o comentarista: “É verdade, após sofrer fortes quedas, a Bovespa pretende impedir a patuléia da classe média de investir em ações. Tudo começou com os taxistas, mas os analistas já se preocupam com a chegada de outras categorias, como as de lojistas, profissionais liberais e aposentados. A consultora financeira “Gold Money Wealth” fez uma interessante pesquisa em que dizia que pobre e classe média tem mesmo é que pagar impostos, comprar geladeira nas Casas Bahia, comer Maçã do Amor no Parque da Mônica e deixar os investimentos da Bolsa de Valores para os ricos”. É o fim do mundo.

Neste momento, o piloto anunciou que iniciara os preparativos para o pouso. A viagem chega ao fim com um efusivo aplauso dos passageiros. Tudo parece novamente tranqüilo e normal. A família aristocrática se arrumou no banheiro e saiu toda perfumada. O senhor da mochila da CVC perdeu os óculos dentro do avião.

Finalmente saio da aeronave, mas minha mala demora para chegar. Todos se vão. Menos eu. Olho em volta e por um vidro do saguão vejo um fio de luz da manhã irrompendo pela madrugada. Finalmente minha mala azul chegou. Retiro-a da esteira lentamente. Vou em direção à saída, mas algo me chama a atenção. Olho para trás e lá estão elas.

A vovó, provavelmente esquecida por sua família, toma leite em uma mamadeira amparada pela babá de branco. As duas estão descalças rodando em cima da esteira de bagagens de número 4.

Lá fora pego um táxi e puxo conversa com o motorista. Tento falar sobre futebol, mas ele só quer conversar sobre a Bolsa de Valores.